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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o ditador da China, Xi Jinping, durante a reunião do G20 em 2016.|
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o ditador da China, Xi Jinping, durante a reunião do G20 em 2016.|| Foto: Juan Carlos Hidalgo/EFE

Apesar do título inferir que vamos abordar um tema esotérico ou religioso, o artigo trata de forças materiais e bem presentes. Assim como as forças espirituais, muitos não conseguem vê-las, mas sentem sua presença. Do que estamos falando? Poder, dinheiro, armas e controle – o que movimenta a política internacional.

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo se dividiu. De um lado, os Estados Unidos e parte da Europa, que compunham com seus aliados o bloco ocidental, livre; do outro, os países comunistas alinhados à China, Rússia, Coreia do Norte e Cuba. Era o início de um mundo bipolar, por assim dizer. 

Após a queda do muro de Berlim, em 1989, cai o bloco comunista e os Estados Unidos assumem a hegemonia. Mas que domínio era esse que os americanos exerciam? Domínio completo, econômico, político e bélico. Os anos 90 foram um momento unipolar, de hegemonia única e de influência do mundo sem precedentes.   

Mas isso iria mudar na virada do século.

A realidade do terceiro milênio: O cientista político Ian Bremmer, especialista em política externa americana, explica muito bem os fenômenos que começam a acontecer no século 21. Bremmer afirma que o mundo multipolar, que está se desenhando por meio do BRICS, não deve se sedimentar integralmente, mas formar uma síntese do que tínhamos no passado com novas forças, projetadas no futuro.  

Essa síntese consiste em três forças, ou pilares, agindo independente uma da outra:

1 - Defesa: Unipolar. Ou seja, prevalece a hegemonia dos EUA. Ao contrário do bloco da União Soviética, que implodiu, e Rússia, que se viu incapaz de continuar financiando suas vastas forças militares, o mesmo não aconteceu com os EUA.  

Mesmo não sendo mais a polícia do mundo, o escopo de ação bélica norte-americana continua vasto e ativo. Portanto, há uma continuação do domínio unipolar dos Estados Unidos no campo bélico e de defesa. Os norte-americanos mantêm o poder hegemônico, sem rivais, como se estivessem no período após a queda do muro de Berlim. 

Apesar de a China, a Rússia e a Índia terem aumentado seus investimentos em defesa significativamente, as iniciativas não têm se materializado o suficiente para competir com os Estados Unidos no momento, que continuam a exercer o monopólio da segurança planetária de forma única, sem duopólio ou multipolarismo; 

2 - Economia: Multipolar. Na questão econômica a situação é diferente. É possível vislumbrar um mundo multipolar. Novos polos econômicos começam a rivalizar com a economia norte-americana e da Europa como um todo, isso é evidente. 

Rússia, China, Índia, Oriente Médio e América Latina hoje comandam uma parcela maior do PIB mundial que EUA e Europa. Nesse sentido, o mundo pode se tornar multipolar economicamente. Antes, os Estados Unidos dominavam a produção e os serviços, inclusive os do setor financeiro. Agora a oferta é bem mais diversificada e multirregional. Mas não para por aí. 

Diversos mercados consumidores também se desenvolveram em polos de alta atividade humana, gerando renda, poupança e sistemas financeiros independentes do consumidor norte-americano e Europeu.  

3 - Tecnologia: Bipolar. Ou seja, há dois polos. Este pilar define praticamente tudo, inclusive gera efeitos políticos e sociais muito fortes, pois é no setor tecnológico que o mundo se revela bipolar: há tecnologia do Ocidente e tecnologia Oriental dominada pelos países do eixo dos BRICS

Surgem novas ferramentas de busca, novas redes sociais, novos sistemas de controle, de telecomunicação, de segurança, de monitoramento, de protocolos de cobrança e fiscalização na área financeira e bancária. 

Países politicamente fracos sofrem com a influência direta de tecnologia de um desses blocos ou dos dois ao mesmo tempo. Os efeitos dessa competição bipolar já se materializam em políticas públicas de controle, de alternativas para lavagem de dinheiro, prática de corrupção, desvios dos controles de segurança e movimentação financeira etc. 

A tecnologia do lado ocidental busca a implementação de uma agenda política, enquanto a do lado oriental busca mais controle. É um combate digital, tecnológico, no qual se encontra a maior parte dos países do mundo, mesmo aqueles que desenvolvem tecnologia própria.  

Podemos resumir a geopolítica mencionada acima em um breve quadro explicativo:

Elaborado pelo autor
Elaborado pelo autor

E o Brasil? Compreender essas três dinâmicas no cenário geopolítico mundial: defesa, economia e tecnologia, permite ao leitor entender os efeitos desse jogo político e a encruzilhada em que se encontra nosso país. 

O Brasil, no setor de defesa, é constantemente subjugado pelos Estados Unidos, pois não sabe ou pode desenvolver sua indústria de defesa e perde ano após ano seu poder de barganha internacional. 

Na economia, o Brasil é hoje um dos polos econômicos mais importantes e nitidamente interessa a vários parceiros mundiais, apesar de ter agido de forma mais independente nos últimos 40 anos. Na tecnologia, o Brasil é território de disputa dos grandes titãs, assim como é a Ucrânia

O Brasil hoje é o campo em que se trava uma batalha pelo controle da mídia, do território, das plataformas digitais, dos recursos minerais, dos sistemas financeiros, dos consumidores e da política

Que diferença faz saber que são essas as forças ocultas em ação no nosso país? Toda. A liberdade começa com a consciência.    

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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