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Manifestação em Curitiba pelo impeachment de Dilma Roussef, realizado em 2016.
Manifestação em Curitiba pelo impeachment de Dilma Roussef, realizado em 2016.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A pergunta que tem pairado sobre os movimentos em todo o Brasil nesse momento é se eles devem ou não sair às ruas no dia 4 de junho.  Sou repreendido por seguidores desde o início do ano, pois sempre sugiro em cada entrevista, artigo, postagem e indagação de ativistas que a sociedade deve voltar às ruas.  Muitos têm medo e não confiam em mais nada, e com toda a razão; as decepções foram muitas e muito profundas e a direita não fez a devida catarse e autocrítica para poder avançar confiante. Só que os planos do inimigo não esperam, portanto, a minha resposta é sim, temos que aproveitar todos os momentos para agir contra o plano vingativo e totalitário do atual desgoverno. Por isso, vamos fazer algumas considerações.

Primeiro, vamos ao coração do porquê sair às ruas. Os deputados e senadores têm poder de influência limitado e o governo tem poder de compra de parlamentares ilimitado.  Na Câmara há aproximadamente 120 deputados da oposição e 140 da esquerda radical do governo.  Os outros 250 deputados são os “negociáveis” do Centrão.  Se não receberem nenhuma pressão da opinião pública, irão se vender com “consciência” tranquila, apesar de saberem que os planos do Executivo são os piores possíveis.  Sim, há parlamentares que fazem isso há vários mandatos e não se sentem mal, pois não têm vínculos com seus eleitores, que por sua vez não têm noção de quem elegeram.

Segundo, este governo está fraco, muito mais que o governo Dilma. Vamos lembrar que após sua eleição, ela não teve paz.  Foram dois anos de mobilização, e quase toda semana havia protesto contra seus desmandos. É fato que os grupos que hoje sustentam o governo são outros, com mais poderes e menos responsabilidade em usá-los, mas eles não detêm os mais importantes: moralidade, popularidade e legitimidade, e não há como introjetá-los na sociedade com propaganda.  A indignação será constante até que o governo caia, saia ou seja totalmente neutralizado politicamente, a ponto de não representar mais risco para o país e para a sociedade.  Como governos como este geralmente tomam medidas tirânicas, o tempo desfavorece a sociedade que não se manifesta.

Só que os planos do inimigo não esperam, portanto, a minha resposta é sim, temos que aproveitar todos os momentos para agir contra o plano vingativo e totalitário do atual desgoverno

Terceiro, o número de pessoas nas ruas não importa nesse momento, o que vale é iniciar o movimento e manter a constância.  Essa é regra comprovada pela experiência de 2014 a 2016 e que culminou no impeachment de Dilma, e sempre se fez valer em diversas referências de outros países, notadamente os protestos na Sérvia, em 2000; do Egito, a partir de 2011; e da Ucrânia, em 2013.  Todos os líderes de movimentos de 2014 no Brasil trocavam ideias e aprendizados dos episódios em que a população se revoltou contra seus ditadores. Não há por que ser diferente mais uma vez.

Quarto, políticos eleitos não são líderes de movimentos sociais, a sociedade é que deve liderá-los. Não há como estabelecer legitimidade se a mobilização for coordenada por políticos e partidos, como a esquerda sempre faz, sem pudor.  Quem se recorda da época dos “mortadelas”, suborno que a esquerda usava para falsamente arrebanhar massa de manobra e determinar o que a sociedade queria? Pois é.  Os políticos devem atender ao chamado da sociedade, isso sim.  É bom lembrar a todos os que lideram grupos ativistas: os movimentos de 2014 a 2016 não contaram com nenhum político ou partido. NENHUM.  Quem estava à frente  eram pessoas indignadas da sociedade.  Não caiam nunca no erro de delegar essa posição de liderança de movimento social para os políticos.

Quinto, não é preciso caminhão nem grande aparato para ir às ruas.  Vários atos de 2014 a 2016 não envolviam essas parafernálias.  Há vigílias, agrupamentos com bandeiras, megafones e palcos móveis tão ou mais efetivos.  O símbolo de protesto vale tanto quanto o protesto em si.

Sexto, depois de ver como o atual governo é nocivo, quem pregou o voto nulo causou prejuízo e carregará o ônus de fazer todos conviverem com as consequências nefastas até a saída desse desgoverno.  Não se tem certeza de que algum dia os responsáveis reconheçam seu erro, mas certamente não foram essas pessoas que iniciaram as discussões sobre o dia 4, mas os deputados da oposição em conjunto com vários movimentos. A falta desse detalhe na divulgação gerou ruídos e equívocos com ativistas em todo o Brasil.

Sétimo, os movimentos de direita precisam se organizar. A direita conta com apoio expressivo da opinião pública, de influenciadores nas redes sociais, um ou dois partidos políticos, uma bancada crescente de parlamentares eleitos e alguns veículos de comunicação.  Mas ainda não há movimento social independente organizado.  É fundamental entender o que é isso e como isso se distingue dos outros pontos de apoio.  Há inúmeros “think tanks” no Brasil e poucos “action tanks”; organizações sociais capazes de canalizar pautas da sociedade conservadora para influenciar, mobilizar e cobrar seus representantes.

Por fim, precisamos nos mobilizar por propostas.  O Brasil está longe de ser um sistema perfeito.  Ao contrário, caímos em uma falência completa do estado de direito e rumamos firmes para as mãos da censura e do autoritarismo.  Precisamos de mobilização para reverter esse quadro e começar com a remoção ou, no mínimo, a limitação do atual governo. Ao longo de 10 anos de ativismo, os movimentos aprenderam que não devem ir às ruas por uma pauta vaga.  Várias propostas e políticas são válidas neste momento e merecem engajamento popular: reforma do judiciário, reforma do sistema eleitoral, apoio à CPI de Abuso de Autoridade, contra o arcabouço fiscal, a favor da CPI do MST etc. A principal delas é a soberania popular: regulamentar o recall de mandato, iniciativa popular, referendo e plebiscito, assim como candidaturas independentes. A elas, somam-se as ajudas pontuais de que os parlamentares precisam para poderem vencer.  E é por isso que o dia 4 de junho é fundamental.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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