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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, durante instalação da Comissão Nacional para a Coordenação da Presidência do G20, no Palácio do Planalto.|
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, durante instalação da Comissão Nacional para a Coordenação da Presidência do G20, no Palácio do Planalto.|| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

É importante entender a causa e a consequência dos eventos. O Ministro Flávio Dino, do STF, suspendeu as emendas individuais, que são as alocações orçamentárias dos deputados e senadores nos estados e municípios.

Na sequência, o centrão iniciou um processo de rever as decisões monocráticas do STF. Há dois erros graves nesse entrevero: os parlamentares não deveriam estar viciados em emendas; e o STF não deveria estar viciado no poder monocrático individual de cada ministro. Infelizmente, tanto o Legislativo quanto o Judiciário estão, respectivamente, em falta com suas funções constitucionais.

O imbróglio: tudo começou quando o ministro Flávio Dino suspendeu o pagamento das emendas PIX, que permitem a destinação direta de recursos federais a estados e municípios sem controle e fiscalização. Até aí, a decisão procede, pois ninguém pode ser favorável à falta de transparência, mas a decisão atingiu a maioria dos deputados e senadores do centrão, que vivem dessas emendas. Podia ficar pior, e ficou.

A nova decisão de Dino suspendeu também as emendas impositivas e afetou todas as emendas individuais e também as de bancada estadual e de comissões. Ou seja, até as emendas transparentes foram bloqueadas.

O vício nas emendas: era uma vez um Poder Legislativo que deveria legislar e monitorar o poder executivo tal qual definido na Constituição. Mas aí ele tornou obrigatórias as orientações do uso do orçamento federal de cada bancada estadual e mais tarde tornou obrigatórias as emendas de cada deputado e senador individualmente.

Embora seja bom o Congresso controlar todo o orçamento, ter acesso a recurso público, direto na veia, na forma de emendas, se tornou a droga para os parlamentares invisíveis do centrão, que não têm opinião, representatividade ou função no debate federal.

Em outras palavras, as emendas são a moeda que elege os que não deveriam se eleger e essa distorção perverte a função do congressista tornando-o em um “vereador federal”.

Vício nas decisões monocráticas: O STF, por sua vez, age sempre no erro quando permite decisões monocráticas de seus juízes. Frequentemente somos expostos aos abusos políticos dessa liberalidade de um ministro do STF.  

E quanto aos abusos de natureza econômica? Deles pouco se fala, mas ter o poder de, monocraticamente, aplicar ou aliviar multas em grandes empresas, emitir liminares e pareceres legais a grupos de interesse podem se tornar um grande negócio. Sabendo disso, o Congresso resolveu reagir.

A Câmara e o Senado, na última quinta-feira, dia 15, protocolaram documento que pede a suspensão dos atos de Flávio Dino sobre as emendas parlamentares, por interferência indevida no Poder Legislativo, mas no dia seguinte o STF manteve a decisão do ministro, é claro. Agora a Câmara dos Deputados espera avançar com a PEC que acaba com as decisões monocráticas dos juízes - bem no estilo “se mexer no meu, eu mexo no seu.”

Quem perde no confronto desses dois viciados certamente é a população, que paga por todo esse espetáculo dantesco no crepúsculo da sétima república

Como acabar com isso? Incrível notar que o Congresso tem se movimentado quase que exclusivamente em torno dessas emendas e não por perder competência legislativa para o STF. Mas há uma saída desse círculo vicioso. 

Uma vez que o Poder Executivo se arroga arrecadador e distribuidor de recursos, uma opção seria transferir todo o orçamento para o Congresso, acabar com emendas individuais e criar critérios para emendas de bancada estadual. 

Pode até parecer que colocamos mais lenha na fogueira para queimar, mas o debate sobre orçamento no Congresso é muito mais aberto e amplo, envolve os destinos e os beneficiários dos recursos. Nenhum partido tem maioria, portanto, não existe chance de se orientarem recursos desproporcionalmente para um grupo ou outro, ficando a destinação mais dispersa e diversa.

Nesse sentido, voltamos a lembrar o sistema parlamentarista. Nos Estados Unidos, por exemplo, o orçamento é todo decidido pelo Congresso Nacional. O Poder Executivo sugere, mas é o Legislativo que faz a distribuição. 

Aqui a arrecadação é toda do Poder Executivo, e o gasto também! Precisamos separar essas duas entidades e suas respectivas funções. Quem arrecada não pode decidir como gastar e vice-versa. 

Seria uma medida bem-vinda tirar o orçamento do Executivo e levar para o Congresso, apesar de serem necessários alguns ajustes, mas mesmo assim seria um avanço contra qualquer plano totalitário do Executivo.

Dois errados que fazem um certo? A briga do centrão com o governo pelo orçamento era inevitável, uma vez que o governo está com rombo fiscal crescente, gastando só com seus camaradas, e o centrão tira recursos desse esquema para colocar em outros esquemas nos quais o governo não participa, nem se beneficia. O STF, nesse contexto, apareceu para ajudar o governo, afastar o centrão do dinheiro e assumir a briga.

Agora o confronto é para ambos manterem seus vícios e não para consertarem o que está profundamente errado no nosso estado de direito.  

Pode ser que o caminho certo caminhe pelas vias erradas. Como em toda briga, todos sabem dizer como ela começou, mas ninguém sabe dizer como vai acabar. 

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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