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Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Trump desafia o deep state

O ex-presidente americano Donald Trump (Foto: EFE)

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O ano de 2024 pode ser cenário para o evento mais importante desde o início deste século, ao menos para os países do Ocidente: o embate entre um cartel mundial, dono de vários sistemas de governo, versus a opinião pública norte-americana, capaz de eleger alguém para desafiá-lo. 

Mas que cartel mundial é esse que quer controlar o mundo? As empresas de mídia? Não, mas fazem parte. Grandes bancos? Não, mas fazem parte. Soros seria o comandante desse cartel? Não, mas faz parte. Então deve ser Schwab, presidente do Fórum Econômico Mundial. Também não, mas faz parte. Então, deve ser algo maior, como os fundos de investimentos Black Rock, Vanguard e State Street, que juntos comandam trilhões de investimentos em todo o mundo, certo? Também não, mas fazem parte. Ah, então deve ser a ONU? Não, mas faz parte.  

Na verdade, o cartel não é uma instituição fechada, como muitos pensam, mas sim várias partes visíveis de um movimento ideológico que influenciam instituições e compartilham uma visão comum. Cada agente do cartel implementa as partes que lhe cabem e desenvolve táticas em seus segmentos de atuação para implementá-las.  Esse entendimento possibilita compreender a grande frustração ao tentar nomear um chefe ou uma única organização que comande todo o conluio pelo controle dos países e de seus povos, pois este não existe. Também é perceptível que essa nova ordem não tem nenhuma piedade quando um de seus membros resolve abandonar os objetivos do cartel e trair os objetivos do “movimento”.  

Quem comanda o cartel: um movimento 

A nova ordem mundial é um movimento político, ideológico, social, ecológico, econômico que visa atingir a singularidade (união, convergência). Usa diversas sub-ideologias, cada uma em uma esfera de atuação, para reforçar a necessidade de comando de alguma agência central. Claro que o objetivo de centralizar quase nunca é manifestado, apesar de estar cada vez mais óbvio e visível. Essa estratégia de influência global é conhecida dos movimentos de esquerda, pois eles fazem isso há décadas em nível local: segmentam a sociedade em grupos, criam narrativas convincentes para cada um deles e convergem apoio político a um só candidato ou um só partido.  

É limitado pensar que o movimento visa criar um poder central para exercer o controle coercitivo direto das populações. Essa ideia pode até estar no escopo de possibilidades futuras, mas os mais experientes sabem que tal organização só daria certo se as sociedades do mundo vivessem em caos e pedissem por um poder externo global para salvá-las. Essa organização já deveria existir antes para assumir o controle durante “o caos mundial”.  Por mais que pensemos ser a ONU a exercer essa função - sem mencionar a impossibilidade de que o mundo todo entre em caos - ela está longe de poder assumir o controle sequer de um só país, quanto mais de todo o mundo.  

Na verdade, há outras maneiras mais eficientes de exercer controle que não envolvem a forma direta e visível, que já está sendo utilizada: 

  1. Influenciar e convencer as sociedades a se comportarem em total sintonia com as pautas globais sem que nenhuma tomada de poder seja necessária ou
  2. Controlar governos que tenham burocracias com poder coercitivo o bastante para impor sua agenda global.  

Bingo!

É para essas duas estratégias que convergem mídia, universidades, bancos, fundos de investimento, governos e burocracias. As entidades do cartel, partes do “movimento”, são instrumentos de influência e controle, cada um no seu segmento, à sua maneira, para coagir a sociedade e suas organizações civis. Há cada vez mais instituições que fazem parte do movimento e, por consequência, sujeitam-se ao controle do Cartel.  

A Agenda 2030, por exemplo, é uma agenda política para instituições públicas no mundo, enquanto o ESG (Ecologia, Sustentabilidade, Governança) é agenda política para instituições econômicas. Assim, o movimento visa não só dominar a opinião pública e a educação, alterando a percepção do ser humano acerca de sua própria existência, mas também codificar como a sociedade deve agir, organizar-se e submeter-se às regras de seus governos.  

Cada país com seu “deep state 

O que torna a implementação do controle indireto nos países possível é o “deep state”, o mecanismo, o sistema, o conjunto de organizações que influenciam e comandam, por sugestão ou coerção, os governos das sociedades do mundo. 

Cada país tem seu deep state e cada um deles escolhe quem pode liderá-lo. Um deep state não é igual ao outro, tem interesse próprio, paralelo aos dos representantes eleitos, e todos os deep states estão sujeitos a corrupção por interesses internos e externos. É importante entender isso para acompanhar a lógica que vem a seguir.  

A constituição dos EUA não criou um deep state.  Ao contrário, ela limitou os poderes centrais de governo. Thomas Jefferson dizia, “todo poder central, mesmo pequeno, tende a crescer.” Por isso a constituição dos EUA é extremamente difícil de ser alterada. Entretanto, ela falhou em evitar a criação de um deep state. Como o deep state dos EUA foi criado, então?

Por crises - falsas e reais - e por leis que vieram supostamente resolver essas crises.  Mas não por emendas na constituição. Ou seja, no modelo constitucional dos EUA, agências de governo federal norte-americano como FBI, NSA, Forças Armadas, CIA, Guarda Costeira e todas as estatais federais, ONGs e mídias podem ser encerradas, ou no mínimo severamente limitadas por uma canetada do presidente. Em vista dessa situação percebe-se o pânico do deep state norte-americano diante de um candidato anti-sistema. 

O deep state norte-americano é também o mais influente do mundo.  Daí percebe-se também o pânico das instituições do cartel, que usava o deep state americano para exercer influência e controle sobre o deep state de outros países. Confuso? Basta imaginar uma pirâmide em cujo topo há um movimento ideológico, abaixo um cartel de instituições, seguido dos deep states e na base há as economias e populações mundiais.   

E aqui, como fica? 

Muitos países da América Latina criaram seus deep states em constituição. No Brasil e na Argentina, por exemplo, o presidente pode somente expor o problema do deep state para opinião pública, mas não pode eliminá-lo com a facilidade que o presidente dos EUA pode eliminar o seu. 

No Brasil, na Argentina e em vários outros países da América Latina temos nosso deep state, nosso mecanismo, constitucionalizado para ser, a priori, permanente e revogável somente por emenda constitucional pelo Congresso. Ou seja, entra governo, sai governo, mas nosso deep state está assegurado. 

Veja quantos passos atrás estamos em nossa capacidade de limitar nosso deep state e o quanto estamos vulneráveis e expostos, de forma permanente, às agendas de toda sorte de agente do cartel. Em outras palavras, o sistema no Brasil, Argentina e demais da América Latina estão mais blindados contra candidatos anti-sistema que nos EUA. Isso é muito ruim. 

Em 2024 os EUA podem eleger um presidente anti-deep state com real efetividade. Se isso se materializar, os políticos anti-sistema ao redor do mundo terão mais chances de representar suas populações.

Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

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