Custo de produção e preço das terras sobem, mas o preço da soja no mercado internacional tende a não acompanhar esses aumentos, aumentando os riscos da atividade agrícola
No início desta safra, visitando um grupo de produtores de soja no oeste do Paraná, me deparei com um fato inusitado: há 20 anos atrás na safra 1997/1998, esses agricultores colheram 150 sacas por alqueire, aproximadamente de 3,7 toneladas por hectare, e na safra passada, 2017/2018, mesmo com a evolução tecnológica no campo, obtiveram a mesma produtividade. E o pior: me pareceu que a pesquisa, a assistência técnica e as empresas ali presentes não estavam preocupadas com a estagnação dessa produtividade. Algo de errado não está certo!
Para qualquer modelo de negócio, a produtividade é um dos termômetros utilizados para medir o sucesso de uma atividade, e no agro não é diferente. Embora a produtividade de muitas lavouras no país esteja acima da média nacional, que é de aproximadamente 3 toneladas por hectare, se faz necessário questionar o modelo atual de produtos e serviços na agricultura e entender que o aumento da produtividade é a solução mais plausível para a prosperidade do negócio rural.
Em primeiro lugar, o custo de produção de soja vem subindo ano a ano. O valor de insumos como fertilizantes, sementes, inseticidas, como também óleo diesel, frete e máquinas, mais que dobrou na última década. Adicionalmente, a mão de obra no campo está cada vez mais escassa e os gargalos logísticos no Brasil se agravam safra após safra.
Além disso, décadas atrás o preço da terra, especialmente no Mato Grosso e na região do MATOPIBAPA, compreendendo os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia e Pará, era irrisório se comparado aos dias atuais, custando menos de R$ 500 por hectare, o que possibilitou aos agricultores aumentar suas áreas de cultivo, ganhar escala na produção, diluir custos e aumentar a rentabilidade. Hoje, há regiões no Paraná onde o valor de 1 hectare de terra pode ser comercializado a 2 mil sacas de soja, pouco mais de R$ 140 mil, inviabilizando a expansão de áreas de cultivo por boa parte dos produtores.
Evidentemente, não se pode negar que nós agricultores estamos em um ciclo de preços remuneradores na comercialização de soja nos últimos anos, e que a partir de informação técnica de qualidade, gestão e planejamento, a sojicultura brasileira tem-se revelado um ótimo negócio. Porém, o aumento na produtividade da oleaginosa torna-se estratégico, num primeiro momento, como oportunidade de grandes ganhos, e depois, como prevenção para futuros ciclos de preços mais estáveis em função da previsibilidade dos estoques mundiais de soja, sobretudo com auxílio da tecnologia em países como China e Índia.
Atividade em risco
Em outras palavras, o custo de produção sobe, o custo da terra sobe, e o preço da soja no mercado internacional tende e a não acompanhar estes aumentos, reduzindo anualmente a lucratividade do sojicultor e aumentando os riscos da atividade agrícola. Por isso, produzir mais na mesma área, além de ser estratégico e sustentável, é objeto de segurança da empresa rural.
Claramente, aumentar a produtividade de uma lavoura de soja é algo complexo e depende de inúmeros fatores, sobretudo climáticos, de solo, do nível tecnológico e da adoção de boas práticas agrícolas por parte dos produtores. Sistemas de produção necessitam de ajustes, o plantio direto na sua essência é pouco praticado e o volume atual de informações que chegam até a porteira da fazenda é tão grande que filtrá-las tornou-se uma virtude para poucos. Mas isto não deve ser uma preocupação exclusiva do pessoal da roça! A pesquisa e as empresas produtoras de insumos podem colaborar de forma substancial neste processo.
O papel da pesquisa agropecuária brasileira é indispensável para gerar tecnologias e difundir conhecimento prático ao homem do campo. Porém, é preciso ir além. Embora a ciência agronômica tenha contribuído e muito para que desenvolvêssemos as tecnologias para o sistema de produção de soja, atualmente não avançamos na fronteira do conhecimento e as pesquisas pararam no tempo, tanto pela escassez de recursos financeiros quanto pela falta de foco no produtor.
Soma-se a isto o fato de que, infelizmente, ainda são poucas as empresas do agro que perceberam que seus produtos tornaram-se commodities, e estratégias comerciais pautadas única e exclusivamente em preço e produto não funcionam mais. Vender um “programa completo de nutrição foliar” sem conhecer as características químicas do solo ou “soluções integradas de sementes e proteção de cultivo” que no final das contas não integram nada, não prendem mais a atenção do produtor rural, tampouco trazem ganhos em produtividade. O grande diferencial está na proposta de valor fundamentada no atendimento personalizado e na prestação de serviços aos agricultores. Ou seja, o insumo é o meio e não o fim. Vejo esta expectativa ainda hoje nos olhos do meu avô de 87 anos.
Diante disso, pesquisa e empresas do agro têm enorme responsabilidade na busca por maiores produtividades de soja, e devem atentar-se que ao final do dia, quem paga as contas de toda cadeia produtiva do agronegócio é o produtor rural, e o interesse no aumento da produtividade nas lavouras brasileiras de soja e de qualquer outra cultura como algodão, milho, feijão, café, cana de açúcar, entre outros, evidentemente, deve ser de todos nós.
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