A delegação paranaense que disputa o 72º Campeonato Brasileiro de Boxe Masculino a partir deste sábado (9), em Salvador, tem 18 membros ao todo.
Enquanto sete atletas competem na categoria elite (18 a 40 anos de idade), outras sete promessas lutam entre os juvenis (16 e 17 anos). Além deles, cinco treinadores também acompanham a equipe na principal disputa nacional da nobre arte.
De paranaense, contudo, a comitiva só carrega o nome. O Luta Livre apurou que nenhum dos representantes classificados pela Federação Paranaense de Pugilismo (FPrP) é nascido ou reside no estado. Identificação zero.
Jardel Barbosa, da classe mosca-ligeiro (até 49 kg), é de Salvador, mas defendia o Espírito Santo até o ano passado. Mesmo caso do baiano Carlos Rocha, ex-campeão brasileiro no peso-galo (até 56 kg) em 2015. Ele nunca pisou no Paraná.
Já o peso-mosca (até 52 kg) Andres Gregório Aragão é paulista de Guarulhos.
Os outros quatro “paranaenses” na categoria elite são capixabas. José Carlos Brito disputa a classe peso-pena (até 60 kg), enquanto o meio-médio (até 69 kg) é Hiago Negrelli.
O grupo ainda tem o médio (até 75 kg) Lucas Gomes e o pesado (até 91 kg) Mateus Lopes.
Federação de aluguel?
Fundada em 1968, em Londrina, a FPrP é filiada à Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) e tem como propósito, segundo o artigo 4 “a” de seu estatuto: “administrar, fiscalizar, difundir, incentivar e jurisdicionar a prática do boxe formal, profissional e não-profissional do estado”.
Formado em Educação Física, Cesar Augusto Barrison Pereira, ex-diretor técnico da entidade, é o atual mandatário do corpo que mais deveria fomentar a nobre arte no estado.
O Luta Livre tentou, sem sucesso, contato telefônico com Cesar Augusto. Pelo aplicativo WhatsApp, ele disse que estava em São Paulo para pesquisa de mestrado e indicou o técnico e chefe da delegação Adailton Santos para “prestar todas as informações da equipe”.
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Santos é um treinador respeitado no mundo do boxe. Ex-lutador profissional, o baiano exerce o cargo fora do ringue desde 1991. Há 11 anos, no entanto, ele vive em Vitória-ES, onde até o ano passado liderou equipe capixaba de boxe.
Questionado sobre a ausência de paranaenses na delegação para o Brasileiro, Adailton apontou a questão técnica como explicação.
“Até o presidente da confederação nos auxilia [sic] a não levar atletas que não tem nível. Alguns técnicos reclamam, mas para uma competição que têm atletas de nível olímpico, de Mundial, de Pan, é um risco levar alguém que não tem um nível no mínimo excelente. Pode tomar um golpe e ficar lesionado”, alega.
O técnico, aliás, ressalta que um atleta paranaense poderia, sim, estar na seleção. Entretanto, abdicou da vaga para disputar o Torneio Sul-Sudeste, classificatório para o Brasileiro, por Santa Catarina.
Na última edição do campeonato, em novembro, em Balneário Camboriú, os dois primeiros colocados nas categorias até 49 kg e +91 kg garantiriam-se na disputa nacional, além dos três primeiros nas outras categorias.
Cada estado tem autonomia para inscrever seus atletas no classificatório, garante a CBBoxe. No Paraná, por exemplo, houve torneios seletivos. Só que para alguns lutadores não bastou vencer.
No fim das contas, a decisão é feita por critério técnico. Ou estritamente político, dependendo do ponto de vista.
Não foi o caso do meio-pesado (até 81 kg) Ricardo Miranda. Ele não só ganhou a seletiva, como depois foi vice-campeão do Sul-Sudeste pelo estado vizinho.
“Foi feito o convite e o técnico dele acabou não aceitando. Fiquei até meio constrangido, meio duvidoso porque não aceitou por algum motivo. Mas é normal, acontece em vários estados que não proporcionam o boxe e os atletas vão para outras federações”, acredita Santos.
Cristiano Simões, técnico de Miranda, é incisivo ao justificar a escolha. Para ele, o problema é muito mais profundo.
“Me chamaram [da FPrP] para conversar após a seletiva estadual, disseram que o Ricardo iria para o Brasileiro e eu iria como um dos treinadores da equipe. Não concordei porque outros atletas disputaram a seletiva, ganharam e foram deixados de lado. Então quer dizer que a seletiva não serviu pra nada?”, ironiza Simões.
O super-pesado (+91 kg) Felipe Miranda e o peso-leve (até 60 kg) juvenil Gabriel Segalla, ambos paranaenses, também vão ao Brasileiro calçando luvas catarinenses.
A FPrP não passa de uma federação de aluguel. Não tem nenhum paranaense no Brasileiro. E têm atletas que poderiam ir, mas agora vão por Santa Catarina. Essa é a saída que temos. Se nossos atletas têm potencial, mas não disputam torneios interestaduais e nacionais, não vão melhorar de nível nunca. Aí se limitam a lutar torneios de academia e ficam estagnados, denuncia Simões.
Vaga que não vale?
Nome forte no boxe paranaense, o ex-lutador Edson Foreman acreditava que teria dois pupilos em Salvador para a disputa do Campeonato Brasileiro. Falou sobre o assunto, inclusive, em entrevista ao site Jornale. A nota foi publicada no último dia 27 de novembro.
Porém, não foi bem assim que as coisas aconteceram. As inscrições para o campeonato foram encerradas oito dias antes, em 19 de novembro, de acordo com a CBBoxe. Nenhum dos dois estava na lista.
Perguntado pelo Luta Livre por que seus atletas (Jean Monster e Fernando Black) não foram chamados para representar o Paraná, Foreman justificou com uma informação repassada pela FPrP.
“Eles iriam, mas algumas categorias foram indeferidas por falta de inscritos. Caso dos meus dois lutadores”, posicionou-se inicialmente.
Na verdade, as categorias do campeonato não sofreram nenhuma alteração e vão acontecer normalmente a partir de sábado (9).
No 69 kg, o capixaba Hiago Negrelli ficou com a vaga no Sul-Sudeste. Seu conterrâneo, Valdinei Caetano de Jesus, tentou (e não conseguiu) a classificação na classe até 64 kg. Ambos são treinados por Adailton Santos da academia Dudhal, em Vila Velha-ES.
Quando informado disso, o treinador mudou de postura.
“Meus lutadores venceram os quatro torneios que foram feitos aqui nesse ano. São atletas daqui que lutaram e venceram. Não sabia dessa informação. Isso me deixa meio… não estava sabendo disso. Temos bons caras aqui que não foram”, falou, citando a “politicagem” como principal fator que atrasa o esporte no estado.
“Ah, bicho. Não acho legal isso, não. É preciso mais união. O boxe paranaense tem grandes atletas e treinadores, a nobre arte aqui vem de muito tempo. A politicagem faz muito mal. Alguns bons atletas não estão lutando pelo Paraná por causa disso”, continuou o Foreman, que até então apoiava a gestão de Cesar Augusto Pereira no comando da federação.
Minha relação com ele [Carlos Augusto] era política. Eu quero poder melhorar o boxe estadual. Mas agora a relação pode deixar de ser porque fiquei de cara com algumas coisas, garante.
Raiz paranaense (só que não)
Ex-campeão brasileiro de boxe, Carlos Rocha foi eleito o melhor lutador de todas as categorias do último Torneio Sul-Sudeste. Em 2015, o baiano de 23 anos foi um dos representantes do Brasil no Pan-Americano de Toronto.
Atleta do Exército e da seleção brasileira, ele é considerado um promessa do país para a Olimpíada de Tóquio, em 2020. Mesmo com todo esse currículo, ele não luta mais pelo estado onde é radicado, o Espírito Santo e hoje é mais “paranaense” no ringue.
“Represento o Paraná porque há muita competitividade no estado onde moro, então melhor ir pelo Paraná, onde não tem tanta rivalidade”, admite o pugilista, que nunca visitou o estado que defende.
E para ele, isso não parece ser nenhum problema.
Não tem nada a ver não ter ido aí [no Paraná] e não poder representar o estado. Eu conheço o presidente, ele conhece meu treinador. Então já é uma ligação, acredita Rocha.
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