Sartori tem portas abertas na Rússia. Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo.| Foto:

Com dez atletas brasileiros no card, o Absolut Combat Berkut (ACB) abre neste sábado (13) a temporada de MMA na Rússia. O paranaense Bruno Roverso, da Chute Boxe, faz parte da lista.

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E para metade desses lutadores, a longa viagem para Grozny, capital da Chechênia, tem uma conexão em comum: Stefano Sartori.

Aos 30 anos, o curitibano que largou duas faculdades para investir no mundo da luta é o empresário mais influente da atualidade no mercado russo das artes marciais mistas.

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Desde 2013, ele já negociou a ida de mais de 50 lutadores para competir em eventos como o Fight Nights Global (FNG) e Akhmat, além do próprio ACB. Para 2018, ele já garantiu mais 20 lutas em eventos russos.

“Muitos empresários tinham lutadores para lutar lá, mas não tinham contato. Eu fui no caminho inverso e mapeei os principais eventos que contratavam brasileiros. Consegui fazer contato por e-mail, páginas de Facebook e então comecei o trabalho devagar até ganhar espaço”, conta Sartori.

De acordo com ele, além do respeito pela tradição brasileira no MMA, há outro ponto que explica a invasão de atletas nacionais por lá. Ao contrário dos Estados Unidos, onde é necessário visto de trabalho, a Rússia não exige tanta burocracia para competir.

“Não precisar de visto é uma grande vantagem competitiva. Hoje a Rússia é o segundo melhor mercado do esporte. Têm eventos bons, grandes e ricos. Pagam passagens, dão boas bolsas. Fico feliz por ter aberto esse mercado”, comemora Sartori, que fundou com o treinador e empresário Marcelo Brigadeiro a agência Takeover.

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Início ninja

Em 2012, quando tinha uma agência de marketing focada em desenvolver lojas virtuais, Stefano recebeu um convite que mudaria radicalmente sua trajetória.

Por intermédio de um amigo em comum, foi chamado para criar um site e gerenciar as mídias sociais do lutador Maurício Shogun.

Pouco depois, foi o mais velho dos irmãos Rua, Murilo Ninja, que o convidou para atuar como empresário em sua luta de despedida do esporte.

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“Como fã hardcore de MMA, acabei gostando muito e deixando a agência para mergulhar nesse mundo. E aí comecei a cuidar da carreira do Vinícius Vina, que tinha acabado de ir para o UFC e estava precisando de manager”, conta Sartori.

Aos poucos, o curitibano foi se aprofundando no assunto e aumentando seu portfólio de clientes. Ao mesmo tempo, também assumiu a função de matchmaker no Circuito Talent, um evento de lutas hoje extinto. Hoje, ele comanda o Imortal FC, que está na sétima edição.

Desbravando a Rússia

O meio-médio (até 77 kg) carioca André Chatuba foi o primeiro lutador a desbravar a Rússia com Sartori. Foram duas lutas com apenas 22 dias de diferença no FNG em outubro de 2013.

No entanto, o negócio de maior repercussão aconteceu em junho de 2016. Sete meses após ser demitido do UFC, o paulista Fabio Maldonado estava em São Petersburgo para encarar a lenda local Fedor Emelianenko.

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“O dono do Fight Nights estava procurando um adversário para o Fedor e tinha ventilado nomes brasileiro como o Márcio Pé de Pano, Rafael Feijão… Nesse caso, fiz um trabalho de matchmaker, não de manager, coisa que acontece bastante no mercado russo. Sou procurado para encontrar atletas brasileiros para lutar lá”, comenta Sartori, que também está atuando para trazer o FNG para o Brasil.

Após enfrentar Fedor de igual para igual (a luta terminou empatada após apelação do brasileiro), o Caipira de Aço fez mais quatro lutas na Rússia até vencer o cinturão meio-pesado (até 93 kg) em setembro de 2017. Virou cliente de Sartori.

Atualmente, a curitibana Ariane Lipski, campeã do evento polonês KSW, o guineense Carlston Harris, dono do título meio-médio do Brave, e o cearense Diego Brandão também trabalham com o manager paranaense.

No UFC, por enquanto, apenas o meio-médio Luan Chagas.

“Pretendo repetir a penetração que temos no mercado europeu também no UFC, no Bellator e na Ásia”, espera Sartori.

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Russos não brincam com dinheiro

Com quase quatro anos de experiência de negociação com russos, Sartori conta que aprendeu uma lição valiosa: russos não brincam com dinheiro.

“Há um ditado que diz isso. Fazer negócio com eles é bom porque é um povo inteligente, sério. Confio tanto nos russos a ponto de fechar algo sem ter contrato, mas com a certeza de que tudo será cumprido. Até hoje nunca tive problema algum”, diz ele, que leva normalmente 10% da bolsa do atleta como pagamento.

“Você ganha dinheiro com um grande volume de lutas ou fazendo negócios grandes”, explica.

Além da grande abertura aos brasileiros, os eventos usam seu poderio financeiro como atrativo. Em alguns casos, os salários são equiparáveis ao MMA americano, além de pagarem passagens e colocarem os atletas em hotéis de qualidade.

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Porém, também existe um problema recorrente por lá: os árbitros laterais e o favorecimento aos lutadores locais.

“É algo crônico, acontece na Rússia, Japão, Polônia. São situações complicadas, decisões polêmicas. Mas há um esforço grande para arrumar essa questão. É questão de tempo para que os estrangeiros parem de ser prejudicados”, espera o empresário.

Racismo e terrorismo

País-sede da Copa do Mundo de 2018, a Rússia tem feito um grande esforço para apagar a imagem de comunismo, de Guerra Fria, explica Sartori.

O racismo, contudo, é um problema ainda muito presente nos campos de futebol. Nos ringues de MMA a situação parece ser diferente.

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“Nunca vi [racismo]. Já levei um atleta negro de 1.90 m e 135 kg para lá e o Gerônimo Mondragon é adorado. Pedem fotos, as mulheres assediam. Nunca vi racismo no MMA, nem mesmo com os americanos, que tem toda a rivalidade. Acho que a coisa da paixão do futebol acaba influenciando”, analisa.

Quando o assunto é terrorismo, porém, o empresário não teve a mesma sorte. Ou melhor, teve muita.

“Estava com o Vinny Magalhães [lutador] fazendo uma presença vip em Grozny, na Chechênia, e era aniversário da cidade, cheio de festividades. Estávamos tentando visitar uma mesquita famosa e escutamos um barulho de explosão. Achei que eram fogos, mas depois vimos que houve um atentado em um shopping próximo, que deixou cinco ou seis mortos”, recorda.