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No fim da luta, Shogun dominou o rival, mas não conseguiu a vitória
A polêmica sobre a luta entre Maurício Shogun e Dan Henderson , no UFC 139, continua. Leia o ótimo texto do advogado Ricardo Campelo sobre o assunto.
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Se você é fã de MMA desde os tempos do Pride, lembra que muitas das lutas decididas pelos jurados levantavam polêmicas. Isto porque no evento japonês, os critérios eram muito genéricos – a luta era interpretada como um todo pelo jurado, que deveria apontar o vencedor independente do que acontecesse em cada round.
Nos Estados Unidos, utiliza-se o mesmo sistema do Boxe, em que a luta é julgada round a round. Cada lutador inicia o assalto com 10 pontos, e tem 1, 2 ou 3 pontos retirados conforme sua performance. Ou seja, o vencedor do round recebe a pontuação de 10-9, 10-8 ou até mesmo 10-7 (embora não haja registros de nenhuma marcação pela pontuação máxima). Também pode haver empate (10-10). E o lutador ainda pode perder mais pontos se praticar irregularidades, como golpes ilegais.
Segundo as regras unificadas aprovadas pelas comissões de esportes americanas, o critério é o seguinte: 10-9 para round vencido por margem apertada, com o lutador aplicando maior número de golpes efetivos, técnicas de solo ou outras manobras; 10-8 para round em que um lutador domina decisivamente com golpes ou técnicas de solo; e 10-7 para round em que um lutador domina totalmente com golpes ou técnicas de solo.”
Na prática, os jurados têm utilizado 10-8 quando há um domínio muito intenso por um dos lutadores, e 10-9 para qualquer supremacia que não tenha sido absoluta.
Vale observar, ainda, que os jurados não são contratados pelo UFC. Quem seleciona, forma e indica os árbitros e juízes para quaisquer eventos de MMA são as comissões atléticas estaduais, sem que o UFC e as demais ligas organizadoras possam praticar qualquer interferência.
Na luta entre Maurício Shogun e Dan Henderson, não há dúvidas de que o americano venceu os três primeiros assaltos, mas nenhum deles com a intensidade suficiente para ser classificado como 10-8 pelo sistema vigente. Nem mesmo no terceiro round, quando Shogun por pouco não foi nocauteado, pois o curitibano conseguiu reverter a adversidade, golpeou o adversário algumas vezes e chegou perto de finalizar a luta com uma chave de calcanhar.
Shogun venceu, então, o quarto round, com grande superioridade nos instantes finais, quase finalizando com um mata-leão. Como não dominou o assalto por completo, aceita-se o 10-9. Já no round de número 5, o domínio foi total e absoluto por parte do brasileiro. Maurício derrubou Hendo, montou, e ali passou o assalto inteiro golpeando.
Segundo o site Fightmetric.com, foram 26 golpes significativos acertados pelo ex-campeão dos meio-pesados do UFC, contra nenhum de Henderson. No total de golpes (tanto fracos como significativos), a diferença neste round foi de 79 a 8 em desfavor do americano.
O resultado de 48-47 demonstrou que os três jurados marcaram 10-9 para todos os assaltos (três deles em favor do americano), o que causou surpresa em muitos, inclusive o próprio Dana White, presidente do UFC, que apostava em um empate em 47-47, anotando 10-8 para o brasileiro no round final.
O site americano Sherdog também divulgou um artigo em que o jornalista opina que a luta deveria ser pontuada como 47-47.
A falha no julgamento desta luta revela a confusão dos jurados de MMA nos EUA com os critérios de julgamento, e a própria falta de clareza destes. Ou seja, apesar de ter se tornado um negócio bilionário, o UFC ainda está sujeito a decisões polêmicas e prejudiciais ao bom desenvolvimento do esporte.
Pior, neste caso, para o curitibano Shogun, para quem o empate seria bastante honroso após o castigo sofrido nos três primeiros rounds. O resultado manchou uma das melhores lutas da história do esporte.