O lutador de MMA Rodrigo Gomes tem uma rotina puxada de segunda a sábado. Três vezes por semana, ele percorre 43 km pelas ruas de Curitiba.
A distância nos outros três dias é de 102 km — média de 34 km/dia. A quilometragem total somada é de 231 km, pouco mais de cinco maratonas (42,195 metros cada prova).
Treino duríssimo para qualquer atleta profissional, mas no caso deste paranaense de 23 anos, no entanto, o roteiro se passa somente após muito suor derramado no tatame.
Rodrigo é coletor de lixo da empresa que presta serviço para a prefeitura.
“Sou gari, é assim que nos chamamos na gíria. Tem o cara que faz a varreção das ruas e também é gari, e aquele que corre atrás do caminhão, que é meu caso”, explica Gomes, que faz a luta principal do Gladiator Combat Fight 34 neste domingo (18), em Curitiba.
O trabalho do gari/lutador acontece sempre entre 16h e 0h. Só que sua jornada começa bem antes de bater o cartão.
Rodrigo sai de casa às 7h para fazer preparação física na academia Trinus, no bairro Cabral, com o coach Luiz Unzueta. Às 10h, ele está no Capão Raso para iniciar os treinos de MMA e jiu-jítsu no CT Gile Ribeiro, com o mestre Diego Marlon.
Como os treinos terminam por volta de 13h30, o atleta tem menos de duas horas para ir para casa, almoçar, descansar e se apresentar no serviço.
“É bem cansativo mesmo. Ainda mais quando estou em dieta para perder peso. Já vou com as pernas doloridas dos treinos, mas tenho que correr porque não podemos atrasar”, diz o gari, já acostumado com os riscos da profissão.
“Machuco mais no trabalho do que nos treinos”, admite Rodrigo.
A rotina de quem corre cinco maratonas na semana, contudo, também forjou uma das principais qualidades do lutador novato. Em quatro lutas, Gomes acumula três vitórias e um empate em torneios locais. E nunca perdeu o gás.
“Ele faz 1h30 de MMA, depois jiu-jítsu, antes já fez preparação física. E acaba ‘completando’ o treino com a corrida no trabalho. O Rodrigo tem um gás absurdo, é muito bem condicionado”, elogia o mestre Diego Marlon.
Motivação
Apelidado de ‘Jones’ por uma semelhança física com a estrela do UFC Jon Jones, Rodrigo tem outra inspiração dentro da principal organização de MMA do mundo.
Companheiro de treinos do meio-médio (até 77 kg) Luan Chagas, o gari quer seguir os passos do sul-mato-grossense do UFC.
“O Luan começou lutando no Gladiator, assim como eu, e chegou em um grande evento. O Augusto Sakai [peso-pesado ex-Bellator] também. Se eles chegaram, eu posso também”, imagina o lutador nascido em São Pedro do Ivaí, no Norte do Paraná.
Mas a maior motivação para continuar evoluindo está em casa: a esposa Giovana e o filho Arthur, de um ano e seis meses. Rodrigo chegou a abandonar os treinos por dois anos, mas retornou para tentar mudar de vida.
Afinal, ele não quer ser gari para sempre.
“Quero melhorar a vida da minha família. Ainda não tenho renda para parar de trabalhar e conseguir sustentar meu filho. Não tenho um salário mensal somente para lutar”, conta Rodrigo Jones, que não tem nenhum patrocínio. Seu único apoio é da Cabana do Atleta, que fornece suplementação.
Para receber a bolsa do combate deste domingo (cerca de R$ 500), por exemplo, ele precisa vender aproximadamente de 40 ingressos a amigos e familiares. A prática é o retrato do esporte no Brasil.
“Meu mestre fala que isso é um investimento. Posso ganhar pouco agora, mas tenho que pensar lá na frente”, afirma a promessa do MMA.
“Hoje considero o Rodrigo um lutador quase completo. Ainda há falhas no jogo dele, ajustes a fazer. Mas vejo ele chegando muito longe. É um diamante bruto que vamos lapidar. Não tenho dúvida que ele chegará ao UFC”, prevê o mestre Diego Marlon.