Após a confirmação oficial de que Anderson Silva estará no card do UFC 198, no dia 14 de maio, em Curitiba, lembrei de uma reportagem que escrevi há quatro anos, para a Gazeta do Povo.
Muito antes de ser chamado de Spider e de se tornar uma lenda do MMA, Anderson fez, em 2000, sua terceira luta na carreira — a primeira em Curitiba.
E adivinhe o resultado? Sofreu a primeira de suas sete derrotas até aqui. O algoz foi Luiz Azeredo, “The Joker”, com quem conversei para contar essa história. O duelo aconteceu no Ginásio Palácio de Cristal, no Círculo Militar, pelo Meca World Vale Tudo.
Depois a entrevista, Azeredo lutou apenas mais uma vez e perdeu. Anderson ainda venceu quatro lutas seguidas antes de viver saga perda do cinturão/fratura na perna/retorno/doping/novo retorno.
Caminhos opostos, como diz o título da matéria que reproduzo abaixo. Ela é datada de 12 de fevereiro de 2011, então levem isso em consideração.
Caminhos opostos
Na academia onde trabalha no subúrbio americano de Newark, em Nova Jérsei, o lutador Luiz Azeredo, 34 anos, assistia atento à edição de número 126 do Ultimate Fighting Championship (UFC), o maior evento de lutas do mundo, domingo passado.
Ao lado de dezenas de alunos, o paulistano vibrou, ao contrário da maioria, apenas discretamente com o nocaute de Anderson Silva sobre Vítor Belfort, no primeiro round. Afinal, apesar de não fazer questão de divulgar, acredita que o triunfo do curitibano (por adoção), recordista de vitórias seguidas no UFC e considerado o melhor da história das artes marciais mistas (MMA), de certa forma, também é a sua.
Luizinho, como é chamado pelos amigos, gosta mesmo é da alcunha de “The Joker”. O “Coringa” não se gaba, no entanto, por ter sido o primeiro dos quatro homens até hoje a derrotar o atual dono do cinturão dos pesos médios (os japoneses Daiju Takase, Ryo Chonan e Yushin Okami são os outros). Mesmo sabendo que sua trajetória tomou rumo oposto, evita estar sob a sombra do campeão.
“Poxa, já foi… dez anos atrás. Não fico vivendo em cima disso”, disse Azeredo, por telefone à Gazeta do Povo, relutando em se estender sobre o assunto.
Foi no ginásio do Círculo Militar do Paraná, em Curitiba, onde Silva perdeu pela primeira vez. Era sua estreia profissional no MMA. Azeredo fazia seu quarto combate, o primeiro na capital paranaense. O calendário marcava dia 27 de maio de 2000 e o evento era o Meca World Vale Tudo I. O resultado: decisão unânime dos jurados após dois assaltos. Derrota do estreante e futura estrela do esporte. Triunfo de quem ainda hoje persegue sua grande chance.
“Derrubei ele e fiquei trabalhando no [posição de] 100 kg, na lateral, dominando a luta. Não podia dar espaço se não ele ia levantar, era um cara perigoso. Foi essa a estratégia”, descreveu Azeredo. A luta era válida pela categoria até 80 kg. Segundo ele, que pesava 78 kg, Silva bateu dois quilos acima do permitido.
“Falei não… pode ir. Tá tranquilo, vamos lutar.” Luizinho não revela, mas, seis meses depois, voltou a enfrentar Silva, desta vez em um duelo de muay thai. Foi nocauteado.
Ao mesmo tempo em que passa seus conhecimentos de faixa-preta de jiu-jítsu e de muay thai na América, longe da mulher e dos dois filhos há três meses, Azeredo busca a própria glória dentro dos ringues. Com um currículo de quem já lutou em grandes torneios como o Pride e o Cage Rage, somado a seis horas diárias de treinamento, não se esquece de onde quer chegar. Lutou quatro vezes em eventos menores no ano passado, todos nos Estados Unidos. Venceu três deles e segue na batalha por dias melhores.
“Ele teve oportunidades, mas a carreira foi de altos e baixos. Nos momentos importantes [da carreira], talvez tenha perdido as lutas cruciais”, apontou Rudimar Fedrigo, mestre da academia curitibana Chute Boxe, na qual Luizinho ingressou em 2004.
Os duelos decisivos citados por Fedrigo aconteceram diante do japonês Takanori Gomi, em 2005, pelo extinto Pride. Duas derrotas cujos reflexos são vistos até agora . Na mesma época, por outro lado, Anderson Silva já era campeão e estrela do MMA no Japão, prenúncio da milionária carreira.
“Cada vitória que escorrega das suas mãos muda o rumo, faz sua carreira desviar.Poderia estar em outro patamar, mas isso não somos nós que escolhemos. É o destino”, admitiu Azeredo, que acredita que com mais duas ou três vitórias de impacto terá, ainda em 2011, uma nova oportunidade. “Acho que ele tem condição. Já tem uma história e a idade não vai atrapalhar”, arriscou Fedrigo.
Mais do que cair e levantar incontáveis vezes em busca da realização de lutador e da possibilidade de mudar de vida com cifras polpudas, a batalha do dia a dia também é feita de necessidade pura e simples. Por enquanto, os mais de dez anos de MMA só trouxeram prestígio para Azeredo.
“Dinheiro está difícil, você tem que buscar aqui fora. No Brasil você não ganha não, cara”, afirmou ele, que, apesar disso, garante que prefere seguir fazendo o que ama. “Uma hora espero conseguir pagar minhas contas, comprar minha casa com isso que eu faço”.
Hoje impensável, uma revanche para o multicampeão Anderson “Spider” Silva obviamente agradaria ao Coringa. A diferença de peso ou mesmo de técnica não seria problema. Como a carta mais rara do baralho, que se adapta igualmente bem a qualquer função do jogo, Azeredo saltaria da categoria leve (até 70 kg) para a média (até 84 kg). Trocaria em pé, ou faria seu jogo no chão, sem temor.
“Sou maluco, né cara? Não tenho medo de lutar, na verdade. Entro feliz [no octógono]. É o que sei fazer”, cravou. “Já ganhei do melhor do mundo. Então isso daí me dá força pra correr atrás da minha glória”.
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