Luis Felipe Alvim, 22 anos, ainda não acredita no roteiro de filme que viveu último sábado (7), em Juiz de Fora. Ele começou o dia cozinhando brownies para vender na porta do Juiz de Fora Fight 18 e terminou como o dono do cinturão meio-médio (até 77 kg) do evento.
“É surreal. A repercussão está sendo grande demais. Estou meio assustado com tanta gente entrando em contato e mandando mensagem”, diz Alvim, instrutor de luta e agora lutador de MMA profissional com uma vitória no cartel.
Grau-preto de muay thai e faixa-azul de jiu-jítsu, o mineiro deveria ter estreado no MMA cerca de três semanas atrás, em Curitiba. Porém, o evento foi cancelado e ele não entrava na academia há três semanas, segundo seu treinador, o lutador do UFC Felipe Silva.
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Brownie da sorte
Em casa e sem dinheiro para assistir ao campeonato, Alvim convenceu a namorada, Fabiana, a ajudá-lo a fazer brownies para conseguir arrecadar os R$ 160 necessários para bancar dois ingressos.
Foi aí que começou a incrível história do mais novo lutador de Juiz de Fora: eles chegaram atrasados ao hotel que recebeu o evento e perderam todo o público: “Fizemos 25 brownies e não vendemos nada”, fala.
Então, um conhecido que estava na organização conseguiu duas entradas promocionais pela metade do preço. Luis Felipe comprou-as usando o dinheiro reservado para pagar a conta de luz.
Alvim foi direto ao vestiário cumprimentar amigos da academia. Lá, soube que a principal luta da noite havia sido cancelada. O adversário do carioca Carlos Eduardo “Blade” Rufino desistiu de entrar no cage em cima da hora.
“Fiquei sabendo que a luta principal caiu porque o lutador não tinha batido o peso e me ofereci para entrar como substituto contra o ex-desafiante do Jungle Fight”, diz.
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Sem medo
A organização do torneio, porém, decidiu escolher outro lutador, mais experiente, para enfrentar Rufino. Só que menos de uma hora antes da luta, o nome de Alvim voltou à pauta.
“O cara que tinham escolhido arregou faltando 40 minutos para a luta e aí me chamaram. Minha noiva foi correndo para casa buscar meu protetor bucal e eu botei na cabeça que daria tudo certo, que daria um show”, recorda.
Fora de sua categoria normal (70 kg), Luis Felipe estava prestes a estrear valendo um título. Quando o gongo soou, ele foi para cima de Rufino. O rival o botou para baixou e quase caiu em uma chave de braço do vendedor de brownie.
O combate voltou a ficar em pé, mas não durou muito. Depois de tentar uma joelhada, o estreante foi derrubado novamente. E começou a tomar golpes duros no rosto. “Como num flash, ficou tudo branco. Voltei e pensei: ‘o que estou fazendo aqui, meu Deus? Tenho que fazer alguma coisa'”, recorda.
O faixa-azul de jiu-jítsu, então, armou um triângulo e quase não acreditou quando fechou o cadeado na cabeça do adversário. Aos 4min20s do primeiro round de sua primeira luta de MMA, Luis Felipe comemorou.
“Ele bateu e ninguém acreditou. A galera começou a gritar, gente invadindo o ringue, os seguranças entraram para conter. Gente que nunca vi foi me abraçar, eu com o nariz sangrando, uma loucura”, afirma Alvim, que pediu a namorada — e grande incentivadora — em casamento ainda no ringue.
“Eu sempre falava que pediria a mão dela quando ela menos esperasse”, brinca.
Fotos: Divulgação e Leonardo Fabri
Futuro
Depois de salvar o evento (como a grande zebra da noite), Alvim ainda recebeu R$ 2.000 como pagamento. Nada mal para quem estava sem dinheiro para assistir às lutas.
“No outro dia fiquei pensado na doideira que fiz. Eu desaconselharia qualquer um a fazer. Mas foi um risco calculado. Se eu perdesse, sabia que teria muita gente me julgando”, garante.
Seu mestre, Felipe Silva, concorda. “Ele estava preparado. Iria lutar cerca de três semanas antes. Nunca que iria colocar um aluno, um moleque que está comigo desde os 13 anos, para lutar só para ver qual é. É um garoto que estamos trabalhando, conhecíamos o adversário. Se não, não tinha colocado, ainda mais de última hora”, explica.
Depois de uma estreia inacreditável, Luis Felipe não vê outra carreira a não ser o MMA. “Quero seguir esse caminho, lutar em bons eventos. Lutar na minha categoria agora. Quero continuar treinando e ver onde posso chegar, sonho com o UFC. Estou aberto a convites”, avisa.