O prontuário de pacientes do médico Marco Aranha, especialista em medicina do esporte, tem pelo menos uma dezena de lutadores de MMA. Wanderlei Silva foi o primeiro, há mais de uma década.
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Atualmente, o Doutor Aranha trata cinco atletas do UFC: a lista tem os pesos-leve (até 70 kg) Francisco Massaranduba, Joaquim ‘Netto BJJ’ e Felipe Silva, além do pena (até 66 kg) Godofredo Pepey e do meio-médio (até 77 kg) Serginho Moraes.
Nomes de peso como Fabrício Werdum, John Lineker e Paulo Thiago, por exemplo, também já se consultaram com o médico.
Com tanto envolvimento no mundo da luta — ele próprio campeão mundial de jiu-jítsu na faixa-marrom — um desafio cruzou a cabeça do catarinense. “Acho que consigo lutar com esses caras aí”.
Após um período de treinos na academia Evolução Thai, a estreia estava marcada para 2014, em um torneio curitibano de pequeno porte. O adversário, porém, desistiu na semana da luta. Logo depois, Aranha lesionou a coluna, precisou operar duas vezes uma hérnia de disco, e adiou seu combate inaugural.
O plano agora é entrar no ringue em 2018, aos 43 anos de idade. “Sou movido a desafios. Quero sair na porrada, quero ir lá e sentir toda a emoção que eles sentem”, fala o médico, com um inconfundível sotaque de quem nasceu em São Francisco do Sul.
Aranha é um verdadeiro viciado em adrenalina. Sua rotina, registrada no Instagram para quase sete mil seguidores, contempla esportes dos mais variados. Todos os dias, sem falha.
O cardápio esportivo vai de um simples treino de boxe de madrugada em uma praça qualquer de Curitiba, passando por ciclismo de estrada duas vezes por semana, até seu queridinho flyboard (veja no vídeo abaixo). Moto trial e wakeboard também estão na programação.
É um estilo de vida chamativo, mas autêntico, que lhe traz muitos admiradores. E também vários haters.
“Os caras acabam odiando teu estilo de vida. E pra mim não é difícil ser quem eu sou porque sempre fiz esporte. Só to vendendo uma coisa que eu faço, que gosto”, diz o médico, que também sempre aparece na rede social com carrões ou curtindo seu iate em Balneário Camboriú.
Imagem que o ajuda a atrair clientes, ele admite. Ele só não admite ser chamado de playboy por causa disso.
“Se tu trabalha honestamente e ganha teu dinheiro, não tem por que não comprar um carro legal. Ser playboy é torrar dinheiro sem trabalhar, viver em festa, viver ostentando. Se trabalhei e estou pagando direitinho minhas contas, não estou ostentando, estou tendo qualidade de vida”, argumenta Aranha, que atende em seu consultório diariamente das 8 h às 23 h.
“E se precisar sábado e domingo também”.
O estilo de vida polêmico de Aranha também lhe trouxe inimizades no meio da medicina. No início, era acusado de aplicar anabolizantes por causa da efetividade de seu tratamento. Boato que o trabalho com o MMA ajudou a afastar.
“Comecei tratar atletas do UFC muito por causa disso. Se faço errado, como que ninguém nunca caiu no antidoping comigo? E já são 15 anos…”, lembra.
Seu trabalho com atletas envolve tanto a parte de fortalecimento, como a manutenção para evitar lesões, além do acompanhamento no processo de redução de peso para uma queda gradativa e saudável.
“Meus pacientes desidratam no máximo 2 kg. Vão no ônibus para a pesagem comendo uvas passas para botar pressão psicológica nos adversários”, brinca o autodenominado “Ogro”.
O tratamento não é barato. Pelo contrário. Em média, para um cliente ‘comum’, dois meses de acompanhamento custa em torno de R$ 3 mil.
Nem todos os lutadores podem bancar. E aí aparece outro lado do Dr. Aranha. Ele reluta expor, mas trata grande parte dos atletas de graça. “O coração dele é enorme, ajuda muita gente, mas não fica espalhando”, confirma Wanderlei Silva.
“No início de carreira os caras não tem muita renda. Não tenho coragem de cobrar. Depois, se tiver condição, passa a pagar. Não vou ficar mais pobre por causa disso”, conclui o Doutor Aranha.