Desde 1992, o CPJ - Committee to Protect Journalists - faz um levantamento internacional sobre assassinatos de jornalistas no exercício da profissão ou por causa dele e rankeia os países de acordo com o nível de impunidade para este crime. Pelo 10o ano consecutivo o Brasil está no topo da lista e ganhou algumas posições este ano, deixando para trás países como Afeganistão, Bangladesh, Rússia, Sudão do Sul e Nigéria. No ano passado, o Brasil aparecia atrás deles.
A maioria dos países que chegam a esse ranking está na África, Ásia ou Oriente Médio e tem uma realidade de ditadura, guerra, invasão de grupos terroristas ou uma mistura de tudo isso. Somente dois países estão fora desse modelo: Brasil e México, ambos com um problema de criminalidade organizada que já saiu do controle das autoridades e que há algum tempo dá mostras de ter se infiltrado no poder.
Mesmo tendo subido este ano no ranking de impunidade para assassinatos de jornalistas, o CPJ considera que a situação do Brasil tem melhorado nos últimos 17 anos, desde quando se passou a fazer esse tipo de apuração. Atualmente, ocupamos o 9º lugar no número de casos não resolvidos, mas o número de mortes vem caindo, após um pico no ano de 2015.
Quando se fala em assassinatos de jornalistas devido à profissão, já imaginamos um autor poderosíssimo, ligado à criminalidade, à política ou aos dois. Não é a realidade brasileira: os profissionais mais expostos são os que atuam no nível local, no interior do país.
O CPJ tem uma lista de todos os 40 casos de homicídios de jornalistas brasileiros em decorrência da profissão que não foram resolvidos desde o ano de 1992. Somente 2 deles trabalhavam em grandes empresas e em capitais, 38 eram de jornais ou rádios regionais, no interior dos estados.
O primeiro caso em capital é Tim Lopes. Ficou conhecidíssimo do público e levou à prisão do traficante Elias Maluco, mandante do crime. Ele está há 17 anos preso, mas a punição por assassinato ainda não transitou em julgado - aliás, quase foi solto este mês por falta de prosseguimento da acusação nos diversos processos que responde.
O outro caso, que ainda permanece sem solução, é do meu amigo querido, o fotógrafo da Revista Época Luiz Antonio da Costa, o LACosta, assassinado durante a cobertura de uma invasão do MTST. Eu presenciei a morte pela televisão, ao vivo. O esclarecimento só foi possível graças a outro colega, o fotógrafo do extinto Agora São Paulo André Porto. Somente dois envolvidos no crime foram presos. Eles disseram à polícia temer que LACosta tivesse as fotos do assalto a um posto de gasolina que eles fizeram perto da invasão.
Os dois últimos assassinatos registrados foram de radialistas. Jefferson Pureza Lopez trabalhava na Rádio Beira Rio FM, em uma cidadezinha de 4 mil habitantes, Edealina, interior de Goiás. Era crítico da corrupção municipal e sofria ameaças de morte. Foi executado por dois motoqueiros armados enquanto via televisão em casa. Jairo Souza investigava crime organizado, tráfico de drogas e corrupção em Bragança, interior do Pará. Foi alvejado pelas costas quando chegava para trabalhar, às 5 da manhã, na Rádio Pérola FM. Ainda conseguiu subir até o primeiro andar e chamar os colegas, mas não resistiu.
A corrupção não toma de assalto os mais altos níveis de um governo ou de um país, é doença silenciosa, que começa pequenina. Os jornalistas que investigam e denunciam corrupção, crime organizado e a relação entre os dois sabem que correm riscos. Os que se dedicam a essa cobertura no âmbito municipal estão desprotegidos e a maioria de suas mortes sequer é noticiada. Sem cobranças por esclarecimentos, a corrupção está matando de goleada.
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