| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
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Muito provavelmente vai parecer uma ideia maluca pedir que enfermeiros de maternidades parem de falar leite materno e comecem a falar "leite humano". É uma proposta real feita por autoridades de Saúde Pública do Reino Unido. Todo um novo vocabulário para incluír trans e não-bináries nas maternidades está sendo planejado. Seios e vagina, por exemplo, não deveriam ser mais palavras. Mulher muito menos.

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Eu não tenho idade mental para comentar a ideia de falar em "leite humano". Uma porção da minha alma ainda permanece na 5a série C. Fico pensando se ninguém avisou e esse povo não cursou a 5a série ou se é de propósito. Fui ver quem é o editor do glorioso guia da novilíngua do parto e puerpério. Não é da área, é um diretor da ONG que mais pressiona pela agenda trans no mundo, Stonewall.

Quantas pessoas apoiariam a mudança do nome do leite materno para "leite humano"? (Desculpa, Jesus, não consigo parar de pensar nisso...) Certamente uma minoria quase insignificante. O problema é que ela é tóxica e violenta. Capaz de atacar a moralidade e o caráter de qualquer um que a questione. É assim que a ideia de que homens menstruam virou normalidade em pouco mais de 2 anos. Ninguém levava a sério até que todo mundo levou.

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Se alguém disser num programa de televisão que homens menstruam, quantos apresentadores vão se desmanchar em gargalhadas? Só os que não temem ser cancelados por transfobia. Quanto tempo esse axioma demorou para se estabelecer? Veja esse vídeo de 2019. Dennis Prager, conservador, diz no programa de Bill Maher que seriam xingadas de transfóbicas pessoas que negassem que homens menstruam. A bancada se desmancha em gargalhadas.

Em apenas 3 anos, é completamente possível que alguém perca o emprego se disser que homens não menstruam. Aqui tem algo importantíssimo: jamais confundir o identitarismo com a minoria que esse grupo alega proteger. Pergunte a uma pessoa trans se é reivindicação dela a demissão ou demonização de quem negar que homens menstruam. Não é, é apenas do identitarismo, que assim ganha poder e controle sobre pessoas, cargos e economia.

O discurso moralista de que somos bons porque estamos falando de inclusão não passa de fachada para ganhar poder e pisotear os outros sem ser julgado. Pergunte em qualquer maternidade quantas pessoas trans passam por lá todo ano. Essas pessoas obviamente merecem cuidado e, acima de tudo, respeito com a experiência humana que vivem. Mas isso não justifica ter como prioridade mudar todo o vocabulário científico que garante ações efetivas no parto e puerpério.

Vamos a um exemplo prático. Para não magoar pessoas trans na maternidade, a palavra vagina deve ser substituída por outra. A NHS, autoridade de Saúde Pública do Reino Unido, sugere "buraco frontal" ou "abertura genital". A abertura genital feminina tem alguns "buracos", entre eles um frontal que se chama uretra. Num serviço de saúde, confundir vagina com uretra pode dar um problema bem maior do que magoar alguém porque vagina se chama vagina.

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E aqui eu nem vou entrar na cara-de-pau de quem faz a sugestão. Chamar vagina de vagina seria algo tão perturbador para pessoas trans que todas as maternidades do país precisariam encontrar outros nomes. Não julgue, suponha que essa lógica seja verdadeira. Chamar vagina de "buraco frontal" faria o que com a saúde mental das mulheres? Não seria necessária uma atitude ainda mais urgente dado o número de pessoas psicologicamente afetadas por essa opressão? Nem o próprio raciocínio o identitarismo sustenta.

Ou a opressão por palavras existe e é grave ou não existe. O identitarismo precisa decidir. Se chamar vagina de vagina oprime gravemente pessoas, então chamar vagina de buraco também oprime gravemente outras pessoas. Segundo o próprio Stonewall, pessoas trans são aproximadamente 1% da população. A taxa de natalidade não é certa, vai de 25% a 50% dependendo do levantamente e inclui tanto partos quanto adoções. Ou seja, na estimativa que mais majora o número de pessoas trans na maternidade, falamos em 0,5%.

Aqui temos um placar de 99,5% de pessoas que deveriam ser defendidas pelas feministas contra 0,5% de pessoas que deveriam ser defendidas pelo identitarismo trans. Ambos os movimentos defendem que "words matter", palavras importam e precisam ser mudadas para evitar o colapso do universo. Por que a recomendação de Saúde Pública é mudar algo que está bem para 99,5% para algo que oprime 99,5%? Agora você entende porque a única saída é ganhar no grito.

Faço questão de mostrar a você o glorioso guia que foi produzido para criar dúvida sobre o procedimento correto em 99,5% dos partos. Quer dizer, dúvida ele vai criar em 100%. Também nos partos das pessoas trans haverá o risco de procedimentos inadequados porque a linguagem foi mudada e ficou dúbia. De repente, seria interessante perguntar às pessoas trans se elas topam mais risco no parto em troca de palavras diferentes. De repente, ninguém alertou nem os ativistas para a existência de algo chamado realidade, que se impõe.

Faço questão de traduzir para você esse maravilhoso guia, que já tem versões semelhantes nos Estados Unidos e Canadá:

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Amamentação seria substituído por algo como amamentação/apeitação e seria necessário usar os dois termos sempre em conjunto.

Leite materno seria substituído por "leite humano". O exemplo é FENOMENAL. Substituir "os nutrientes do leite materno são únicos" por "os nutrientes do leite humano são únicos". Atenção, pessoal da 5a série C: quem conta?

Substituir maternal por maternal/paternal. Em vez de "meça a temperatura maternal", "meça a temperatura maternal/paternal". Gente, como é que a enfermeira vai saber se é para tirar a temperatura da mãe, do acompanhante, dos dois ou apenas de um e tanto faz?

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O esforço para apagar as palavras mulher e mãe traz ainda vários outros danos. Não fica mais claro quando a mãe é a única pessoa que pode consentir e nem o direito dela à privacidade sobre os próprios dados e exames. "Quando uma mulher consente com um exame, ela deve ser informada sobre como receberá o resultado" é muito diferente de "Quando uma mulher ou pessoa consente com um teste, eles devem ser informados de como receberão os resultados".

O mais escandaloso para quem se diz tão incomodado com agressões verbais é sugerir que se diga "mulher ou pessoa". Já ficou decidido então que mulher não qualifica como pessoa mais? O sindicato mundial da misoginia deve estar babando de inveja. O identitarismo conseguiu o que os misóginos não conseguiam nem na Idade Média.

Aqui tem outra coisa que ignora completamente a realidade das pessoas. Desde quando a palavra pai é sinônimo de "segundo genitor biológico"? Foram tantas décadas para que se pacificasse no mundo a situação dos filhos adotivos e até nisso vai se mexer. E qual a razão? Uma teoria furada, sem nenhuma comprovação, de que palavras machucam. Mas só machucam 0,5% da população. Os outros 99,5% também são oprimidos e sofrem microagressões, mas não se machucam.

Tudo isso parece ridículo e é ridículo mesmo, mas está num documento público de uma das autoridades de Saúde Pública que é referência no mundo. O mais grave da recomendação é realmente assumir que dá certo misturar propaganda do identitarismo com ciência, dois mundos que não se comunicam. Veja os nomes que assinam o guia:

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Repare em quantos cargos importantes de "diversidade e inclusão" foram criados nessas instituições para expelir esse tipo de diretiva. E veja quantos especialistas têm de abaixar a cabeça a quem inventa uma bandeira e condena todo mundo que questiona.

Como diferenciar quem realmente quer um mundo mais justo, igualitário e inclusivo de quem embarca nessas ideias autoritárias? Uma primeira dica é o compromisso com a realidade. Temos aqui uma sugestão de política que pode criar vários problemas objetivos para todos os partos, inclusive das pessoas trans. Isso ajuda a incluir pessoas trans? Não me parece. E onde estão as metas a serem atingidas e as métricas de avaliação do método sugerido? Não estão.

Diante de autoritarismo e julgamentos morais pesados e injustos, ser reativo é um erro. Você pode ter vontade de gritar a plenos pulmões que pessoas trans nem deveriam engravidar ou ter filhos porque já têm problemas demais. Seria um julgamento moral pesado e injusto que validaria o ambiente selvagem que o identitarismo tem criado na sociedade.

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O que mais funciona para desmascarar o identitarismo é pedir que ele mostre resultados efetivos, com métricas, objetivos, avaliações e redirecionamento do percurso. Pode tentar em qualquer área de inclusão dominada pelo identitarismo: não vai ter. A grande especialidade do Che Guevara de apartamento é justamente a de gritar muito enquanto não faz nada.