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O mais importante para toda família é o futuro dos filhos. Arrisco dizer que beira o sagrado. Você pode definir família do jeito que quiser, atravessar as mais diversas culturas do mundo, comparar religiões: o sentido das famílias é a continuidade, é fortalecer as raízes que darão força às novas gerações. Se você tem filhos, sabe perfeitamente do que eu estou falando. Se você não tem filhos, também sabe perfeitamente o quanto as crianças dos seus familiares e amigos são especiais no seu coração.

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A forma como o governo vai lidar com as falhas no ENEM é a prova de fogo do respeito à família na prática, não apenas como discurso vazio.

Nesse momento, o menos importante para as famílias dos mais de 5 milhões de estudantes inscritos é política. Pouco interessa quem é o presidente, o nome do ministro da Educação, qual a ideologia deles. Pouco importa quem é o culpado pelos erros, se ele é competente, se ele fica ou sai do ministério. Interessa qual será a solução para o drama que os filhos estão vivendo diante da incerteza com os resultados.

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Os sonhos e planos de milhões de famílias brasileiras estão pendentes de uma solução para o resultado deste exame. Eu não preciso repetir o que talvez seja o maior clichê de todos os tempos, mas faço questão. O maior sonho de todo pai e de toda mãe é dar aos filhos a melhor educação possível, o único bem que jamais lhes será tirado. O ENEM é o grande definidor de destinos no Ensino Superior. Fazer a prova, saber que tem erros e não ter informações claras é uma tortura para as famílias.

Não há como continuar a administrar o mais importante para as famílias brasileiras, o futuro dos nossos filhos, como se fosse um grupo de Whatsapp de brucutus. O mínimo que se pode exigir é transparência e respeito.

As famílias não estão interessadas nas múltiplas nuances do debate político, querem saber qual é a solução para os filhos. Vão refazer o ENEM? Conseguiram superar os erros? Isso vai afetar o SISU? E se, depois que corrigirem tudo o meu estiver errado? Tem um prazo para os resultados? Haverá como entrar com recursos? As faculdades e universidades vão se adequar aos atrasos e reconsiderarão prazo de matrícula? Um governo que verdadeiramente respeita a família tem obrigação de responder essas questões para ontem.

É inadmissível milhões de famílias presenciarem o ministro da Educação atender um conhecido pelo Twitter e resolver os problemas da família dele enquanto os filhos das outras famílias são alvo de deboche e escárnio do irmão do ministro, assessor especial da Presidência da República. O Estado não é dono dos nossos filhos, não está acima das famílias e nenhum funcionário do Estado tem o direito de debochar dos nossos filhos quando reclamam eficiência na prestação de serviços.

Os estudantes brasileiros se esforçaram para ir bem no ENEM. Todos nós estamos acompanhando o drama de alguém mais novo na família e dos filhos de amigos angustiados sem saber se serão injustiçados. Se isso já é angustiante, avalie o que estão sentindo famílias as desses estudantes, todos casos reais:

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Leonardo Nascimento mora em Macapá, começou a trabalhar aos 13 anos de idade e precisou largar os estudos. A família se organizou para que ele, 11 anos depois, pudesse dar um passo adiante e entrar numa faculdade. Ele conseguiu entrar nos cursos preparatórios para o ENEM que o Amapá fornece gratuitamente, mas não tinha dinheiro para a condução. Durante o ano todo, caminhou diariamente 20 quilômetros, inclusive aos sábados, para se preparar.

Railton do Nascimento Amorim tem 17 anos e mora em Manacapuru, a 100 quilômetros de Manaus. Para chegar ao ENEM no horário, saiu de casa às 4h da manhã e pegou um barco no qual viajou 60 quilômetros até a zona urbana do município, onde fica o colégio em que prestou o exame. Chegou lá às 9h e ficou revisando matéria durante as duas horas em que aguardou o início do exame. Disse ao jornal O Globo: "Para quem sonha com mudança de vida, nenhum lugar é tão longe".

Geane Samara parou o colégio em João Pessoa quando chegou para o ENEM levando a tiracolo o filho recém-nascido, com 16 dias. A irmã foi junto, para ajudar com o bebê e ela fez intervalos no exame para amamentar. Não é uma adolescente, é uma mulher de 33 anos de idade diante da oportunidade única de dar àquele recém-nascido um futuro melhor do que ela teve.

Contei apenas três histórias tão emocionantes como são os sonhos e lutas das famílias. Quantas histórias tocantes haverá em mais de 5 milhões de famílias de estudantes que prestaram o ENEM? Quantos sonhos foram depositados nessa prova, quanta energia foi gasta, quantos familiares se mobilizaram o ano todo para que pelo menos uma pessoa ali pudesse correr atrás do sonho? Eles não merecem esse tipo de resposta:

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A postura de Arthur Weintraub, assessor especial da Presidência da República e irmão do Ministro da Educação realmente confirma todas as críticas que o próprio ministro e o presidente Jair Bolsonaro fazem às universidades públicas, principalmente as federais. É fato que duas das melhores universidades do Brasil, USP e Unifesp, conferiram doutorado e pós-doutorado em Direito a uma pessoa que entende este comportamento como adequado para um assessor da Presidência da República. É grave.

Não acredito nos que dizem que o governo de Jair Bolsonaro é assim mesmo e não sabe fazer de outra maneira. Ainda ontem, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, teve uma postura impecável ao prestar contas ao povo sobre uma crise que terá de ser administrada por sua pasta, a epidemia do coronavírus. Foi absolutamente técnico e transparente, o que é importantíssimo para as pessoas numa hora dessas. Explicou nos mínimos detalhes o que está sendo feito, como obter informações, quais são os cuidados que as pessoas devem ter. Há sim, na estrutura do Governo Federal, corpo técnico capaz e qualificado para gerenciar crises da forma como devem os homens públicos.

Há 4 dias um assessor especial da presidência da República tem se dedicado, inclusive em horário de expediente, a debochar de jovens, pais, mães e professores que cobram explicações sobre algo fundamental para milhões de famílias: o futuro dos filhos. É surreal imaginar que servidores públicos sintam-se completamente à vontade para tratar assim o contribuinte justamente em um governo conservador e que se diz defensor da família.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos diz, no parágrafo 3o do art. 16: "A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado". A Constituição Federal diz, em seu artigo 226: "A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado". Não é segredo para ninguém que o presidente Jair Bolsonaro defende de forma implacável a própria família. Ocorre que recebeu milhões de votos para defender as nossas. Está aí a prova de fogo: respeito e transparência na solução para os problemas do ENEM.