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Dilma Rousseff não foi convidada para o jantar de beatificação homenagem ao ex-presidente Lula em que houve o primeiro encontro público com Alckmin. Segundo a intriga da oposição, tratava-se de um processo de "geladeira". A ex-presidente estaria afastada por ser um tema espinhoso para uma campanha que vai englobar tantos golpistas do Golpe de 2016. Duvido que seja verdade, maldade do pessoal. Até o marketeiro do Bolsonaro foi convidado, devem ter esquecido.

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O racha entre Lula e Dilma quando ela se candidatou à reeleição teve lances de novela, relatado em detalhes na delação premiada de João Santana e Monica Moura. Ocorre que, para o petismo aguerrido, isso é tudo também intriga da oposição. Aliás, adoram pegar "checagem de fatos" sobre os pronunciamentos de Lula sobre Dilma para alegar que é uma teoria conspiratória da imprensa golpista.

Houve, aliás, uma passagem engraçadíssima desse negacionismo. O jornal espanhol El Mundo publicou uma entrevista com o presidente Lula. Falando da economia, ele teria dito que "Dilma traiu seu eleitorado". O jornal publicou exatamente isso. Depois houve uma errata, difundida com paixão pelos súditos de Lula lulistas: ele não disse que ela traiu, disse que o eleitorado sentiu-se traído. Ah, bom! Então é elogio.

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Agora, as palavras foram desnecessárias diante da eloquência da ausência de Dilma no momento mais icônico do retorno de Lula. A ex-presidente bateu de volta, disse que Alckmin seria o Temer de Lula. O vice-presidente do PT, Washington Quaquá, entrou em campo dizendo que Dilma não tem mais importância eleitoral. Logo em seguida, começou a sair na imprensa que havia um "mal estar" dentro do partido pela atitude. Logo em seguida, aparece no Twitter uma foto de Lula com Dilma.

Ou seja, Lula não queria Dilma perto mas o pessoal do PT reclamou e então ele resolveu fazer essa foto, certo? Se você concluiu isso, leia com atenção até o final do artigo para entender o mecanismo de fazer Fake News que eu usei aqui. Chama-se "breadcrumb trail" ou trilha de migalha de pão. É a arte de unir fatos reais com falsas relações de causa e consequência. Eu usei aqui e o petismo usa na operação salva-Dilma. Você vai achar muito mais gente usando.

Essa técnica é muito comum na política porque é fácil, difícil de contrapor e mexe com o funcionamento do nosso cérebro. Sabe a brincadeira de criança de olhar o céu e ver formatos nas nuvens? A atividade para a qual o cérebro humano mais tem talento é enxergar padrões, inclusive onde pode nem ter padrão. Ao ver os pontos, nós ligamos um ao outro e associamos a algo que já conhecemos.

E o que isso tem a ver com Fake News? Vamos pegar a que eu montei: Lula mudou de ideia sobre Dilma porque houve mal estar dentro do PT. Qual o problema com a frase? Nexo causal. Lula tinha deixado Dilma escanteada? Tinha. Houve gente que não gostou dentro do PT? Certamente. Quem garante que a mudança foi por isso e não outra razão mais objetiva, como uma pesquisa eleitoral interna, por exemplo? Talvez só o próprio Lula, que não confirmou nem desmentiu nada.

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Mas ele não pode ter mudado de ideia porque o PT chiou e aquele bando de "não vai ter golpe" ficou pressionando? Pode. Em que outra situação isso aconteceu? Houve muito mal estar no PT em outras ocasiões e Lula bateu o pé e continuou fazendo o que queria. Um exemplo? Quando Marina Silva saiu do Ministério do Meio Ambiente porque Lula quis liberar Belo Monte de qualquer jeito. Ou quando Christovam Buarque foi demitido do Ministério da Educação por telefone.

Mas os outros defenestrados do PT não foram presidentes da República por dois mandatos como Dilma Rousseff, então Lula pode ter agido diferente no caso dela. Claro que pode. Pode ser e pode não ser. A questão é: nós sabemos isso? Não, não sabemos. Ou aceitamos que talvez nunca saberemos ou escolhemos a hipótese mais confortável intelectualmente, que case com a ideia que fazemos sobre Lula. Adotar essa hipótese como fato é o pulo do gato das Fake News. É exatamente isso o que está sendo feito na operação salva-Dilma.

Esta postagem tem circulado nos grupos de tiozões do zap petistas, mas eu já vi até jornalistas embarcando em trechos disso nas redes. Como eu não gosto de passar raiva sozinha, vou explicar essa teoria ponto a ponto a você. A maioria dos fatos citados é verdadeira. Qual o truque? Criar falsas relações de causa e consequência entre um fato e outro. A linha central é a de que Dilma sofreu um golpe porque não quis dar o pré-sal para os Estados Unidos.

Se for possível, pare de rir e continue a ler meu texto que ainda tem muito mais. A história parte de um encontro entre o então vice de Obama e atual presidente dos Estados Unidos com a então presidente do Brasil para discutir a participação norte-americana no pré-sal. Logo em seguida, Dilma descobriria que foi grampeada pelos EUA e reclamou na ONU. Foi então que começaram os movimentos de junho de 2013 que culminaram no impeachment.

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Tudo isso realmente aconteceu e nessa ordem. O que não é comprovado nas postagens é o nexo causal entre uma coisa e outra. "Ah, mas não é a cara dos Estados Unidos tirar da frente o governo que fica contra os interesses deles?". Já fez muito isso por causa de petróleo realmente, mas a questão é outra: neste caso específico, sabemos se isso ocorreu ou trata-se como fato uma dedução?

Esse pedaço da narrativa de Fake News do salva-Dilma é o mais famoso. Só que a versão completa está mais emocionante que capítulo de reviravolta em "A Usurpadora". E temos participações especiais até do Bin Laden, primavera árabe, Moro e Dallagnol são agentes da CIA, a Coca-Cola participou, Marina Silva estava no meio e o acidente de Eduardo Campos comprova. Você pode achar que ninguém vai acreditar nisso. De falta de otário o Brasil não morre.

RESUMO ANIMADO DA TEORIA COMPLETA:

Tudo começa com o ataque de Osama Bin Laden às torres gêmeas em 2001. Logo em seguida, os EUA invadem o Iraque, matam Saddam, entram numa crise imobiliária, daí invadem a Líbia e matam Kadafi. Justo aí o Brasil vira alvo porque descobre o pré-sal. Estamos em 2009, Venezuela sofre sanções porque não quis entregar seu petróleo aos EUA. Enquanto isso, o Brasil voando alto.

O mundo morrendo de inveja do Brasil, que despontava entre os BRICS (sim, tava dando olé na China). A Europa derretia, veja que até hoje nenhum revolucionário de boutique mudou para nenhum país europeu de tão ruim que ficou lá. Estados Unidos em crise, geral tentando imigrar ilegalmente para Governador Valadares.

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Justo quando todos os problemas do Brasil haviam sido resolvidos, humilhando os EUA, Europa e até a China, Joe Biden desembarca aqui e quer tomar o pré-sal de Dilma. A presidente nega porque é maravilhosa e quer colocar o dinheiro na Saúde e Educação. Biden então faz uma reunião sozinho com Michel Temer e começam as passeatas de junho de 2013. No ano seguinte, Sergio Moro vai aos EUA. Logo depois, cai o avião de Eduardo Campos e Marina Silva apóia Aécio no segundo turno.

Aécio tenta ir para o tapetão e Temer já vai também para os EUA combinar o golpe de Estado. Serra tenta tirar o pré-sal do Brasil e dar para os ianques. Dilma Rousseff não cede mesmo ameaçada. Descarta uma aliança com o centrão e acaba impichada. Vazam as gravações em que Romero Jucá fala de costurar um acordo com o STF e com tudo para estancar a sangria.

Nem assim nossa heroína cede. Defende com o próprio sacrifício que o dinheiro do pré-sal vá para a Saúde e Educação, não para o bolso dos ianques. Acaba sofrendo um golpe de Estado. Depois disso, a Petrobrás degringola e Temer finalmente entrega tudo para os ianques, deixando o país à míngua. A economia desaba. Sergio Moro dá o golpe final juntando-se a Jair Bolsonaro.

Como a Lava Jato quebrou o país, a Petrobrás degringola mais. O desemprego vai às alturas e a gasolina passa a ser vendida em joalheria de tão cara que fica. Todos os agrotóxicos do universo, inclusive os proibidos até em Chernobyl, são liberados. Cereja do bolo: toda a água subterrânea do país está agora nas mãos da Coca-Cola.

"As demais áreas do pré-sal seguem sendo entregues aos EUA. Voltamos a ser quintal dos EUA e fadados ao eterno atraso econômico, social e moral do Brasil", conclui o documento.

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Contando a história completa, parece impossível alguém acreditar numa maluquice dessas. Vou ensinar um truque: vai lançando um pedacinho de cada vez e provoca com perguntas. "Mas não é coincidência demais os protestos de 2013 começarem logo depois que o Biden vem aqui, toma um não da Dilma e se reúne a sós com o Temer?". Você também pode usar a depreciação: "Tem de ser muito ingênuo para acreditar que é coincidência" . Você vai ver muito disso nas redes este ano.

O mais interessante das Fake News dos tiozões do zap petista é acusar Jair Bolsonaro de ter inventado isso ou de ser pioneiro no uso em campanhas. Deve ter sido descuido a parte em que fala da segunda campanha de Dilma Roussef não mencionar o que fizeram com Marina Silva. Aliás, nessa versão, a culpada é Marina e a queda de avião de Eduardo Campos favorece os EUA.

Vi gente que ficou chocada com o nível de absurdo. Eu não fico. Não é a primeira vez que se faz uma operação salva-Dilma com Fake News demonizando os adversários dela. Na primeira, reelegeu-se para presidente da República. Não custa nada repetir a fórmula.