Em linhas gerais, antes de olhar para a cara do condutor já é possível escolher sequer optar pela gentileza do bom dia, boa tarde, boa noite. Isso sem contar que essa categoria encarece as corridas. Nos Estados Unidos, onde já funciona há alguns meses, o preço fica entre 20% e 40% a mais que a corrida comum, aquela com a possibilidade de conversa.
Claro, você pode dizer: "mas é minha opção falar ou não, desejar ou não interagir com um completo desconhecido que apenas busco a prestação de um serviço".
De fato, não conheço ninguém que tenha pedido um carro por aplicativo com a intenção de encontrar o amor de sua vida ou tecer longos papos sobre a existência humana e o destino da Terra.
Mas isso não impede que, ao embarcar, seja franco ao motorista e diga que não está a fim de conversar. E acredite: vai ficar tudo ok. Somos humanos, lotados de sentimentos e sensações.
No entanto, alguns dos mais nobres, como a cordialidade e a empatia, estão sendo sugados pelo ralo das novas gerações absorvidas pela luz dos seus smartphones.
Angelis Bogdan, psicóloga especialista em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, explica que as inovações e tecnologias têm dois lados. "Temos dias em que precisamos estudar para uma prova, focar no trabalho, ou apenas ficar quieto. Mas, por outro lado, vem o alerta: nada substitui o contato pessoal. Aprendemos uns com os outros. Se quiser usar essa preferência no aplicativo, que faça esporadicamente, não como regra para a vida", explica.
Para a psicóloga Viviane Minozzo, especialista em Inteligência Emocional e em Comportamento Humano nas Organizações, a novidade traz uma reflexão sobre a humanização do trabalho. "Um simples 'bom dia' passa a valorizar o profissional que nos presta um serviço. A questão é essa. Existem pesquisas ainda não conclusivas sobre tecnologia e o isolamento social. Isso pode aprofundar a questão", acrescenta.
Eu, como jornalista, sou um colecionador de personagens e histórias da vida real. Nas infinitas viagens que já fiz com motoristas de ônibus, de aplicativo e taxistas, vivi muita coisa. Sei que já fui psicólogo e também paciente.
Certa vez, um taxista revelou que não dormia há três dias e seguia trabalhando por precisar do dinheiro. Disse que falar com os passageiros e rodar pela gigante São Paulo fazia amainar a dor da recentíssima perda da mãe.
Outro, extremamente preconceituoso sobre religiões, conseguiu abrir a mente para o diferente no trajeto que fiz um dia do trabalho para casa.
Conheci uma mulher que trabalhava das 7h às 17h em um emprego formal e que, seguia depois do expediente até a meia-noite nos aplicativos para garantir um futuro melhor para a filha. E, sim, o dinheiro custeava com folga a faculdade particular famosa, os livros, xerox e lanches da futura advogada, promotora, ou juíza.
Falei até mesmo com um importante construtor que usava um modelo importado caríssimo no serviço de aplicativo. Afinal, era a única coisa que lhe restou depois da repentina falência vinda de calotes tomados de clientes durante a crise econômica que o Brasil passa e um contrato malfadado com empresas que foram pegas pela Operação Lava Jato.
Retratos do cotidiano e de gente que, mesmo que não acreditemos, tem muito mais em comum do que diferenças conosco. Mesmo que do outro lado da tela, não vou me furtar ao bom contato cortês com você, leitor. Portanto, obrigado. Bom dia, boa tarde, boa noite. E até a próxima.
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