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Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko

Reflexões sobre princípios e cidadania

Lista atualizada de todo mundo que já foi chamado de fascista pela esquerda

Marina Silva, ex-ministra e ex-senadora. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Avalie se a Hebe ressuscitasse e, diante do reconhecimento nacional sobre alguém ser uma gracinha, disparasse com orgulho: "Eu avisei que ele era uma gracinha". Deixo consignado que eu seria da galera que passaria pano e diria que ela avisou mesmo, esse é o dever do fandom. Pessoas sensatas, no entanto, não engoliriam. A Hebe era incapaz de passar por alguém sem dizer que era uma gracinha. Podia ser até cachorro ou planta, entrou na mira de Hebe Camargo, automaticamente estava promovido a ser uma gracinha. Obviamente, se alguém mais fizesse a afirmação, ela teria avisado.

O que equivaleria a Hebe Camargo, diante de alguém chancelado como "uma gracinha", avisando: "eu disse que ele é uma gracinha"? A esquerda brasileira dizendo: "eu avisei que ele era fascista". Desde que a política virou o parque de areia antialérgica bancando valente em rede social, partimos para a esculhambação. É um fenômeno que toma o debate público a partir de 2010 e parece estabelecido. O pessoal viu fascismo até em barraquinha de cachorro quente e agora quer se limpar da banalização do termo. Ah, pode ir querendo.

Banalização de termo, aliás, é uma especialidade da era da gourmetização da política nacional. O pessoal também encontra até em pastelaria de bairro comunismo, socialismo fabiano e globalismo. Fascismo e genocídio então, não resta a menor dúvida de que a pastelaria também vende. Basta ressignificar a massa, o recheio e todo o contexto histórico do patriarcado que vocês finalmente verão direitinho tudo isso. Eu oro todos os dias para que a ala gourmet da política continue procurando suas paranóias mas encontre vergonha na cara.

Pensei em lançar, como cidadã, o programa "Minha louça, minha vida". Não o fiz ainda esperando decisões de correligionários que pretendem substituir a palavra louça por enxada ou laje, alegando misandria da minha parte. Qualquer que seja a escolha, no entanto, combaterá uma epidemia colateral que sofremos, a de tentar botar emoção na vida de quem não lava nem a própria cueca. A maior emoção real da vida dessa pessoa é o quê? Brigar com papai por mais mesada? Revoltar-se porque não deu algo a que julga ter direito? Muito chato. Mas emoção envolve risco e p pessoal anda de sapatênis hoje em dia para não arriscar nem ter de escolher entre esporte e social.

Que tal imaginar-se um guerreiro contra o fascismo, o comunismo, os piores ismos do mundo, mas não ter de arcar com o ônus disso? Seus problemas se acabaram!!! Agora, com a nova militância do parque de areia antialérgica das redes sociais, você pode dar os nomes mais pesados a coisas simples e fingir ser um herói!!! Marina Silva não gostou de ser esculachada? Fascista! Alckmin falou uma coisa morna? Fascista!!! E daí você se autointitula antifascista que realmente combate o fascismo sem precisar correr riscos!!! (Na minha mão é mais barato, apurem-se!)

Virou moda ultimamente colocar um marco temporal pessoal para o início de qualquer história. Explico. A esquerda afirma que "todo mundo sabia a que veio Bolsonaro". Mas isso serve exclusivamente para chamar de fascista os eleitores do presidente na última eleição. Não serve para chamar do mesmo termo quem aceitou o apoio declarado dele em eleições anteriores, como Ciro e Lula. Também não serve para descrever os líderes do PT passando pano para sucessivos pedidos de fuzilamento de FHC e fechamento do Congresso.

Qual a diferença entre uma postura e outra? Alegam que a outra faz tempo, que não pode ser equiparada. Que, naquela época, era diferente. Mas, em 2018 não era diferente do pós-pandemia por quê? Maldosos diriam que é porque não favorece a narrativa da esquerda sobre a própria santidade e monopólio da virtude. Claro que não é isso. Meu podcast "Histórias que não posso contar", com documentos históricos da política brasileira pós 1988 bateu recorde de acessos ontem. A nossa memória curta nos leva a permitir publicamente que militantes incompetentes queiram apagar a história de antes de 2013, quando Dilma resolveu romper com Lula. Fossem competentes como a esquerda com base social era, já teriam uma belíssima justificativa para isso e sua relação com a luta de classes.

É um bom truque poder escolher a partir de qual momento não é aceitável fazer parte de um grupo, principalmente se você esteve no grupo antes. Só marcar sempre depois da sua saída o episódio ou esquecer. Por exemplo, Dilma Rousseff nunca indicou Marco Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A esquerda sempre avisou que esse pessoal todo era fascista. Fato é que a esquerda brasileira pós-gourmetização tem o hábito de xingar de fascista quem discorda um milímetro, ou seja, todo mundo. Vamos a uma lista dos recordistas, com destaque especial para Marina Silva, chamada de fascista por não concordar com a campanha sórdida do PT contra ela em 2014. Se tudo é fascismo, nada é.

O conselheiro do Instituto Teotônio Vilela, Jorge Lopes Cançado, dedicou parte do seu último final de semana a reviver esses momentos idílicos da política nacional em sua conta de twitter. Isso já havia sido feito por inúmeros perfis nas eleições de 2018, em que o povo chamava tanta coisa de fascista que até os fascistas reais estavam começando a ficar ofendidos. Grosso modo, simplificando até quase a imbecilidade, fascismo é uma imposição totalitária de governos centrados nos conceitos de nação e raça, renegando o indivíduo. Quando até a Rede Globo e a Folha de São Paulo viram fascista, acho que desviamos um pouco.

RANKING DOS MAIS XINGADOS DE FASCISTAS PELA ESQUERDA:

1. PSDB
O campeoníssimo de acusações de fascismo pela gloriosa esquerda brasileira, medido por quantidade e persistência das acusações no tempo, segundo o instituto Madeleine Lacsko, é o PSDB. Considero até uma ofensa contra os bolsonaristas. Vamos a algumas peças sensacionais produzidas nesse sentido:

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2. Geraldo Alckmin
Tendo a pensar que o pessoal perdeu o medo mesmo de fascismo quando colaram a pecha no ex-governador de São Paulo. Há que se escolher. Ou o apelido é picolé de chuchu ou é fascista, não dá para conviver com as duas coisas ao mesmo tempo. No entanto, é esse daí o fascismo sobre o qual a esquerda alertava, em mais uma belíssima galeria de fotos: Alckmin é mais fascista que Bolsonaro.

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3. Marina Silva
Como todos os que se afastam do PT e não aceitam esculacho público da esquerda que passa pano para petista, Marina Silva obviamente foi chamada de fascista de extrema-direita. E, obviamente, como toda mulher que não compra o pacote completo da esquerda, perde o direito de ser defendida por feministas. Não é machismo dizer que "Marina é recalcada porque Lula escolheu Dilma". Nesse clima dos romances Júlia e Sabrina, não importa quem Lula escolha, se não for a escolhida, já vira extrema-direita.

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3. José Serra
Pelo menos chegamos a alguém cujo apelido jocoso era Nosferatu. Porque, sinceramente, a esquerda focar as acusações de fascismo em Marina Silva e Geraldo Alckmin esculhambou completamente o significado dessa palavra aqui no Brasil. Os motivos pelos quais José Serra é fascista são os mais óbvios: ele não é a favor de 100% de tudo aquilo que o PT é. Este é o novo significado da palavra fascista no dicionário do parque de areia antialérgica da militância gourmet de twitter. Aliás, o vídeo mostra o pessoal xingando Serra de fascista. Em Lisboa, claro, que não tem essa pobraiada toda de Terceiro Mundo.

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4. Rachel Sheherazade
Minha colega jornalista já aceita como ser humano por parte dos progressistas após aderir ao #EleNão e ser massacrada pelos bolsonaristas nas redes. Em parte da esquerda-raiz, no entanto, ela continua sendo tratada como um ser quase tão humano quanto os monopolistas da virtude. Como a xingavam de fascista e nazista a torto e a direito, ainda comemoram quando é atacada e as defesas são tão discretas que às vezes nem existem. Ah, e fique claro: nada contra ela é machismo ou misoginia se vier da esquerda.

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5. Boris Casoy
Sim, até o Boris Casoy. Eu decidi ficar só em 5 porque desconfio que, se bobear, capaz dessa galera da militância gourmet ter chamado até o próprio Lula de fascista em algum momento. Pensando bem, a Hebe era mais comedida em chancelar as pessoas como "uma gracinha". Assim como no caso de Rachel Sheherazade, é comum que jornalistas queridos no meio utilizem seu capital afetivo para xingar desafeto de fascista. No caso de Boris Casoy, foi Paulo Henrique Amorim. Só que a história foi parar no Judiciário e teve pedido público de desculpas. A militância de esquerda não ouviu, está chamando o jornalista de fascista até hoje.

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FAIXA BÔNUS DOS NOVOS FASCISTAS, SEGUNDO A ESQUERDA DO PARQUE DE AREIA ANTIALÉRGICA:

Quanto a mim, tenho a honra de jamais ter sido chamada de "fascista", já que adotaram a corruptela carinhosa "fascistinha" para lidar comigo. O fato de ser considerada "madame da direita" pela parte da esquerda que fantasia sobre a minha pessoa garante o privilégio. Agradeço ao querido Guilherme Boulos que, com o veemente combate contra a estigmatização de mulheres e a misoginia, conseguiu que sua militância tivesse tal delicadeza. Parabéns, PSOL!!! Vocês sempre se superam.

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Diante deste cenário, estou centrando todas as minhas forças na difusão do conto "Pedro e o Lobo", de Prokofiev. Resumindo para quem tem preguiça, toda hora o Pedro gritava que estava diante do Lobo. Só que ele estava diante da Marina Silva, o Bóris Casoy, a Rachel Sheherazade, o Geraldo Alckimin e eu. Provavelmente diante de você, da sua mãe, da sua tia Lourdes que ama grupo de whatsapp e da irmã Rebeca da Assembleia de Deus, que é contra o aborto. Um dia, ninguém mais ficou com medo quando ele gritava que era o lobo. Nossa, que coisa!

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A política brasileira se acostumou a ver a esquerda chamar de fascista o que não era nem próximo de fascismo. Virou um xingamento equivalente a bobo, chato ou feio e usado rigorosamente nas mesmas situações. Não gosta de alguém? Fascista. Não aceitou 100% seu ídolo político? Fascista. Não xingou de fascista a pessoa que você está xingando de fascista? Fascista. E quais as atividades tão danosas de fascistas como a irmã Rebeca da Assembleia de Deus? Exalta-se um pouco na campanha contra o aborto. Dizem as fofoqueiras da igreja que exagera no lanche pós-culto. Realmente não parece algo de que a gente deve ter tanto medo assim.

A escolha da esquerda por cravar a marca temporal da dignidade política no último governo Dilma ou no processo de impeachment faz todo o sentido. Mostrada de forma completa, a história mostra que somos todos humanos, não anjos contra demônios. Meu falecido avô, quando quebrava banco para protestar contra a ditadura Vargas, xingava todo mundo de fascista. De lá para cá, a esquerda brasileira nunca mais achou outro xingamento tão bom. Agora tentam emplacar "genocida". Ainda terei dinheiro para isso, sou mais da ala que chama de ladrão, assassino e covarde mesmo. Periferia, sabe?

Nunca se "avisou" sobre fascistas, como reivindica agora nas redes sociais o parque de areia antialérgica da militância de esquerda. Sempre se chamou de fascista todo mundo que se afastou do PT ou que criticou o PT, é isso o que o brasileiro passou a entender do uso dessa palavra pela esquerda do país. E, sejamos francos, é isso o que a própria esquerda sempre disse. A tática linguística foi pegar uma palavra estigmatizante e abjeta para os que não aceitam 100% do pacote de crenças na tentativa de eliminar críticas e questionamentos. Deu super certo, né?

Alguém precisa avisar que ainda não é obrigado casar com o erro no Brasil. O PT pode dizer algo como: "erramos ao dizer que a Marina Silva era a extrema-direita fascista, não deveríamos ter feito o assassinato de reputação sob a batuta de João Santana e obrigado por apoiar o Haddad na última eleição". Politicamente, seria mais efetivo e agregador do que insistir na mentira de que avisaram algo ou foram mais limpos no jogo político. Mas isso só vale para democracias. Se o tabuleiro é o populismo, esqueça tudo o que eu disse. Pensou em não elogiar o líder supremo, é fascista, comunista e o raio que o parta.

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