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Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko

Reflexões sobre princípios e cidadania

O brasileiro é um povo solidário?

O comportamento do brasileiro diante de grandes tragédias demonstra que somos solidários na dor. Muitos nos mobilizamos de diversas formas em ocasiões como Brumadinho, Mariana, o desabamento no largo do Paissandu ou em grandes enchentes. A comoção se traduz muito rapidamente em doações, organização de campanhas e até viagens para ajudar quem sofre diretamente as perdas. Mas, de alguma forma, esse sentimento não se traduz em ações cotidianas de solidariedade.

Nossa cultura é muito influenciada pelos Estados Unidos, onde o voluntariado é uma instituição. A participação em ações sociais conta pontos para admissão em faculdades, em alguns mestrados e é diferencial em processos seletivos para empregos. Temos a noção de que ajudar é importante mas, por algum motivo, isso não é convertido em ações cotidianas.

De acordo com o último "World Giving Index", um índice que avalia o voluntariado em 144 países, os Estados Unidos estão na 4a posição e nós, o Brasil, na 122a.

Experimente pedir a alguém para pensar numa ação de voluntariado. Imediatamente vêm à mente o trabalho belíssimo feito por milhares de pessoas em hospitais e o tradicional sopão que muitas organizações e até grupos de amigos distribuem para moradores de rua. Falamos pouco sobre o tema e, talvez por isso, não tenhamos olhos para ver inúmeras oportunidades de ajudar dentro das nossas especialidades profissionais.

De acordo com o World Giving Index, há 3 formas de ação que são consideradas voluntariado:

1. Ajudar um estranho ou alguém que você não conhece mas precisa de ajuda.

2. Doar dinheiro para alguma instituição.

3. Doar tempo de voluntariado para alguma organização.

Em todos os 144 países avaliados, o voluntariado tem aumentado. Há uma diferença entre a forma de ajudar nos países ricos, em transição ou em desenvolvimento. Estender a mão a um desconhecido é algo presente em todas as culturas, já a doação de dinheiro e tempo é mais frequente onde a economia caminha melhor.

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No Brasil, algo determinante para transformar em ação o sentimento de solidariedade é pertencer a alguma comunidade que se preocupe com isso. Segundo o IBGE, 79,9% dos brasileiros que fazem voluntariado estão ligados a congregações religiosas, sindicatos, condomínios, partidos políticos, escolas, hospitais ou asilos. É nessas instituições ou por meio delas que o trabalho acontece.

Outros tipos de organizações da sociedade civil, como associação de moradores, associação esportiva, ONG ou grupo de apoio concentram 13% do trabalho voluntário no país. O número é próximo do voluntariado exercido de forma individual: 9,8%.

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O brasileiro tende a vincular suas doações de tempo ou dinheiro a instituições em que já confia, seja por questão religiosa, ideológica ou comunitária. Isso demonstra a crise de confiança que geralmente aparece em pesquisas ligadas a política ou instituições. Apesar da disposição para doar, há o medo de ser passado para trás ou instrumentalizado por pessoas com más intenções. Dar aos brasileiros parâmetros seguros para avaliar organizações da sociedade civil tem sido um dos principais desafios do Terceiro Setor.

O IDIS, Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, tem trabalhado há anos no estabelecimento de parâmetros de transparência e avaliação de resultados nas organizações que fazem trabalhos sociais. Além da confiabilidade, há ainda o trabalho com a estratégia: honestidade é importante, mas é preciso trabalhar para que boas iniciativas tenham impacto social efetivo.

Se você tem vontade de ajudar, de demonstrar sua gratidão doando algo a quem precisa, há uma ferramenta muito interessante: Descubra sua Causa.

Há pessoas que têm naturalmente identificação com uma causa, mas muitos se sentem sensibilizados por diferentes questões e às vezes ficam perdidos ao escolher uma. Por meio de um teste psicológico na plataforma, que avalia desde questões objetivas até os heróis preferidos, a pessoa é apresentada a um rol de causas com as quais pode ter identidade. Esse é o ponto de partida.

A partir de cada causa, são apresentadas diversas formas de ajudar, algumas inclusive com remuneração. Também são formas de ajudar no desenvolvimento da sociedade fazer trabalhos alinhados com as causas em que acreditamos e empresas que seguem princípios no seu dia-a-dia.

Duas outras plataformas concentram possibilidades reais de doação e voluntariado em entidades que já foram avaliadas com relação ao tipo de trabalho prestado e à idoneidade. Pela Atados é possível encontrar oportunidades reais para doação de tempo. Já a plataforma BSocial concentra as instituições que recebem doações financeiras.

Amanhã, 3 de dezembro, acontece no mundo inteiro o Dia de Doar, campanha que envolve organizações da sociedade civil, artistas e cidadãos que desejam um futuro melhor. A data é comemorada todos os anos na primeira terça-feira após a Black Friday.

Se você tem vontade de ajudar, mas na realidade não tem tempo disponível, está lutando com seus próprios problemas ou vive problemas financeiros, não se sinta menos capaz. Nas plataformas, é possível encontrar oportunidades de ajudar com ações muito simples, como produção de texto, de desenhos ou até mesmo divulgar determinadas ações nas suas próprias redes para amigos e familiares.

Há alguns anos imaginamos que a hiperconectividade por meio das redes sociais nos tornaria mais unidos. Não foi bem assim, o ser humano é complexo e muitos se esconderam em solidão atrás de um computador onde simulam uma vida perfeita para seu público. Essa mesma internet pode ser utilizada para formas reais de conexão, aceitando que todos tempos problemas e falhas mas, ainda assim, a nossa união como famílias e comunidades é benéfica para todos e cada um.

Nesse Dia de Doar proponho um convite a todos nós. Que tal trocar, só por um dia, o tempo de dedicado a confrontar desconhecidos por um tempo dedicado a crescer? Esqueça os posts alarmistas e as convocações de ser contra algo urgentemente e coloque essa energia e urgência em encontrar os que precisam da sua experiência de vida, do seu talento, das suas habilidades. A vivência de fazer a diferença no mundo não melhora só a vida dos demais, reacende a esperança dentro de cada um.

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