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A política brasileira elegeu duas tradições um tanto quanto particulares para suas horas mais graves: o PowerPoint malfeito e a citação literária.

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Há poucos dias, num anúncio econômico sem a equipe econômica vimos um PowerPoint com sete slides cuja precisão estética era muito assemelhada ao PowerPoint mais famoso da história da política mundial, o do procurador Deltan Dallagnol.

Vazar comunicações particulares à opinião pública não se pode dizer que seja uma tradição brasileira, trata-se de algo tão antigo quanto o exercício da política. Já a delicadeza de colocar pitadas de erudição nessas divulgações é uma tradição nossa muito recente.

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Michel Temer não chegou ainda à era do político tuiteiro, prefere o telegrama, coisa que muito jovem nem sabe direito do que se trata. Mesmo assim o vazou, um telegrama decisivo para os rumos do impeachment de Dilma Roussef. "Verba volant, scripta manent", dizia a abertura do texto. Trata-se de um provérbio latino: "As palavras voam, o que se escreve fica".

Outro momento grave da nossa história será marcado pela erudição. O presidente Jair Bolsonaro resolveu exonerar Maurício Valeixo, o diretor da Polícia Federal indicado por Sergio Moro. No Diário Oficial estampa-se exoneração "a pedido", algo que confunde a cabeça de quem não tem intimidade com a burocracia do serviço público. Se não é por justa causa, é praxe colocar-se "a pedido", mesmo que não seja.

O ministro da Justiça flutua entre rumores de que deixaria o governo caso a demissão acontecesse. No meio da madrugada, logo após as 3 da manhã, a mulher dele posta um buquê de rosas com o poema Ausência, de Vinicius de Moraes.

Rosas e Poemas. Para o ❤️.:

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Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.