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Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko

Reflexões sobre princípios e cidadania

Big Techs

Pandemia derruba confiança em Facebook e Twitter e aumenta no Google e Amazon

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(Foto: Pixabay)

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Sua visão sobre redes sociais mudou com a pandemia? Geralmente pensamos que não, mas lembre bem como era sua vida antes desse pesadelo. Com certeza o uso que fazíamos das redes e nossa necessidade de conexão por meio delas mudou. É por isso, aliás, que a digitalização de empresas em todo o mundo foi acelerada. Desde 2020, o site especializado The Verge faz pesquisas de opinião sobre confiança nas Big Techs. A pandemia mudou as coisas.

Quanto a confiança, Google e Amazon ganharam pontos entre os usuários enquanto Twitter e Facebook perderam. É crescente entre os norte-americanos a ideia de que algumas Big Techs são grandes demais e devem ser divididas em alguns casos. O principal exemplo é o do Facebook. O líder em todo tipo de desconfiança é o Tik Tok. A confiança, no entanto, não tem nenhuma relação com uso ou engajamento na plataforma.

Recentemente, o Tik Tok passou o YouTube em tempo de permanência na plataforma. O coração financeiro e da tomada de decisões de todas as Big Techs é este: quanto tempo são capazes de reter o usuário na plataforma. Quem nunca pensou que iria ficar 5 minutos em uma rede social e foi sugado por mais de hora? Pense em Netflix, por exemplo. Você consegue ver só um episódio por dia? Nós crescemos vendo séries em um episódio por semana.

A visão sobre a postura das Big Techs na pandemia é interessante. Para 72% dos usuários, elas aproveitaram-se da situação para aumentar seus lucros. Ao mesmo tempo, para 68% dos usuários, essas empresas apoiaram seus consumidores durante a pandemia. A Amazon realmente passou a ser muito mais usada e ampliou seu leque de ofertas. Cresceu o número de usuários que diz não precisar mais saber quem é a empresa dona do produto que está à venda na plataforma, sentem-se à vontade comprando da Amazon. Mas as reclamações aumentaram de 9% para 13% dos usuários.

O Tik Tok é a empresa da qual mais se desconfia nos Estados Unidos. Tem recorde de rejeição, 46%. O Twitter está brigando para levar o troféu. Subiu de 39% para 42% o percentual de quem tem uma visão desfavorável sobre a empresa. Logo atrás estão Facebook com 34% e Instagram com 28%. Plataformas como Netflix, Google e YouTube são vistas de forma desfavorável apenas por 10% dos usuários.

Apple, Amazon, YouTube, Google, Microsoft e Netflix são vistas pela maioria dos usuários como um bom impacto para a vida em sociedade. É uma minoria que relata considerar o impacto ruim, mas essa minoria cresceu do ano passado para cá, ainda que não chegue a 10% em nenhum dos casos. Aproximadamente 1/3 das pessoas diz que tanto o Facebook quanto o Tik Tok têm impacto negativo na sociedade. O percentual dos que consideram o Facebook ruim para a sociedade e neutro para a sociedade é praticamente o mesmo: 1/3. Já o Tik Tok só tem 27% de usuários em sua defesa.

O principal impacto é a análise que as pessoas fazem sobre o poder das Big Techs após o início da pandemia. Cresceu o número de pessoas que está preocupada com a concentração de poderes. Continua em 72% o número dos que creem que o Facebook tem muito poder, mas diminuiu o número de quem está de acordo com a união entre a empresa, o Instagram e o Whatsapp. O número de pessoas que diz não usar o Facebook porque discorda da forma como a empresa conduz seus negócios saltou de 27% para 43%. Também aumentou o percentual que defende dividir o YouTube e o Google.

Quanto ao futuro das empresas, o Twitter ganha em pessimismo até do Tik Tok. Quando perguntam se a pessoa ficaria desapontada caso a empresa desaparecesse, 30% ficariam no caso do Tik Tok e só 28% no caso do Twitter. Eram 33% antes da pandemia. O otimismo com relação ao YouTube já era alto e aumentou. Entre os usuários, 77% afirmam que ficariam desapontados se a empresa desaparecesse. São exatamente as mesmas pessoas que passam mais tempo no Tik Tok do que no YouTube.

Este talvez seja o maior nó da nossa sociedade, entender como lidar com a economia da atenção. Sempre valorizamos mais o que tinha mais valor para as pessoas, o que tinha mais credibilidade, gerava mais confiança. A noção de audiência já distorce essa lógica de certa forma, nem sempre vemos algo porque confiamos, muitas vezes vemos coisas só para conferir o absurdo ou poder falar mal. Na era digital, subimos ainda mais um degrau: valoriza-se o que engaja, o que provoca alguma reação.

É por isso que o coração das decisões de uma Big Tech está em quanto tempo consegue manter o usuário na plataforma. Quanto mais tempo ele fica, mais dados ela coleta, mais material dos clientes pagos entrega e mais cliques obtém neles. A mina de ouro é o tipo de postagem que te faça clicar, compartilhar, compartilhar print, comentar ou repostar. Repostar falando "olha o que esse idiota disse" também valoriza a postagem, a métrica é a interação. E a imprensa já está viciada nessa métrica.

No depoimento da delatora do Facebook no Senado dos Estados Unidos este é o ponto central. Frances Haugen disse claramente que não houve intenção da empresa de controlar mentes, acirrar a polarização, escangalhar a saúde mental das pessoas ou corroer o processo democrático no mundo. Ocorre que o Facebook já tem pesquisas mostrando que esses são efeitos colaterais da decisão de distribuir mais os posts que mais engajam. Por que não para? Porque quebra e quebram com ele uma tonelada de pequenos negócios no mundo.

Nada disso aconteceria se conseguíssimos conter nossos impulsos mais sombrios, os sentimentos paralisantes. Recalque, raiva, ódio, inveja, vingança e ressentimento são poderosos. Tomados deles, geralmente pulamos a parte de pensar antes de falar ou agir. Governos no mundo todo estão mobilizados na solução desses problemas sem quebrar negócios dependentes das Big Techs. Enquanto isso, salvam-se do caos os que têm domínio próprio. Quantos seriam?

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