| Foto: montagem anônima
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Vi diversas mulheres postando que andam com uma preguiça imensa do Dia Internacional da Mulher. Eu confesso que não aguento mais. Gostei muito na época em que todo mundo dava presente e pagava nosso almoço no trabalho. De uns anos para cá, virou a data em que toda mulher chata precisa inventar uma reclamação para fingir que faz algo por outras mulheres. Esgota a paciência de todo mundo. Daí as mulheres que realmente fazem coisas legais, a maioria, não ganham mais presente por causa das outras.

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Há muitos anos surgiu essa história de que "eu não quero presente, eu quero respeito". Geralmente é algo vocalizado por quem se cala convenientemente quando presencia desrespeito a outra mulher. Se nem quem faz a pregação clichê do feminismo simbólico tem vergonha na cara, avalia quando a gente vai conseguir colocar todos os homens do mundo na linha. Só se for do trem. Prefiro minha parte em dinheiro.

Estou em dois grupos só de mulheres que trabalham com comunicação. Um precisa quebrar a cabeça para bolar as campanhas de Dia da Mulher que não sejam nem estúpidas nem ímas de cancelamento ou gente chata. No outro tem a galera chata. Reclamam até da mãe dando parabéns. Até aí, sinceramente não me incomoda. Meu problema é com as piadas e os memes. Ou o que elas acham que é piada e meme mas é só um arroubo ranzinza mesmo. Confesso que às vezes eu até rio, mas é de nervoso.

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Às vezes eu acho que a bancada da problematização de problematização é tão chata que o pessoal reage esculhambando. Esculhambaram completamente o Dia Internacional da Mulher. E isso eu digo de todas as vertentes políticas. O povo perdeu completamente todos os limites.

Até os progressistas mais aguerridos partiram para o esculacho. Hoje vi no UOL uma reportagem que entrevistava uma das chefs mais aclamadas de São Paulo, Janaína Rueda. Ela informava que o Bar da Dona Onça, no Copan, não vai mais servir estrogonofe até o Putin desistir da guerra. "Mas não fiquem tristes: prometemos que assim que esta guerra triste terminar, o estrogonofe volta...", teria dito.

Que orgulho, né? Agora sim me sinto representada. Talvez eu faça um boicote contra aquelas bonequinhas que cabem uma dentro da outra e um amigo me trouxe. Ainda não fiz porque não lembro se é russa ou ucraniana. Melhor não arriscar. O destino do mundo pode estar nas minhas mãos.

Sem querer problematizar, mas já problematizando: a vodka o pessoal não cancela...

Os políticos e o Dia da Mulher

Ano passado, já achei que o povo tinha arrebentado com todos os limites. Daí hoje vejo esta postagem do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

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A única justificativa para divulgar o evento desse jeito seria um duplo twist carpado do progressismo na gente. Na verdade, o Dia da Mulher também é o dia da mulher trans e, sem diversidade, o feminismo não vencerá o patriarcado. Talvez o pessoal tenha embarcado na moda mexicana (contei neste artigo) e aproveite a efeméride para declarar que é trans, ocupando as cotas femininas nas próximas eleições.

Na verdade, eu juro que achei que era um meme essa história. Criativo, até. Uma espécie de evolução refinada de memes que recebi em outros grupos, como este abaixo:

Daí eu vejo o Secretário de Governo e vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, tentando justificar no Twitter porque aceitou participar de um evento sobre participação feminina na política. O resto do pessoal nem se mexeu.

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Eu não sei se ficou pior o soneto ou a emenda. Mas, como hoje é o Dia da Mulher, ele resolveu tirar minha dúvida. Meteu uma propaganda IGUALZINHA àquela da empresa que constrói o metrô que desabou na Marginal Tietê. De novo mostrando as mulheres da tal empresa. Sinceramente, a Olimpíada Mamãe Falei de feminismo é o que ainda salva essa data.

A olimpíada de vitimismo

Eu amo a olimpíada de tosquice de político tentando parecer bonzinho. Mas a olimpíada da problematização de powerpoint de avó dando Feliz Dia da Mulher eu não consigo mais. Nada está bom, ninguém presta, tudo ainda tem uma pitada de machismo.

Aliás, a escritora norte-americana Meghan Daum considera que esse ativismo de redes sociais é uma quarta onda do feminismo. Escreveu um livro sobre o tema chamado "The Problem With Everything", O Problema com Tudo. Eu já pensei desta maneira, mas hoje estou com outros teóricos que dividem militância de parque de areia antialérgica.

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Ainda existem pessoas e movimentos que lutam por direitos das mulheres, mas eles são preteridos na mídia. Quem entra em cena com toda a força nos últimos anos é a patrulha do identitarismo, uma espécie de produto para aliviar a culpa burguesa. Ao viver como Rockefeller e discursar como Che Guevara nas redes sociais, a pessoa é tratada pelo grupo de semelhantes como se fosse um revolucionário. O melhor: sem precisar fazer nenhuma revolução.

A Meghan Daum descreve exatamente o que me tira do sério no patrulhamento de foto de flor dando Feliz Dia da Mulher: "As mulheres obtêm mais diplomas de nível superior, são mais saudáveis do que sempre, estão indo melhor em todos os setores, mas você não saberia disso pelo que tem dito o movimento feminista. O feminismo tem essa ideia de que toda a imprensa é patriarcal, de que as mulheres vivem sob o jugo da masculinidade tóxica, da cultura do estupro e que essas ideias são as que prevalecem. Então, é aí que eu acho um tanto… um tanto esquisito".

As reclamações dos grupos tóxicos fazem parecer que estamos na Idade Média ou na Arábia Saudita. Embora esses grupos achem também que é Islamofobia criticar a falta de paridade de direitos femininos nos países muçulmanos. Tudo funciona à revelia da realidade. A dinâmica é turbinada por elogios feitos sempre à mais tóxica do grupo. É um contexto que você vai ver em todos os grupos radicais de internet.

Alguém posta algo como essa fotinho: "neste dia especial, desejo a você, mulher guerreira e abençoada, toda a felicidade do mundo!".

Na hora vai aparecer a paquita radioativa do identitarismo para dar uma patada na outra em público. "Ah, me poupem, né? Guerreiras é o retrato do patriarcado. Em vez de dividir as tarefas com as mulheres, os homens criam esses elogios para nos forçar a carregar tudo nas costas. O abençoada nem vou comentar. E as que não são? Não merecem ser felizes? Que ódio". Isso é no grupo de AMIGAS, tá?

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Qual a primeira reação? "Parabéns, fulana, sempre atenta e nos educando a respeitar o feminino e lutar contra o patriarcado!!!" . Todas vão ficar com medo de ser a próxima esculachada pela cobra do grupo. Os elogios vão brotar, um atrás do outro. "Você é maravilhosa! Sempre uma lição!". "Words matter, parabéns!!!". Ninguém mais respira no grupo.

A paquita radioativa nível Chernobyl vai aguçar os instintos do segundo escalão, as tóxicas nível Césio 137 de Rondônia. Elas ficarão à espreita para esculachar alguém do grupo. Quem já viu as postagens fica pisando em ovos. Quem silencia o grupo é a vítima preferencial porque vai acabar mandando parabéns sem olhar antes.

A desavisada, toda contente, manda foto com as colegas de trabalho: "Veja o quanto nós evoluímos! Há 20 anos, não havia nenhuma mulher chefe neste departamento. Hoje, estamos aqui, meio a meio finalmente, celebrando o nosso dia!!!". Para quê foi ousar ficar feliz no meio de um poço de recalque? Já vão mandar: "Todas mulheres brancas cis e heteros, né? Meio a meio kkkkk". "Mas, fulana, eu sou lésbica, você conhece minha mulher.". "O pacto da branquitude cis e suas lágrimas de vitimismo nunca falha".

Sinceramente, eu prefiro os machistas. Não rivalizam com mulher e ainda pagam a conta. Fora que você pode xingar à vontade, ele nem registra porque acha mulher brava a coisa mais linda. Cereja do bolo, não posa de grande sábia da montanha moralmente superior, sabe que homem não vale nada e ainda exagera qualquer dorzinha.

Presente de Dia da Mulher é machismo?

O macho-beta do parque de areia antialérgica não é machista. Ele não vai abrir uma porta, fazer uma gentileza e, principalmente, não vai pagar uma conta. Tem medo de ser chamado de machista. Já o machista tem orgulho, mas finge que não.

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Dia sim outro também ouço desses moçoilos com medo de grito de mulher coisas do tipo: "direitos iguais até pagar a conta porque meter a mão no bolso vocês não querem, né?". E alguém quer? Geralmente quem diz isso é até sustentado pela avó, nem paga nada. Se chama uma moça para um hot dog, o mais provável é que a conta seja dividida: 50% a moça e 50% dona Eunice, avó do revolucionário da igualdade.

Homens feitos, no entanto, passam pela experiência insuportável de oferecer uma gentileza e tomar um grito de machista no meio da cara. Quis carregar uma caixa, uma mala, abriu uma porta, quis pagar uma conta de restaurante. Avalia de que tipo de dondoca a gente está falando que considera dividir conta de restaurante sinônimo de independência. Precisa mandar fazer um curso de mães da periferia para entender o que é isso e o trabalho que dá.

Este ano, no entanto, cedi. Sei que dar flor ou bombom pode ser tratado igual a dar um tapa na cara da mulher. Sim, é machista, declarei nas redes. O que não seria machista na data de hoje? Mandar jóias ou PIX. Minutos depois, recebi um PIX. Minha fé na humanidade está resgatada.

Vi uma infinidade de mulheres postando: "em vez de presente, prefiro respeito". Eu não, eu prefiro dinheiro mesmo. Respeito depende do outro prometer e cumprir. Veja só o Putin e a história da Ucrânia entregar todo seu arsenal nuclear em troca de proteção. Melhor o dinheiro mesmo, que é mais garantido.

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As jóias ainda não chegaram, mas o pessoal tem prazo até as 23h59 de hoje. Pensando bem, mesmo se atrasar está valendo igual, viu? Melhor que eu, só a Angela Pereira, programadora brasileira que mora em Portugal. A empresa dela fez a melhor campanha publicitária de Dia da Mulher que ela já viu: deu aumento.

O fato é que neste Dia da Mulher eu sou muito grata e tenho muito orgulho de pertencer a essa geração de mulheres que atravessou até aqui a pandemia. Cada uma sabe suas dores, o que enfrentou, o que perdeu, o peso que carregou. Um dia nós vamos saber a importância disso, quando a gente tiver distanciamento histórico.

E eu sou muito grata mesmo a todas as mulheres que vieram antes de mim abrindo caminhos de oportunidades profissionais e de desenvolvimento pessoal. A gente vê as barreiras e injustiças contra mulheres, mas eu não sonhava quando era menina com um caminho tão livre quanto o de hoje. 7

É graças a essas mulheres, famosas e anônimas, que foram ajudando a moldar o mundo com mais compreensão e igualdade que estou aqui hoje. Noventa anos atrás, mulher nem votava. Hoje estou aqui, tirando sarro de político e assinando meu nome para eles saberem direitinho quem eu sou. Parabéns às leitoras mulheres e aos leitores homens que são companheiros de jornada das mulheres que amam.

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