Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Madeleine Lacsko

Madeleine Lacsko

Reflexões sobre princípios e cidadania

Robôs viciados em cloroquina

Ouça este conteúdo

Se esculhambação virar modalidade olímpica, tenham certeza de que o ouro é nosso. Em tempos de Medicina BBB - como batizou o médico superintendente de pesquisa do Hospital Albert Einstein, Luiz Rizzo -, amadorismo, infantilidade e confusão viraram ativos daqueles que pretendem atrair atenção para si. Comunicar é, antes de tudo, um ato de compromisso com o outro, que inexiste quando se tenta negar a ciência, a ética médica, desinformar e torcer para remédio.

Hoje descobrimos que praticamente toda a internet tem um primo chamado Antonio Carlos, que se internou no Hospital Unimed da Barra, tomou cloroquina e está curado querendo dar entrevista para a TV Record. Alguns perfis que reproduzem a mentira são "robôs", scripts automatizados, outros são pessoas reais que deliberadamente mentem.

Imagem do corpo da matéria
Imagem do corpo da matéria
Imagem do corpo da matéria

Este último post mostra como funcionam esses "robôs", scripts automatizados. Todas as vezes em que alguma palavra é citada por algum perfil, eles respondem com um texto pré-escrito. A tecnologia não foi inventada para isso, é muito utilizada por marcas para resolver problemas de consumidores que reclamam nas redes sociais.

As pessoas comuns que espalham a mentira estão recebendo o texto pronto em grupos de whatsapp com instruções para postar e compartilhar. Óbvio que sabem ser mentira e as intenções ao fazer uma postagem podem ser as mais diversas, desde o desespero por encontrar uma cura real até a mesquinhez de atrair atenção para si no meio de uma pandemia.

Por que usar essa técnica no marketing digital se uma mentira tão grotesca e tão mal contada é rapidamente desmascarada? O objetivo não é convencer ninguém desse absurdo, é instituir invenções, fantasias e mentiras como contraponto legítimo para informações e opiniões.

É uma técnica russa antiga de propaganda que é chamada pelos comunicadores norte-americanos de "fire-hosing", algo como inundar com mangueira de bombeiro. Você pode fazer isso usando mídias sociais ou não, com mídias sociais é possível amplificar bastante e evitar escrutínio público sobre quem produz e quem participa do movimento, então tende a durar mais e dar mais certo.

A técnica consiste em inventar uma série de mentiras bem absurdas sobre algum tema que prenda as pessoas emocionalmente, preferencialmente ativando medo e ódio. A cada desmentido, espalhe mais mentiras. Com o tempo, as pessoas passarão a ter a sensação de que mentiras, invenções e propaganda política são o "outro lado" ou a "opinião diferente".

Não apenas parece, mas é perverso utilizar esse tipo de mecanismo durante uma pandemia, quando as pessoas têm problemas e dramas muito reais. Saiba que isso não é de graça, custa dinheiro e é possível rastrear quem paga, o que já está sendo feito em diversos casos pela CPMI das Fake News no Congresso Nacional.

Todos nós podemos ser enganados por este tipo de estratégia, ela não mexe com o racional, ativa o emocional, principalmente nossas fragilidades. Como as redes sociais coletam muitas informações nossas, é possível mandar para cada um a mensagem que mexe mais com ele. Quando estamos fragilizados, somos ainda mais vulneráveis.

Quer dicas para não cair nessas ondas, principalmente agora que todos estamos com os nervos à flor da pele:

1. Sempre veja a BIOGRAFIA da pessoa antes de seguir o que ela diz: todos temos nossas fraquezas e virtudes e entendemos mais de umas coisas que de outras. Certifique-se de seguir orientações de pessoas que têm formação acadêmica e experiências de sucesso na área em que te aconselham.

2. Desconfie de quem nunca admite fraquezas: eu tenho fraquezas, você tem, todos temos. Admitir que não sabemos algo ou que erramos é parte da experiência humana. Há quem se sinta humilhado e, por isso, se comprometa com os erros e tente fingir que eles são acertos. É a única forma de acertar sempre e tende a funcionar bem se for feita de forma raivosa. A pessoa tem o direito de falar e você tem o direito de não obedecer.

Entender como as redes sociais funcionam e como podem mexer com as nossas emoções é fundamental para que a gente aproveite o melhor dessa tecnologia durante a quarentena. Espero ter contribuído um pouco.

(((A propósito, escrevi um e-book gratuito sobre este tema, com muito mais dicas. CLIQUE AQUI para baixar)))

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.