Ouça este conteúdo
Pode estar se iniciando uma avalanche no mercado das cirurgias de redesignação sexual de crianças e adolescentes. Recentemente, no Reino Unido, o caso Keira Bell trouxe à tona uma verdade assombrosa. Não há nem o mínimo acompanhamento científico dos tratamentos de crianças e adolescentes.
Muitas das pessoas tocadas pelas causas da igreja identitária juram que a terapia hormonal ou a redesignação sexual é um tratamento cientificamente comprovado para disforia de gênero. Não é, é tratamento experimental, que segue um protocolo científico próprio. O único hospital do Reino Unido que fazia o tratamento em menores, clínica Tavistock, não seguiu. Era incapaz sequer de dizer quantos pacientes acompanhava.
A constatação assustou muitos governos. Vários países liberaram a terapia experimental de redesignação sexual em menores por pressão da pauta identitária, sem nem verificar se a terapia funcionava. Citando o caso específico do Reino Unido, um dos maiores hospitais da Suécia resolveu interromper esses procedimentos até que haja provas científicas das terapias.
O Hospital Infantil Barn-Astrid Lindgren acaba de publicar uma resolução explicando que não vai mais aplicar a terapia hormonal em menores de idade por falta de comprovação do custo/benefício do tratamento experimental. Na verdade, não há provas científicas de que a cura proposta seja melhor que a doença e os que poderiam ter feito isso acompanhando os casos simplesmente não o fizeram.
"Esses tratamentos são potencialmente repletos de efeitos adversos extensos e irreversíveis consequências, como doenças cardiovasculares, osteoporose, infertilidade, aumento risco de câncer e trombose. Isso torna um desafio avaliar o risco / benefício para o paciente individual, e ainda mais desafiador para os menores ou seus responsáveis estar em uma posição de posição informada em relação a esses tratamentos", diz o documento.
A imprensa sueca já reclamava do excesso nesse tipo de procedimento. A idade mínima para cirurgias de redesignação sexual no país é de 18 anos, mas menores de idade podem ser submetidos ao tratamento experimental com autorização dos pais. Esta reportagem denuncia o volume altíssimo de mastectomias em meninas de até 14 anos feitas em um só hospital.
A Agência de Saúde da Suécia decidiu fazer um levantamento interno sobre os casos de disforia de gênero em tratamento no país e encontrou problemas parecidos com os descritos no Reino Unido. Além da falta de acompanhamento dos pacientes em si, estranha-se o altíssimo número de pacientes com outras condições psicológicas associadas.
Entre as meninas suecas com 13 a 17 anos diagnosticadas com disforia de gênero, 32,4% têm ansiedade, 29% têm depressão, 19% hiperatividade e déficit de atenção e 15% autismo. São números parecidos com aqueles encontrados no Reino Unido. Também idêntica a situação de não aprofundar a investigação para saber os motivos de taxas de transtornos psicológicos tão altas e como tratar.
A NHS, depois do caso Keira Bell, resolveu fazer um pente fino em todos os procedimentos relacionados a disforia de gênero em menores. Chegaram à conclusão de que os outros transtornos mentais de pacientes diagnosticados com disforia de gênero não eram acompanhados na maioria das vezes. Não é possível dizer qual a relação entre os transtornos e nem se, no geral, o paciente melhorou ou piorou. Por isso o Reino Unido declarou que transição sexual em menores não tem base científica.
A Associação LGBTQIA+ da Suécia, RFSL, considera que a decisão do hospital é um revés gigantesco que deve ter consequências na saúde das pessoas trans, como um aumento incontrolável da ansiedade e da disforia de gênero durante anos. Ninguém sabe de onde vieram esses dados. Não foi de pesquisa científica.
O fato é que a pressão dessa associação quase levou o governo sueco a mudar as leis sobre o tema. A ideia é que a idade mínima para cirurgia de redesignação sexual sem necessidade de consentimento baixasse de 18 para 15 anos. Com o consentimento dos pais, elas poderiam ser feitas a partir dos 12 anos de idade. A proposta foi engavetada recentemente.
Políticos vivem de popularidade, não de credibilidade nem de seriedade. Não é raro que delírios virem leis letais ou capazes de converter populações inteiras em cobaias de experiências macabras. O que importa é se as pessoas estão contentes ou se perceberam o absurdo da situação. Enquanto não perceberem, sem problemas.
Em 2010, a TV norueguesa NRK1 lançou um documentário chamado Hjernevask, "Lavagem Cerebral". Em 7 episódios, ele confronta modelos culturais do comportamento humano com experimentos científicos. O primeiro episódio é sobre ideologia de gênero. Caem muitos mitos, como o de que o sexo na criança não influencia a preferência por brinquedos ou que o sexo biológico não influencia a escolha profissional.
Esse episódio do documentário de 2010 chama-se "O Paradoxo da Igualdade". Na época, os governos nórdicos estavam investindo pesado nas pesquisas sobre gênero imaginando que elas tivessem relação com a realidade. Na verdade, são apenas teorias, divagação, imaginação. Ganham força na sociedade quando conseguem se institucionalizar e acabam passando por ciência.
Foi um choque ver a diretora do NIKK, Instituto Nórdico de Gênero, admitir claramente saber que a ciência provava erro em diversas de suas teorias sociais. Disse que as teorias sociais deveriam prevalecer sobre provas científicas. Noruega, Finlândia, Islândia, Suécia e Dinamarca cortaram o financiamento do instituto logo depois disso. As teorias sociais do instituto ainda são tratadas como vanguarda ou ciência pela elite intelectual brasileira e de outros países.
No próprio Reino Unido, onde a autoridade em Saúde Pública e a Suprema Corte já declararam que há problemas gravíssimos nos estudos de disforia de gênero em crianças e adolescentes, ainda se trata o tema como definido. O programa de TV This Morning apresentou esta semana o caso de uma criança de 2 anos que seria trans porque disse aos pais: "eu não sou uma garota, eu acho que sou um garoto".
A obsessão com redesignação sexual tem um paralelo curioso na área do autoritarismo. Homossexualidade é punida com pena de morte no Irã, mas o governo paga cirurgias de redesignação sexual. Separar autoritarismo de ciência tem uma regra simples: verificar quem admite que erra sem problemas e pode voltar atrás. No caso dos países nórdicos e do Reino Unido, os fatos falaram, as autoridades de saúde admitiram o erro e voltaram atrás. O Irã e os ativistas não farão isso tão facilmente. É interessante.