Há relações que sabemos ser para toda uma vida. Outras, pelo contrário, por mais que tentemos prolongar, sabemos que o fim é inevitável. Minha relação com o Twitter começou em 2007, passamos bem pela famosa crise dos 7 anos. O ano que supostamente seria a grande comemoração dos 10 anos, nossas bodas de zinco, foi aquele em que me senti a própria gata em teto de zinco quente. Cada vez em piores companhias, gente baixa, até uns que cobrem a cara antes mesmo que fôssemos obrigados a usar máscaras.
Começaram então as mentiras. Esse ponto do relacionamento é decisivo. Deixei claro ao Twitter que sabia de tudo e estava disposta a dar mais uma chance. Ele garantia que iria mudar e fazia cada vez pior. O fim era inevitável, mas eu adiava por causa das crianças, meus seguidores. O que seria do deboche nessa pátria de chuteiras sem a minha presença para organizar tudo? Agora, o Twitter simplesmente me trancou para fora de casa sem dar uma palavra. Não atende a campainha, desligou o telefone, bloqueou no zap.
Sempre pensei em um fim grandioso, um evento monumental que nos levasse a decidir de forma inequívoca a impossibilidade de prosseguir com a relação. E houve vários, coisa de filme. Teve até polícia, Ministério Público e juiz no meio. Imaginava um evento épico, traumático, para o qual eu já havia decorado um trecho de Ex-Amor, do Martinho da Vila:
Não chorei!
Como um louco eu até sorri,
Mas no fundo só eu sei
Das angústias que senti.
Sempre sonhamos
Com o mais eterno amor.
Infelizmente,
Eu lamento, mas não deu...
Nos desgastamos
Transformando tudo em dor,
Mas mesmo assim
Eu acredito que valeu.
Então eu sairia chorando minha dor feito homem pelos quatro cantos, bradando contra tantas injustiças que sofri, conclamando o Brasil a se manifestar a meu favor e contra o Twitter. Nada disso, apenas o silêncio e a porta trancada. Algumas amigas me disseram que esse comportamento chama-se "ghosting". Gostaria muito de entender qual foi a gota d'água e também dizer de volta minha meia dúzia de verdades entaladas na garganta. Na impossibilidade de ser ouvida pelo Twitter, digo a vocês.
Desconfio que há uma orquestração internacional das elites contra o sucesso do deboche no Brasil. Não foi apenas comigo que o Twitter rompeu relações sem dar a menor explicação, também o fez com o bravo Joselito Müller, uma das amizades mais lindas que fiz pelas redes sociais. O inventor do jornalismo destemido publicou fake news sobre mim, eu liguei para ele soltando os cachorros e nunca mais nos separamos. Agora, estamos ambos expulsos desse paraíso.
Conto a história desde o começo do nosso fim, em 2017, justamente quando Joselito Müller e eu nos conhecemos em circunstâncias tão amistosas. Justamente nessa época, o Twitter começava a ficar cada vez mais envolvido com más companhias e cada vez mais cheio de desculpas esfarrapadas diante do estrago que elas causavam. Tentei de tudo. Conversei com os diretores, amigos apelaram fazendo reportagens contando meu caso e, no final das contas, só me restaram a polícia e o juiz. Nem assim o Twitter entra na linha.
Sempre fui contra expor, após o término, as mensagens trocadas entre as partes. Mas, diante do desamparo em que Joselito Müller e eu nos encontramos no momento, sem ter um argumento sólido para apertar o botão do vitimismo e conclamar o país em nossa defesa, é o que me resta. Obviamente, não compartilharei todos os episódios e pouparei os mais picantes, tristes e violentos. Vamos apenas a um dia trivial, mais um em que eu disse ao Twitter que os amigos dele estavam passando de todos os limites, mas ele discordava.
Não quis causar tumulto nem mais confusão entre amigos. Amizade de gente desse naipe vocês imaginam a montanha russa que é. Não seria eu a piorar as coisas. Foi em confidência que disse ao Twitter o que pensava. Da maneira mais fria, ele me disse que não havia nada de errado com a forma como seus amigos me tratavam.
Resolvi apelar aos amigos mais sensatos que ainda restavam ao Twitter, aqueles que já haviam segurado a barra em momentos de crises muito mais graves, como esta:
Efetivamente circulou o endereço, felizmente da escola antiga, como soubemos quando amigos amáveis e desavisados apareceram perguntando pelo menino que não estudava mais lá. Nessa situação tão besta, de um despeito apenas, partindo de uma pessoa e que chegava já a 50 mil tweets, seria muito mais calmo. Apelei ao mesmo amigo. Foi em vão. Nessa noite confidenciei a Joselito Müller: é o começo do fim.
Foi a partir desse ponto, quando o Twitter imaginava que eu deveria aceitar qualquer desatino das más companhias com quem andava, que nosso amor se transformou em bom dia. O diálogo passou a se dar apenas nos tribunais, mas ainda assim mantínhamos em público a aparência de casamento. Casamento ruim, aliás. Com direito a alfinetadas para quem quisesse ver. Agora, trancada para fora sem a chave de casa, minha senha, nem o bate-boca mais eu tenho.
Nossa relação se converteu numa frieza tamanha que o juiz nem fala com o Twitter, fala com as más companhias. Mais fácil dizer a elas os limites. A resignação é algo que se instala na alma aos poucos até que a tome por completo. Foi assim comigo. Continuamos levando aos trancos e barrancos. Teve a fase da paixão avassaladora do Twitter pelo Sleeping Giants e, de novo, toda aquela turbulência de más companhias. O cancelamento e o discurso de ódio para combater o cancelamento e o discurso de ódio reúne só a fina flor da intelectualidade nacional. E, mais uma vez, crêem que eu tenho de tolerar todo tipo de abusos. Seguimos em frente, sabemos como é o Twitter.
Dias atrás, um funcionário da secretaria da Presidência da República investigado por comandar o gabinete do ódio entrou no Twitter. Ele não tinha conta com o próprio nome e o próprio rosto, mas já chegou com selo azul desde o seguidor número zero. abusivo com o Twitter alertou da intimidade do flerte. Eu alertei Joselito Müller. Foi em vão, humorista não tem freio na língua. Ele foi provocar Carlos Bolsonaro e, coincidentemente, acabou banido da plataforma.
Verdade seja dita, era uma piada de péssima qualidade. Já disse ao Joselito Müller que talvez seja o caso de uma piada tão ruim que gera banimento. Sem nenhuma explicação sobre qual regra foi infringida nem qual a postagem que infringiu uma regra, a conta do humorista foi tirada do ar. Ele é autor do livro "Tarde Demais para Pedir Bom Senso". Não era apenas um título, era uma profecia.
Diante das lágrimas e soluços potiguares de Joselito Müller, não consegui conter o impulso de solidariedade. Coloquei o humorista de volta na plataforma ao vivo, durante uma hora, na minha própria conta. Estávamos, além de nós dois, Claudio Manoel (Casseta & Planeta) e Thiago de Souza (Os Marcheiros). Não contente, ainda fiz um artigo dizendo a todo mundo sobre a relação entre o Twitter e Nicolás Maduro. Confesso que debochei do Twitter, mas foi por despeito, ciúme, mágoa, tudo acumulado. Peço perdão por mim e por Joselito. Sei que fizemos algo grave, bem mais grave do que aquilo que me fizeram os amigos do Twitter. Lanço a hashtag #TwitterDevolveMinhaConta
Não tive nem direito ao tapa na cara final. Ainda consigo entrar no Twitter pulando o muro ou metendo o grampo na fechadura, via aplicativos de programação de postagens, como Etus e Streamyard. Depois que os amigos do Twitter tentaram invadir minha conta, ele próprio me aconselhou a ativar a verificação em duas etapas. Para entrar no meu perfil, eu coloco a senha e ele me manda uma mensagem no celular. Posto o código recebido e então entro. Ele não mandou mais, simples assim.
Ali, na mensagem automática, o Twitter me diz que tenho outra alternativa, a chave mestra que ele me deu nos bons tempos dizendo que abriria seu coração por toda a vida. Trata-se de uma senha mandada ao meu e-mail para postar caso falhe o envio de mensagem da verificação em duas etapas. Tentei. Nada.
Mandei e-mail, entrei em contato com o suporte, mandei correio elegante, telegrama animado, tudo o que minhas forças permitiram. O Twitter tem uma pedra no lugar do coração. Não me dá a chave de casa nem aceita Joselito Müller de volta. Ele tem todo o direito de fazer isso, a vida é dele, mas também temos o direito de saber os motivos. E nossos seguidores, tão apegados ao deboche, têm o direito de saber por que serão privados dele. #TwitterDevolveMinhaConta
Sei que todos vocês têm coisas mais sérias a fazer. Estou eu aqui falando de amor e relacionamento. Enquanto isso o mundo tem empresas bilionárias, de ação continental, acusadas de calar determinadas vozes e potencializar outras segundo seus próprios interesses. E essas empresas são tão gigantes e com tantas funções diferentes que hoje se converteram em medidadoras do pleno exercício da cidadania. Há também uma pandemia e desinformação que prejudica o combate ao vírus e tritura a saúde mental das pessoas. Sei de tudo isso e estou falando aqui de dores do coração. Todos já passamos por isso, espero que compreendam.
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