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Imagine que uma mulher tenha conquistado o estrelato em uma área dominada historicamente pelos homens. E que um jovem iniciante tenha chegado à fama graças ao trabalho desta mulher. Em um dado momento, ele resolve corrigir publicamente o que ela pensa sobre ser mulher, recebe o aplauso de todos e ela sofre assassinato de reputação nas redes sociais, é xingada das maiores baixezas e sofre até ameaças de morte. Tempos atrás, isso seria um machismo à la Taleban, mas agora é prática corrente da militância progressista nas redes sociais.
A história, infelizmente, é verídica. A escritora J. K. Rowling, foi enxovalhada nas redes pela militância trans e até pelo ator que interpretou Harry Potter no cinema. Motivo: criticou um artigo que chama mulheres de "pessoas que menstruam". Homens continuam sendo chamados de homens.
O artigo existe e é de uma plataforma de mídia bilionária dedicada a falar de desenvolvimento e igualdade. Trata-se de um artigo de "branded content", ou seja, produzido especialmente para o WSSCC, Water Suply & Sanitation Colaborative Council (Conselho Colaborativo de Abastecimento de Água e Esgoto), administrado pelo UNOPS, Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos, da ONU.
O texto fala sobre desigualdade de gênero e, sem ter a intenção, acabou sendo o exemplo lapidar do desrespeito sistemático às mulheres que precisa ser superado. Quem perguntou se nós, mulheres, queremos ser chamadas de "pessoas que menstruam"? Ah, mulher foi feita para aceitar, não para questionar, havia esquecido.
No momento em que questionou por que deixaram de usar a palavra mulher, J. K. Rowling subiu rapidamente para os Trending Topics do Twitter, o que curiosamente ocorre nessa rede social com todo e qualquer tipo de ataque ou assassinato de reputação. Deve ser só coincidência.
Vou traduzir o que ela disse: " 'Pessoas que menstruam'. Tenho certeza de que havia uma outra palavra para isso. Alguém me ajuda? Muler, Munher, Muer???" Essa é a declaração que foi considerada TRANSFÓBICA e justificativa para os comportamentos que você vê nos prints abaixo. Bem vindos à perversidade do novo machismo.
Foram centenas de milhares desses e a cereja do bolo é a manifestação pública do ator Daniel Radcliffe, que só ficou famoso porque interpretou Harry Potter, criação de J. K. Rowling, ensinando à autora o que é ser mulher. Um homem famoso decidir publicamente ensinar a uma mulher o que é ser mulher talvez seja um nível de machismo que seria tabu até no Oriente Médio. Mas nada é tabu para os progressistas. "Mulheres transgênero são transgênero", explicou o moço.
O assunto tomou a imprensa internacional com centenas de artigos, a maioria xingando a autora de transfóbica. Mulheres que se dizem feministas e progressistas aplaudiam homens que pregavam calar a escritora e faziam ameaças e xingamentos baixos e com referências genitais e sexuais. E isso, vamos lembrar, porque uma mulher não quis ser chamada de "pessoa que menstrua".
O ativismo trans tenta sempre reduzir a questão ao machismo tradicional: a mulher é burra e não entende fatos científicos, portanto não entende esse fenômeno da existência de pessoas trans. Ocorre que, cientificamente, trans não é quem se declara assim. Ou seja, os parâmetros científicos não são os usados nem pela militância e nem em uma série de leis feitas sobre o tema. A discussão precisa ser feita e a tentativa sistemática de calar mulheres precisa ser combatida.
Quais as consequências práticas de negar a ciência e passar a definir que são pessoas trans todas aquelas que se declaram assim diante de uma autoridade de Estado? Essa discussão precisa ser feita mesmo que a militância seja contra porque perde espaço.
A escritora J. K. Rowling ensaiou uma explicação no Twitter mas, como tudo na rede é distorcido e transformado em gasolina para ataques que cheguem aos Trending Topics, decidiu fazer um longo texto em seu site explicando suas posições. Ela revelou que está preocupada com os direitos das mulheres diante de algumas formas bastante agressivas de militância trans.
A história pessoal da criadora de Harry Potter envolve dores profundas na adolescência, abuso sexual e transtorno obsessivo-compulsivo. Ela considera que, tivesse nascido 30 anos depois, seria facilmente convencida a fazer uma cirurgia e passar a se identificar como homem imaginando que isso apagaria as cicatrizes e a sensação de impotência diante do trauma do estupro. Quais as consequências para milhares de jovens que estão fazendo cirurgias para curar traumas psicológicos? É uma discussão que precisamos fazer, é séria, envolve questões profundas e importantes para as pessoas.
A outra questão é a do uso do banheiro feminino por pessoas trans num cenário em que a ciência é simplesmente ignorada e todo homem que for a uma repartição pública dizendo que é mulher terá acesso ao banheiro. Já há inúmeros casos reais de estupros cometidos por criminosos que se aproveitaram dessa brecha. Chega a ser surreal que o sonho dos estupradores tenha se tornado realidade por meio dessa narrativa distorcida.
"Eu me recuso a reverenciar um movimento que eu acredito representar um perigo real em sua busca para eliminar "mulheres" como classe política e biológica, além de oferecer cobertura para predadores como poucos antes deles", declarou J. K. Rowling sobre a militância trans.
A escritora também tocou num ponto importantíssimo, a expressão em si. Você acha que "pessoas que menstruam" é algo bom, respeitoso, agradável? "Não é neutro: é hostil e alienante", sentencia a criadora de Harry Potter.