Muitos anos atrás alguém pediu minha intercessão em nome de um pastor, amigo de dois pastores presbiterianos muito próximos de mim. Estava preso num país africano por imposição da sharia. Só que, daquela vez, eu achava que a sharia estava mais certa que o pastor. Ajudei do mesmo jeito porque ninguém merece uma prisão naquelas condições. Felizmente deu certo.
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Esse pastor é uma pessoa maravilhosa, carinhosa, dedicada a Deus, ótimo pai, grande líder espiritual e missionário. Montou uma escola em uma região onde falta tudo. A família toda vivia ali. O problema é que ele impunha a conversão religiosa para o atendimento. Os meninos queriam comer, largavam o islamismo. Os pais denunciaram, a confusão se armou.
Minha análise não chegou nem na justiça e na legalidade, ficou no Evangelho mesmo. Se alguém fizesse uma coisa dessas na frente de Jesus, era capaz de ter duas passagens de gente chicoteada no templo. No final, foi possível convencê-lo de que aquilo não se fazia, aquele modelo não tinha nada de cristão e saudável. Ele acabou mudando. Viveu mais uns tantos anos no país sem problemas.
A vida me surpreendeu com uma nova crença sendo enfiada goela abaixo de crianças pobres como condição para atendimento educacional: "woke". É esse o nome dado nos Estados Unidos ao que aqui chamamos de patrulha identitária ou Justiceiro Social. São os que fingem ser militantes mas praticam auto-ajuda que consiste em policiar os outros, patrulhar vocabulário e humilhar quem discorda.
E eles não são pouca coisa, anunciam no American Idol com chamada pessoal do Rya Seacrest. É a elite da elite da elite cultural dos Estados Unidos. Trata-se da First Book, iniciativa para atender com leitura crianças das regiões mais carentes do país. Vendo o vídeo abaixo num momento de sensibilidade, é capaz de você doar dinheiro para eles.
A gigante Pizza Hut resolveu doar dinheiro para essa iniciativa de educação. Adivinhem a temática? Poderia ser saúde, alimentação saudável, culinária, história por meio da culinária, química, física, enfim, há uma infinidade de temas relacionados com a marca. Mas a religião da moda na elite publicitária é ser "woke", então a Pizza Hut vai empoderar educadores para o antirracismo e a justiça social. Talvez fosse mais útil empoderar contra a gordofobia, mas quem sou eu para opinar?
O primeiro passo do treinamento é um guia de autoanálise anti-bias para os professores. Ele tem várias perguntas sobre preconceitos da família do educador com raça, situações específicas, como ele reage a certos comportamentos de alunos.
Mas só há perguntas que façam ver a tendência de julgar de forma injusta e apressada com base na diferença de raça, não há perguntas sobre o outro viés. Educadores podem ter um viés de achar que devem proteger ou poupar mais pessoas de determinadas raças ou enxergar que tudo o que aconteça com elas é racial. Isso não é avaliado.
O conteúdo é para crianças e supostamente para combater o racismo. Ele começa com perguntas simples, do tipo: quais as diferenças raciais que você vê aqui? No final, todo mundo aprende que esse mar de injustiça é porque homens brancos gananciosos criaram leis para proteger seu poder e seu dinheiro. Literalmente com essa frase.
A parte que ensina sobre os tons de pele me emocionou bastante. Há uma figura com mãos de 6 cores diferentes e as crianças são estimuladas a dizer em que tom elas estão e se estão no meio. No quadro seguinte, a professora explica que a diferença de tons não quer dizer nada, a pele é mais escura quanto mais perto estamos do Equador. A África do Sul é logo ali, né? Esqueça a Ásia.
Eu poderia dizer que é uma afirmação racista que ignora as diferentes tonalidades de pele dos povos originários dos continentes americano e asiático. Aliás, vou dizer isso mesmo porque é. A professora está ensinando sobre diversidade mas nem sabe o que são asiáticos e povos ameríndios. Que beleza!
Por meio do método de inquirição a professora leva seus alunos a concluírem que o racismo foi criado pelas pessoas brancas para que pudessem manter seu poder escravizando as pessoas negras. Pronto, numa frase só reescreveu toda a história da antiguidade do mundo. Agora vai ter de rasurar até a Bíblia para tirar racismo e escravidão até chegarem os caucasianos.
Parece só incompetência, né? Afinal, a pessoa que vai ensinar sobre diversidade, uma questão cultural e histórica, desconhece o básico de história e de outras culturas. Não é desconhecimento, é reescrever a história, recontar. A forma mais eficiente de autoritarismo é reescrever a história e manipular pessoas. Com crianças chega a ser uma agressão.
Aqui não estamos falando de um videozinho de fundo de quintal ou de um grupo fechado de malucos extremistas. É uma organização enorme, que passa no American Idol, financiada pela Pizza Hut, enfiando mentiras e autoritarismo goela abaixo das crianças como se fosse ação social.
Quando as coisas passam do limite, parece que um pouquinho além não faz mais diferença. E assim se entra numa verdadeira loucura. Mas há uma medida do quanto as coisas estão fora de controle. Sabem quem disse esta semana que a patrulha identitária anda exagerando? Barack Obama. Isso mesmo, o Obama no programa do Anderson Cooper, na CNN.
"Veja só que a questão mais importante para eles é a teoria crítica do racismo. Quem sabia que essa era a grande ameaça à nossa República?", disse textualmente Barack Obama. Ele disse que ficar patrulhando os outros, apontando defeito e sendo sommelier de vocabulário não é nem política nem militância, é só autoritarismo. Criticou duramente a ideia de se construir um mundo exigindo perfeição das pessoas, já que ninguém vai ser perfeito e todos se tornam cada vez mais cínicos.
Tem apenas um grupo que se beneficiou da atuação agressiva, autoritária e invasiva da patrulha identitária, os cristãos Testemunhas de Jeová. Antes disso tudo, eles eram pintados como os mais invasivos na tentativa de converter os outros à sua crença. Batiam na porta de casa querendo falar de Jesus. Hoje, se bater na porta antes de entrar para impor ideias, a gente dá graças a Deus.
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