Reinhard Kleist é um alemão especializado em escrever biografia em forma de histórias em quadrinhos. Ele já contou as histórias de Elvis, Johnny Cash e Fidel Castro (todas publicadas aqui no Brasil pela editora 8Inverso), entre outras. E o cara manda muito bem.
No Boxeador, ele conta a história real de Hertzko Haft. Judeu, nascido em 1925 na Polônia, tinha apenas 14 anos quando Hitler e seus camaradas invadiram sua cidade.
Para sobreviver, seus irmãos e ele traficavam mercadorias para as outras famílias judias, e com isso ganhavam a vida.
Mas o cerco nazista foi apertando e – como já era de se esperar – ele e os irmãos (bem como as demais famílias) foram parar nos campos de concentração.
Se virando como podia, e sem esperança de rever sua mãe e seus irmãos (o pai já havia morrido) Haft acaba sendo escolhido como lutador de boxe nas apostas dos alemães em cima dos judeus. Como era comum naquele lugar, o perdedor era assassinado.
Hertzko sobreviveu. E depois fugiu.
Quando a guerra acabou, conseguiu migrar para os Estados Unidos, onde fez uma carreira de boxeador cujo ápice foi a luta contra Rocky Marciano, tido como melhor pugilista do mundo no período.
Ao fim e ao cabo, fez família e cuidava de uma venda de frutas e verduras.
Mas esta não é a parte interessante da história. O que narrei acima é apenas uma biografia sem graça. O interessante do quadrinho de Kleist, que ganhou vários prêmios importantes mundo afora, é justamente ver o lado humano do homem que foi alçado a pugilista. Sua relação com a família, os amigos, a prisão e a mulher que amava. E também a relação com os nazistas, a profissão de boxeador e a máfia.
Uma obra que mostra a humanidade e a singularidade do indivíduo ali retratado. Kleist acerta em cheio ao traçar o perfil de um homem dolorido pela guerra e castigado pelo tempo. Assim como o clássico Maus, de Art Spielgman (impossível não comparar), o autor não faz seu biografado coitadinho, tampouco alivia os problemas gerados pela sua personalidade intempestiva ou a relação com o filho.
A editora 8Inverso também está de parabéns, não apenas por trazer esta obra para o Brasil, mas também pelo cuidado com a mesma. Capa, papel, biografias no final e um texto muito interessante sobre o boxe e o nazismo fazem parte do livro que todos deveriam ler para entender um pouco mais sobre boxe, nazismo e máfia…