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Marcel van Hattem

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Chuvas

Desastre no RS: hora de solidariedade e ação

Ciclone extratropical
A cidade de Caraá (RS) foi a mais atingida pelo ciclone extratropical na região Sul do país. (Foto: Maurício Tonetto/Secom / EFE)

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O Rio Grande do Sul passa por um período de enorme provação. Já tivemos, logicamente, desastres causados por eventos extremos da natureza inúmeras vezes. No entanto, o cenário de devastação que encontrei ao visitar na terça-feira (12) o município de Muçum, no Vale do Taquari, é completamente inédito. Uma cidade inteira foi varrida pela chuva torrencial. Moradores ficaram sem suas residências que, quando muito, contam apenas com as paredes ainda de pé. Tudo se foi. Escolas, farmácias, supermercados, até mesmo a prefeitura da cidade que se eleva até o terceiro piso. A analogia com uma área urbana bombardeada em uma guerra é inevitável.

Mais grave ainda do que os danos materiais são as vidas perdidas. Até o momento, contam-se 48 mortes e ainda há quatro desaparecidos. São pessoas que não tiveram escolha, dentre elas idosos e até crianças que foram surpreendidos pelo elevar repentino e incrivelmente rápido da água em suas casas. Em menos de uma hora, relataram-me moradores, o nível da água chegava ao telhado das residências. Quem conseguia subir nos telhados, no escuro, tinha de se segurar para não ser jogado nas águas pelas rajadas de vento e, assim, ser arrastado pela correnteza com destino incerto e, possivelmente, fatal. Um verdadeiro filme de terror.

A política não é feita apenas de oposição e situação. Em raros momentos existe espaço para união – ainda que, infelizmente nesse caso, decorra de uma tragédia inominável.

Em contrapartida ao caos, a solidariedade gaúcha e brasileira foi notável. Emocionante. Donativos de roupas e alimentos chegavam às toneladas nos dias seguintes à região, ao ponto de serem feitos apelos para que as doações materiais fossem suspensas momentaneamente e as doações financeiras pudessem substituí-las. Entidades sérias, que realizam trabalho comunitário há décadas em cada um dos principais municípios atingidos, passaram a divulgar os dados de suas contas bancárias para receber as doações. Não só de gaúchos vêm os depósitos: de toda parte do Brasil e também do exterior a solidariedade está sendo expressada.

Finalmente, o poder público. Se o ambiente político brasileiro está severamente polarizado há anos, neste momento de dor e aflição as diferentes correntes políticas estão conseguindo colocar as diferenças de lado. As exceções e até os eventuais erros de detentores de cargos públicos não merecem menção neste artigo: prefiro ressaltar a união dos prefeitos da região mais atingida, o Vale do Taquari. Mesmo também flagelados, autoridades locais estão buscando dar conta dos cidadãos de seus próprios municípios, além de ajudar a socorrer os vizinhos mais impactados. Autoridades estaduais, autoridades federais, deputados, senadores: em raras ocasiões vê-se a unanimidade no trabalho direcionado para devolver dignidade aos desalentados.

Para contribuir com o que está ao meu alcance, anunciei destinação de todas as emendas  parlamentares de que ainda disponho para 2023, trabalhei para a prorrogação do pagamento de tributos federais para os empreendedores atingidos, que foi confirmada pelo Ministério da Fazenda, e propus realização de audiência pública na Câmara dos Deputados para tratar do tema com os prefeitos, autoridades estaduais e federais. As iniciativas encontraram eco nos colegas e nos governos como nunca havia eu testemunhado.

Faço este relato aos leitores da minha coluna semanal na Gazeta do Povo para registrar que a política não é feita apenas de oposição e situação. Em raros momentos existe espaço para união – ainda que, infelizmente nesse caso, decorra de uma tragédia inominável. Uma pena, mas se houvesse divisão agora, certamente a situação seria ainda pior. E aproveito o momento para registrar aos leitores que, se ainda não foi possível realizar a sua doação, sempre é tempo. A reconstrução para quem perdeu tudo levará tempo e exigirá muito esforço, além de demandar muito, mas muito suporte emocional. O menos custoso, nesse caso, será a reconstrução material, e sua doação, mesmo que pequena, fará toda a diferença.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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