Sarney, Motta e Barroso durante a sessão solene em homenagem aos 40 anos da redemocratização do Brasil.| Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
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No dia seguinte à decisão de Eduardo Bolsonaro de exilar-se nos Estados Unidos, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, decidiu negar a realidade com todas as letras. Em discurso para celebrar os 40 anos de redemocratização do país, sentado entre o ex-presidente José Sarney e o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, o deputado paraibano disse: “Nos últimos 40 anos, não vivemos mais as mazelas do período em que o Brasil não era democrático. Não tivemos jornais censurados, nem vozes caladas à força, não tivemos perseguições políticas, nem presos, nem exilados políticos. Não tivemos crimes de opinião ou usurpação de garantias constitucionais. Não mais, nunca mais”, disse Hugo Motta.

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Aplaudido com força ao final de sua fala pelo ministro Barroso, ficou evidente a quem interessa esta mentira. O STF, agora em consórcio com o governo do PT de Lula, tem desferido os mais violentos ataques à democracia e aos direitos humanos que o Brasil já viu nos últimos 40 anos. Eduardo Bolsonaro, agora exilado político nos Estados Unidos, é o primeiro deputado federal a tomar essa drástica decisão. Infelizmente, porém, já há centenas de outros brasileiros nesta mesma situação, entre os quais jornalistas e juízes.

Quando todos os poderes estão mancomunados para abafar e negar a realidade, sem o menor constrangimento, e a chance de recurso à Justiça pátria já não existe, a busca por atenção e até mesmo socorro internacional torna-se imprescindível

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A Gazeta do Povo, censurada pelo TSE durante o período eleitoral de 2022, é uma das inúmeras provas de que também a atividade jornalística no Brasil já não é mais livre da censura. Vozes caladas à força? Há centenas de brasileiros hoje com tornozeleiras eletrônicas e redes sociais bloqueadas pelo simples fato de manifestarem opiniões que incomodam ao consórcio Lula-PT-STF. Um agora ex-deputado federal, Daniel Silveira, cuja prisão completou cinco anos,  foi condenado por crime de opinião, algo inexistente em nosso ordenamento jurídico.

Finalmente, quanto à usurpação de garantias constitucionais, basta Hugo Motta olhar para o poder que preside para comprovar quanto o STF avançou sobre a legítima função de legislar da Câmara dos Deputados e do Senado para avocar a si o que só os representantes do povo têm: mandato constitucional. Em suma: “não mais, nunca mais”, eppure – como disse Galileu Galilei – cada vez mais.

Quando todos os poderes estão mancomunados para abafar e negar a realidade, sem o menor constrangimento, e a chance de recurso à Justiça pátria já não existe, a busca por atenção e até mesmo socorro internacional torna-se imprescindível. A decisão de Eduardo Bolsonaro, portanto, não é apenas uma decisão de imenso impacto pessoal, uma vez que abre mão do convívio com familiares e amigos no Brasil e de exercer seu mandato parlamentar na Câmara dos Deputados. Sua resolução também serve para representar ainda melhor os anseios dos brasileiros que querem justiça, liberdade e democracia e torcem por ações internacionais que nos devolvam o que já tivemos.

O momento farsesco que vivemos, com os donos do poder se refestelando em verbas públicas e benesses estatais enquanto debocham das vítimas do autoritarismo e do arbítrio no Brasil, está cristalino. É triste e revoltante ver o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, corroborando com a narrativa dos abusadores. No entanto, sempre restarão bravos combatentes nas trincheiras do legislativo, do jornalismo e de tantos outros meios que resistirão ao arbítrio e recolocarão os pingos nos is. Até porque, parafraseando o próprio deputado Motta quando venceu a eleição para a presidência da Câmara, ainda estamos aqui. E continuaremos a defender, daqui ou do exílio, as boas causas e defesas dos direitos humanos, da liberdade, da justiça e da democracia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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