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Mais uma surpresa para o establishment, a mídia tradicional e os institutos de pesquisa. Agora, na Argentina. O candidato libertário Javier Milei venceu as primárias no país apesar de todas as previsões em contrário. Nesse caso, porém, houve um ingrediente adicional: não se pode sequer aplicar a narrativa da “polarização política” à sua vitória, pois eram três as candidaturas principais no tabuleiro eleitoral. A primeira, kirchnerista e de esquerda, representava o atual e impopular governo Fernández; a segunda, sua oposição à direita; já a terceira era o libertário Javier Milei, a quem, até agora, a imprensa tenta sem sucesso rotular como “radical extremista de direita”.
O que mais se leu na mídia foi que Milei seria de “extrema-direita”. Os repórteres acrescentavam como ressalva, porém, que Milei não é contra o casamento civil entre pessoas de mesmo sexo; leu-se também que seria “radical”, mas ponderando que já foi assessor econômico de políticos peronistas; tentou-se, ainda, fazer colar uma imagem de que seria “antissocial”, mas sem ignorar que é músico de já ter tocado em banda, adora um rock and roll e é solteiro sem uma “família tradicional” para chamar de sua, além de possuir quatro cachorros de estimação: Milton, Murray, Robert e Lucas – sem contar o já falecido Conan, pai dos filhotes cujos nomes são referências a grandes autores do pensamento liberal.
Como, então, enquadrar Milei na “extrema-direita”?
A dificuldade em qualificar corretamente Milei é consequência de um sistema educacional que não apresenta o liberalismo, muito menos o libertarianismo, à esmagadora maioria dos estudantes
Muito além do fato de um porcentual superior a 80% dos jornalistas brasileiros declararem-se de esquerda, conforme recente pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, o que poderia sugerir uma má vontade com um candidato que se apresenta como abertamente anticomunista e contra o Estado inchado, a dificuldade em qualificar corretamente Milei é consequência de um sistema educacional que não apresenta o liberalismo, muito menos o libertarianismo, à esmagadora maioria dos estudantes. Vivi isso na faculdade e percebe-se que este drama é vivido até hoje nos bancos acadêmicos. Muitos não conseguem rotular Milei porque ignoram o que ele defende e nunca aprenderam nada sobre suas referências em lugar algum – muito menos nos seus estudos.
Milton Friedman, Murray Rothbart e Robert Lucas estão muito mais famosos nesta semana por serem os nomes dos caninos de Milei do que nas salas de aula de praticamente qualquer faculdade de Economia brasileira ou no mundo. Quando citados, incluindo na lista Smith, Locke, Mises e Hayek, muitas vezes o são sem nenhuma ênfase, como mera obrigação curricular, ou até mesmo com desprezo. Se estou falando dos cursos de Economia, imagine, então, se esses autores são mencionados nos cursos de Jornalismo? Heresia!
Quando as políticas populistas, intervencionistas e estatizantes de esquerda falham nos governos que assumem (e elas sempre falham…), a alternativa liberal costuma ganhar força eleitoral em democracias. É o caso da Argentina. É impossível dizer hoje, no entanto, se essa força vai resultar em uma vitória do partido de Milei, La Libertad Avanza, antes tido por todas as pesquisas como azarão; ou de Patricia Bullrich, do Juntos por el Cambio, partido do ex-presidente Mauricio Macri. A julgar pelas eleições em cenários muito polarizados nos últimos anos, a tendência daria a Milei a dianteira nas bolsas de apostas, mas o fato de haver hoje três forças relevantes dentre as quais o eleitor poderá escolher no primeiro turno argentino deixa o vencedor ainda em aberto.
O perdedor, porém, parece estar muito claro: o kirchnerismo, que arrasou pela segunda vez nosso país vizinho, vive seu pior momento e deve ser enterrado nas urnas já no primeiro turno eleitoral. E, independentemente de quem se sagre vitorioso eleitoralmente, a liberdade de fato está avançando no campo das ideias na Argentina: ver um candidato declaradamente libertário desafiar abertamente o status quo e tornar-se uma força popular não apenas na Argentina, mas também no restante da América do Sul, é bom presságio para uma eventual segunda e mais duradoura “Onda Azul” no nosso continente.
A Argentina está demonstrando ao mundo que o liberalismo, assim como o agro, também pode ser pop. Além de contrariar o establishment, grande parte da mídia e dos institutos de pesquisa, Milei está conseguindo também superar os clichês e estereótipos criados pela esquerda contra quem defende a liberdade individual, a limitação do Estado a funções básicas e o capitalismo de mercado.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos