Antes de começar a escrever este artigo, o último de 2023, naveguei pela seção do site da Gazeta onde estão disponíveis todas as colunas que escrevi neste ano. Foram 45 textos abordando temas relevantes para o país, distribuídos em duas páginas web. Confesso que ver o apanhado assim, à vol d’oiseau como diria meu querido e saudoso avô Paulo Frederico Flor, deu-me grande satisfação e um profundo sentimento de gratidão.
A satisfação é por ter cumprido com o compromisso de entregar ao leitor toda semana um texto novo, tratando sempre de um tema atual e cuja relevância via de regra era confirmada pela repercussão do assunto entre os assinantes. E a gratidão pela oportunidade e confiança que a Gazeta me concedeu de me comunicar diretamente com você.
Como tudo na vida, o bastidor envolve múltiplos fatores e atores: acordar muito cedo na quarta-feira, às vezes com o tema ainda por definir, escrever o artigo antes de iniciar o dia mais agitado da Câmara dos Deputados, enviar à revisão e contar com a colaboração da equipe de Opinião da Gazeta para publicar o resultado. Este processo repetido ao longo de todo o ano gerou como resultado uma coletânea de artigos que cobriram desde a defesa da liberdade de expressão, opinião e imprensa, a exemplo do artigo inaugural que coincidiu com minha posse neste novo mandato de deputado federal, até os desatinos do governo de turno e os abusos de autoridade cometidos pelos seus parceiros do Supremo Tribunal Federal.
É época de fim de ano e de renovação de esperanças. Assim como neste momento de votos de melhores desígnios para o ano que está prestes a nascer, também a cada coluna procuro a marca do encerramento com uma palavra de motivação e otimismo. Nem sempre é fácil, mas nunca é indesejável: mesmo nos piores momentos da história da nossa República, e também do mundo, o idealismo e a fé em dias melhores foram responsáveis por eventualmente gerar o rompimento com o status quo corrompido e substituí-lo por dias melhores.
Também no Brasil governado pelo PT é preciso manter a esperança e a motivação. Repito que nem sempre é fácil, sobretudo quando o “exemplo que vem de cima” na sabedoria popular, em vez de ser bom, é mau. Tivemos um ano com revezes na área fiscal, econômica, no combate à corrupção e na institucionalidade nacional.
O ano de 2023 foi marcado, acima de tudo, por um profundo retrocesso na aplicação das leis e, portanto, na integridade do nosso Estado de Direito. Até a frase atribuída a Maquiavel “aos amigos, os favores, aos inimigos a lei” foi corrompida pelo consórcio STF-PT para "aos inimigos, nem a lei”: os presos ilegais do 8 de Janeiro e as constantes violações às prerrogativas constitucionais dos cidadãos brasileiros, bem como a usurpação de funções de outros Poderes, perpetradas justamente pela Corte que deveria garanti-las, marcaram mais um ano de escalada autoritária - o pior desde a abertura dos inquéritos inconstitucionais abertos em 14 de março de 2019.
Também no Brasil governado pelo PT é preciso manter a esperança e a motivação
A reação, porém, já vem acontecendo: o povo tem começado a voltar às ruas e a CPI do Abuso de Autoridade do STF e do TSE finalmente obteve as 171 assinaturas necessárias na Câmara para que possa vir a ser instalada no início da próxima sessão legislativa. É lamentável e revoltante que tenha ocorrido na esteira da morte de um preso ilegal na Papuda, Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão, cujo relaxamento da prisão havia sido pedido pelo Ministério Público ao ministro Alexandre de Moraes quase três meses antes de vir a morrer no pátio da cadeia sem que tivesse sido analisado. Contudo, também confirmando a história da República, mudanças começam a acontecer quando a situação fica insustentável e a tragédia não pode mais ser escondida.
Concluo este artigo agradecendo à Gazeta e aos leitores pela oportunidade de compartilhar um pouco das minhas angústias, visões e também motivações para manter a esperança sempre acesa. A inspiração que me move para não querer viver em outro país mas viver em outro Brasil depende muito do apoio de quem me cerca.
Aliás, o pedido, quase uma exortação, que mais tenho ouvido nas ruas quando alguém se dedica a abordar-me é: "não desista!". Ler os comentários aos artigos aqui publicados tanto na área do site da Gazeta que lhes é dedicada, como nas minhas próprias redes sociais, são fonte de estímulo e de certeza de que nós, em conjunto, não desistiremos - até porque se o fizéssemos, renunciaríamos às batalhas e daríamos ainda mais poder à tirania, cumprindo com que é seu principal objetivo.
Muito obrigado pela sua companhia até aqui, feliz Ano Novo e não desistamos!
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