Viver do passado parece ser o grande objetivo de Lula e do PT. Diversos programas de gestões petistas anteriores, já superados ou substituídos, são agora relançados pelo governo em assustadora velocidade. O exemplo mais recente é a reapresentação do programa Mais Médicos que, a despeito do belo rótulo que seu nome sugere, foi responsável no Brasil pela volta da escravidão ao tornar profissionais cubanos cativos do regime castrista também reféns dos então governos petistas.
O programa Mais Médicos significou uma perseguição sem precedentes aos médicos brasileiros, sempre ressentidos pela falta de políticas públicas eficientes para que a distribuição de seus esforços no país seja menos desigual. O PT, porém, faz questão de não aprender: não será com a reedição de programas populistas como esse que resolveremos problemas na saúde pública do país. Pelo contrário, a tendência pode ser a de novamente agravá-los.
Ainda não se sabe exatamente que rumos tomará mais esta volta ao passado promovida por Lula e pelo PT com a ressurreição da marca Mais Médicos.
Para começo de conversa, a recriação do Mais Médicos traz de volta à nossa memória as agruras de sua primeira versão, conhecida internacionalmente por nuances escravocratas em relação aos profissionais cubanos. Cercado de polêmicas, o programa foi implementado pelo PT em 2013 com o suposto objetivo de ampliar a oferta de médicos para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS): foram mais de 10 mil médicos cubanos atuando no país por meio do programa. Os números são tão admiráveis quanto dignos de questionamento: que outro país no mundo forma médicos em série tão somente para exportação como gado em pé? É óbvio que esse questionamento já é o suficiente para gerar suspeitas e pensamentos macabros, alguns só superados pela realidade ainda mais tenebrosa.
A contratação e remuneração dos profissionais cubanos na primeira versão do Mais Médicos ocorria por meio de um Termo de Cooperação entre o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que direcionava apenas 30% do valor total da remuneração diretamente para os médicos convocados para o programa, ao passo que cerca de 70% do contracheque ficava com a ditadura cubana. Ou seja: o pagador de impostos brasileiro financiava, oficialmente, a manutenção da ditadura cubana à revelia da vontade pessoal dos profissionais cubanos, que não tinham escolha senão aceitar apenas os parcos 30% que lhes cabiam.
Este governo não nos tem dado a chance de esperarmos pelo melhor: todos os dias nos prepararmos para o pior.
É mais: agrava a situação o fato de muitos profissionais cubanos admitirem que foram forçados a virem ao Brasil em condições que não seriam admitidas ou consideradas legais caso fossem trabalhadores brasileiros, sendo constrangidos e tratados como “mercadorias de exportação”, afastados do convívio familiar e ameaçados de jamais voltarem a ver seus amados caso desertassem do programa para fixar residência definitiva no Brasil. A liberdade e a dignidade humana negada no Brasil a uma classe profissional de nacionalidade específica, é algo repugnante e indizível para um país signatário dos principais tratados internacionais de direitos humanos. Este passado jamais pode se repetir!
Além da questão envolvendo os médicos cubanos em si, a elaboração de políticas públicas voltadas à provisão de médicos para as regiões mais carentes social e economicamente é, sem dúvidas, um desafio contínuo no nosso país. O programa Médicos pelo Brasil, lançado pela gestão de Bolsonaro em 2019 com o intuito de substituir o programa Mais Médicos, felizmente teve amplo debate no Congresso Nacional, extenso trabalho técnico conjunto com entidades médicas e participação da sociedade civil na busca do melhor modelo possível para fixar profissionais devidamente habilitados e qualificados para o exercício da medicina em locais de difícil provimento ou alta vulnerabilidade. Participei desse debate no Parlamento e, em que pese programas sempre terem espaço para aprimoramento, felizmente o Médicos pelo Brasil teve a discussão com a sociedade que faltou – propositalmente, em larga medida – na época do lançamento do Mais Médicos por Dilma Rousseff, cuja Medida Provisória havia sido assinada no mesmo dia em que médicos cubanos já eram colocados em aviões e enviados como commodities ao Brasil, sem a menor discussão.
Agora que o programa Mais Médicos é relançado, novamente de forma surpreendentemente rápida e sem o menor debate, é importante apontar desde já importantes diferenças entre os programas que precisam subsidiar o debate que será feito nos próximos meses: enquanto no programa Médicos pelo Brasil há a previsão de progressão salarial, via CLT, de até R$ 36 mil para atendimentos em locais mais vulneráveis, o novo programa Mais Médicos retoma o modelo de remuneração exclusivamente por bolsa, no valor aproximado de R$ 13 mil reais, possibilitando uma gratificação equivalente a R$ 2,5 mil mensais para casos de fixação por quatro anos em local mais vulnerável. Ou seja, a defesa que o PT tanto faz da “carteira assinada” e do combate à “precarização" das relações de trabalho não valerá para este programa?
O novo programa Mais Médicos retoma a previsão de contratação de profissionais formados no exterior sem diploma revalidado para preencher os vazios assistenciais em vez de fazê-lo por meio de remuneração diferenciada e atrativa. Já no Médicos pelo Brasil, os médicos formados no exterior precisam ter sua formação técnica comprovada por meio de um processo de revalidação. A ideia agora será a de premiar as regiões mais remotas com profissionais menos qualificados, aumentando ainda mais a desigualdade entre os atendimentos dados à população mais carente e àqueles destinados aos mais abastados no Brasil?
É importante que estejamos alerta aos próximos passos dados pelo Ministério da Saúde de Lula para que o passado recente de trabalho escravo imposto aos médicos cubanos jamais se repita.
Por fim, o Mais Médicos traz de volta a limitação no tempo máximo de atuação do profissional no programa, por oito anos, ao passo que no programa Médicos pelo Brasil o tempo de atuação era indeterminado. Em lugar de promover a fixação de médicos nos locais mais longínquos para criação de vínculo do profissional com as comunidades, não se está gerando dificuldades para que a política pública possa ser eficiente também em perspectiva de longo prazo?
Diferentemente da ex-presidente Dilma Rousseff em 2013, Lula evitou mencionar os profissionais cubanos como solução mágica para a saúde pública do nosso país no relançamento do programa, mas fez questão de dizer que “o que importa, pra nós, não é apenas saber a nacionalidade do médico, é saber a nacionalidade do paciente”. Não entendeu ou não quer admitir que grande parte da crítica à versão anterior do programa se devia ao modelo adotado, não à nacionalidade do profissional contratado.
Um programa inicialmente idealizado pela ditadura cubana, como demonstraram telegramas da Embaixada Brasileira em Havana, divulgados em 2018, é só mais um sinal de que Lula em sua versão “ódio e rancor" não pretende trazer nada de novo: está vivendo do passado e, apesar de propalar “união e reconstrução” no slogan de seu governo, insiste em desconstruir tudo o que foi produzido pela gestão anterior, ainda que tenha sido positivo para o país.
Fica agora o questionamento: o PT restabelecerá o programa de importação de médicos cubanos via Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)? Ou o rechaço da sociedade civil, inclusive de parte da imprensa, ao modelo escravocrata imposto na época fez morrer de vez qualquer proposta nesse sentido? É importante lembrar que após o governo Dilma, médicos cubanos no Brasil foram libertados do jugo da ditadura e vários desses profissionais cubanos contratados iniciaram demandas judiciais contra a OPAS em 2018, alegando trabalho humano forçado e tráfico de pessoas. O que acontecerá com esses profissionais libertos com o retorno de Lula ao poder?
Ainda não se sabe exatamente que rumos tomará mais esta volta ao passado promovida por Lula e pelo PT com a ressurreição da marca Mais Médicos. Este governo, porém, não nos tem dado a chance de esperarmos pelo melhor: todos os dias nos prepararmos para o pior. É importante que estejamos alerta aos próximos passos dados pelo Novo Mais Médicos não pode ser volta ao passado de Lula para que o passado recente de trabalho escravo imposto aos médicos cubanos jamais se repita no nosso país. Quando esta discussão chegar no Congresso certamente os pontos de partida do debate devem ser o respeito à dignidade da pessoa humana na relação contratual e a efetividade da política pública para melhor atender a sociedade brasileira, em especial os rincões menos privilegiados do nosso país.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS