Segundo Lira, Hugo Motta demonstrou capacidade de aliar pólos aparentemente antagônicos com diálogo, leveza e altivez”| Foto: Marina Ramos / Câmara dos Deputados
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Desde que cheguei à Câmara dos Deputados, em 2019, defendo que a direita tenha candidato à presidência da Câmara dos Deputados. Meu primeiro artigo na Gazeta, no ano de 2023, foi escrito justamente no dia da escolha do novo presidente da Casa – que acabou não sendo nada novo, pois o Legislativo por ampla maioria decidiu reeleger Arthur Lira. Naquela oportunidade, bem como nas duas anteriores em que votei para presidente da Casa, fui também candidato. Por quê?

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Em primeiríssimo lugar, por que não aceito que estejamos sempre à mercê das mesmas opções de sempre. No ambiente mais plural da democracia brasileira que é o Parlamento, onde justamente estão presentes todas as correntes ideológicas, nunca me pareceu aceitável que uma delas se abstivesse de posicionamento no dia mais nobre para os próprios deputados. A eleição para presidente da Câmara também tem dois turnos: no primeiro, como em qualquer eleição, vota-se na opção mais alinhada; no segundo, aí sim, caso a sua opção não vá ao segundo turno e nenhum candidato obtenha maioria absoluta dos votos, escolhe-se a opção mais conveniente – ou menos pior.

A direita brasileira vai realmente fazer acordo com quem até agora ou fez pouco por estes temas ou até se opôs a eles, ou vai rever o rumo que está traçando para posicionar-se de acordo com o que esperam os milhões de brasileiros?

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A presidência da Câmara, cargo mais relevante da nação – ou que assim deveria ser considerado – em uma democracia representativa, define grande parte dos rumos do país. A depender de quem senta naquela cadeira, para começo de conversa, o presidente da República pode ficar mais ou menos preocupado com a eventual abertura de um processo de impeachment contra si. Ou, até, absolutamente despreocupado.

Também é a autoridade máxima na definição dos temas que serão pautados durante dois anos no Congresso Nacional. O poder do presidente da Câmara se agigantou de tal forma, que Arthur Lira publica a Ordem do Dia do plenário da Câmara minutos antes de iniciar. Altera-a enquanto os trabalhos estão em andamento. Antirregimental? Quem se importa… em uma Câmara cada vez menos preocupada em legislar e fiscalizar e mais preocupada com o pagamento de emendas parlamentares, o poder do presidente, que já era grande, é hoje quase absoluto. Até porque ele também tem agora controlado o próprio orçamento com mão de ferro e, em larga medida, discricionariamente, destinando aos mais próximos muito e aos adversários nada.

Uma vez mais, estamos nos aproximando das eleições à presidência. E, novamente, vemos acordos de bastidores sendo construídos e “convergências" anunciadas. O nome da vez é o de Hugo Motta. Apoiado e apadrinhado por Arthur Lira, o partido do candidato, o Republicanos, anunciou terça-feira aliança com o PP e o MDB. No dia seguinte, os adversários entre si PT e PL anunciaram o embarque institucional na candidatura. União Brasil, que tinha em Elmar Nascimento seu candidato, anunciou na quinta-feira seu apoio também a Motta. E o PSD de Antônio Brito, ao que indicam as movimentações publicadas na imprensa, tem grande chance de seguir o mesmo caminho.

Onde fica a direita, hoje na oposição, neste tabuleiro? Entendo que não deveria participar dos acordos costurados e fazer valer, no primeiro turno, a vontade do eleitor que ela representa do lado de fora da Câmara dos Deputados. A pauta liberal, a pauta conservadora, o combate à impunidade, dos abusos de autoridade e da anistia aos perseguidos políticos; a volta do equilíbrio entre os poderes e a defesa das prerrogativas dos parlamentares e do próprio Congresso Nacional: a direita brasileira vai realmente fazer acordo com quem até agora ou fez pouco por estes temas ou até se opôs a eles, ou vai rever o rumo que está traçando para posicionar-se de acordo com o que esperam os milhões de brasileiros que ela representa no Parlamento? O que importa mais: cargos na Câmara, espaços políticos, emendas e acordos de bastidor ou representar o que nossos eleitores esperam de nós?

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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