Foi gigante. Foi grandioso. E mais importante do que isso: foi uma demonstração de que o povo brasileiro não perdeu a esperança. A manifestação do último domingo, 25 de fevereiro, na Av. Paulista, foi o maior evento popular desde as manifestações pelo impeachment de Dilma de março de 2016.
De milhões de pessoas às 750 mil divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ou às 185 mil calculadas por um grupo de pesquisa da USP, talvez nunca saberemos com exatidão o tamanho da manifestação. Uma coisa, porém, é certa: se tomarmos por base esse último número, ele é o triplo do que o mesmo grupo de pesquisas da USP estimou ter sido o público que foi à mesma Av. Paulista na noite da vitória de Lula em outubro passado. Ou seja, sob qualquer perspectiva, a manifestação arrastou multidões à rua.
A manifestação de domingo inicia um novo capítulo na história política brasileira.
Para entender esse fenômeno, é preciso levar em consideração no mínimo três grandes fatores: a rejeição popular ao consórcio Lula-Moraes (PT-STF) em virtude de seus próprios erros e abusos; a reunificação da direita nacional; e a força política inconteste de Jair Bolsonaro.
Após pouco mais de um ano de governo Lula e praticamente cinco de implementação de uma ditadura do Judiciário no Brasil, os sinais do cansaço popular são evidentes. Da parte do Executivo, a reedição do modo petista de governar com aumento de gastos públicos exorbitantes, falta de transparência, evidências de corrupção por todo lado, aumento vertiginoso de invasões de terra nas áreas rurais e da insegurança pública nos centros urbanos, e manifestações absurdas de Lula que geram, inclusive, crises internacionais.
Da parte do STF, restrição à liberdade de expressão e promoção da censura nas redes sociais, perseguição aos críticos e à oposição, além de repetidas violações ao Estado de Direito que acabam empurrando as pessoas às ruas para dizer “chega!”. A fórmula para a revolta popular é histórica e conhecida, e o consórcio está a aplicá-la com muita competência.
A consequência dessa rejeição criada no seio da nação brasileira, corroborada pelos números revelados por institutos de pesquisa dando conta da queda da popularidade de Lula e da credibilidade do STF, é a união de campos políticos próximos, mas que ainda estavam afastados desde o fim do período eleitoral.
Como havia escrito em artigo anterior, repito: é apenas com o povo na rua que as ditaduras são vencidas.
Uma parte relevante dos eleitores e formadores de opinião que acreditaram ou até mesmo divulgaram uma falsa equivalência moral entre as candidaturas de Lula e Bolsonaro percebeu o equívoco cometido. O voto branco ou nulo desse eleitorado de direita ou de centro, em uma eleição tão acirrada, acabou possibilitando a vitória de Lula. Agora, felizmente, parcela expressiva desse eleitorado está consciente da situação em que nos encontramos e certamente acabará por atrair quem ainda não está para engrossar o caldo da oposição a Lula nos próximos meses.
Em terceiro lugar, Jair Bolsonaro demonstrou ao Brasil e ao mundo o tamanho de sua força política. Antes do evento da Paulista, a direita já tinha ido às ruas no Brasil durante esse novo governo Lula, mas sem a presença de Jair Bolsonaro – em uma ocasião, inclusive contra sua expressa vontade. Em todas as oportunidades, também estive presente: manifestação contra o PL da Censura, em Porto Alegre e pouquíssimas outras capitais (01/05/2023); contra a cassação do mandato de Deltan Dallagnol, em Curitiba (21/05/2023); e em solidariedade à família de Cleriston Cunha, o Clezão, o primeiro preso político brasileiro que morreu na cadeia, na Av. Paulista (26/11/2023). A adesão do público foi crescente, mas a explosão popular se deu apenas agora, com a convocação de Jair Bolsonaro para o evento em São Paulo no último domingo.
A condição jurídico-eleitoral de Bolsonaro, investigado e inelegível, é sobretudo uma consequência da situação política do país, dominada pelo agigantamento do STF e de seu braço eleitoral, o TSE. Tanto as investigações em curso contra o ex-presidente como a inelegibilidade que lhe foi imposta são, claramente, frutos de implacável perseguição política em processos eivados de falhas jurídicas e ilegalidades.
É evidente que ninguém pode estar acima da lei, nem Lula nem Bolsonaro. Mas quando investigações são conduzidas de forma ilegal ou são, até mesmo, risíveis, como é o caso do depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal sobre importunação de uma baleia Jubarte; e quando punições são aplicadas de maneira injusta e desproporcional, o resultado é a vitimização do investigado e, consequentemente, o crescimento de sua popularidade. Some-se a isso a crescente rejeição já mencionada ao consórcio PT-STF e têm-se como resultado a massa que foi às ruas atender ao chamado de Bolsonaro para defender o que é mais caro para uma nação livre: a correta aplicação das leis e, portanto, a defesa do Estado de Direito e da Constituição.
A manifestação de domingo inicia um novo capítulo na história política brasileira. Bolsonaro apostou e, talvez, até mesmo arriscou alto ao chamar às ruas o povo no momento de maior fragilidade, quando muitos davam como certa a sua prisão e as ameaças veladas e covardes feitas via imprensa davam conta de que poderia sair preso inclusive do evento, por exemplo, se dissesse “um ai” do Supremo.
Bolsonaro, apesar dos riscos de fracasso de público ou de prisão, acertou: independentemente dos rumos dos processos contra si, Lula, o STF, o Brasil e o mundo viram o tamanho da força daqueles que discordam do que ocorre hoje na política brasileira. Como havia escrito em artigo anterior, repito: é apenas com o povo na rua que as ditaduras são vencidas. E concluo da mesma forma: no Brasil, não será diferente.
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