Enquanto Bolsonaro era difamado como uma ameaça à democracia para grande parte da mídia nacional e internacional, Lula era incensado como o democrata que salvaria o Brasil das trevas. O petista, apesar de condenado e preso por corrupção no Brasil num passado bastante recente, viajava o mundo ainda como candidato à Presidência recebido com pompa e circunstância por políticos de países que jamais elegeriam um ex-preso por lavagem de dinheiro para o mais alto cargo político do país, a exemplo de França, Bélgica e Alemanha.
A narrativa funcionou: Lula emplacou a volta à Presidência e hoje viaja o mundo como chefe de Estado. O problema da narrativa, porém, é que ela não resiste aos fatos – sobretudo quando lhes são tão flagrante e abundantemente contrários. A reaproximação do Brasil com a “democracia relativa” da Venezuela de Maduro; a recusa em condenar os crimes de Ortega na Nicarágua; o apoio aos terroristas do Hamas no conflito israelo-palestino, com direito a ser o primeiro presidente da República declarado persona non grata por outro país; e a congratulação a Putin pela sua “reeleição” recente, amplamente contestada e criticada por todas as mais importantes democracias liberais ocidentais, são apenas alguns dos exemplos mais extravagantes de uma política externa baseada em um misto de ideologia anacrônica e ressentimento escancarado.
Não adianta Lula esbravejar e tentar corrigir o rumo no grito em reuniões ministeriais: a queda de sua popularidade está diretamente relacionada com suas ações e vitupérios públicos.
A erosão da historieta petista de que Lula salvaria alguma coisa no Brasil ou representaria a democracia no exterior já está superada. Aqui ou além-fronteiras a narrativa dá, finalmente, lugar aos fatos: estamos nos aliando ao que há de pior em termos institucionais no mundo. No Congresso Nacional, conforme pesquisa do Ranking dos Políticos e divulgada também nesta Gazeta, mais da metade dos senadores e perto desse índice entre os deputados considera ruim ou péssima a política externa do PT. Especificamente sobre a relação de Lula com a ditadura venezuelana, já são três em cada cinco parlamentares que a consideram ruim ou péssima.
Quando cotejados os mandatos de Lula e Bolsonaro, também aí o petista passou a perder a disputa: há mais parlamentares que consideram a política externa de Lula pior do que a de Bolsonaro do que o inverso. Não é pouca coisa: a força da narrativa petista, que contou inclusive com o inestimável apoio da inconstitucional censura do TSE no período eleitoral sobre a amizade do então candidato com ditadores (o que vitimou até mesmo a Gazeta do Povo), hoje está de joelhos diante dos fatos.
Não é à toa, portanto, que Lula passou a tentar reverter sua condição cada vez mais consolidada de pária internacional. Quando a farsesca eleição venezuelana converteu-se na farsa da própria farsa, nem o chanceler Mauro Vieira conseguiu ficar calado. O impedimento feito pelo regime ao registro da candidatura de Corina Yoris, em substituição à também impugnada candidata da oposição, María Corina Machado, mereceu finalmente uma manifestação da diplomacia brasileira, ainda que tímida, em admoestação contra o país vizinho. Para confirmar o engodo, o regime de Maduro acusou o Itamaraty de ter terceirizado a redação da já tardia nota a escribas norte-americanos.
E assim, de impostura em impostura, a verdadeira face da tirania petista emerge. Não adianta Lula esbravejar e tentar corrigir o rumo no grito em reuniões ministeriais: a queda de sua popularidade está diretamente relacionada com suas ações e vitupérios públicos, inclusive (e com especial peso, por ter prometido algo completamente diferente), na arena internacional. Quem vendeu democracia agora entrega tirania, pois não há narrativa linda que consiga subsistir a fatos torpes.
A festa da direita brasileira com a vitória de Trump: o que esperar a partir do resultado nos EUA
Trump volta à Casa Branca
Com Musk na “eficiência governamental”: os nomes que devem compor o novo secretariado de Trump
“Media Matters”: a última tentativa de censura contra conservadores antes da vitória de Trump
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS