O “caminho sinodal” alemão e suas maluquices frontalmente contrárias à doutrina e à prática da Igreja Católica levaram duas pauladas recentes vindas do Vaticano. A primeira saiu das mãos do próprio papa Francisco, que respondeu a uma carta enviada por quatro mulheres que eram delegadas do “caminho sinodal”, mas pularam fora ao ver o rumo catastrófico que a coisa estava tomando. “Tenho preocupações sobre os numerosos passos concretos que grandes porções dessa Igreja local estão tomando agora, que ameaçam afastá-la mais e mais do caminho comum da Igreja universal”, disse o papa (a tradução é extraoficial, feita pelo site ACI Digital) na resposta às teólogas Katharina Westerhorstmann e Marianne Schlosser, à filósofa Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz e à publicitária Dorothea Schmidt.
Francisco mencionou especialmente a ideia de se criar um “órgão consultivo e de decisão”, afirmando que “a estrutura proposta não pode ser reconciliada com a estrutura sacramental da Igreja Católica” e que “a sua formação foi proibida pela Santa Sé numa carta datada de 16 de janeiro de 2023, que recebeu o meu apoio específico”. O papa lembrou outras ocasiões em que se dirigiu à Igreja na Alemanha e afirmou que não se deve “buscar por ‘salvação’ em comitês sempre novos e sempre discutir o mesmo assunto com uma certa concentração em si mesmo. Em vez disso, pretendi enfatizar novamente a importância da oração, penitência e adoração”.
Enquanto nenhum “sinodal” alemão tiver o mesmo destino do bispo Strickland, não vejo a menor possibilidade de um pé no freio
A carta de Francisco é datada de 10 de novembro; semanas antes, em 23 de outubro, o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, já havia sido bem mais explícito em uma carta enviada ao episcopado alemão e cujo teor só chegou ao público um mês depois. Parolin lembrou o episcopado alemão que o papa Francisco tem reafirmado o ensinamento de São João Paulo II na Ordinatio sacerdotalis a respeito da impossibilidade da ordenação sacerdotal de mulheres. Quanto ao comportamento homossexual, o secretário de Estado escreveu que “mesmo reconhecendo que, de um ponto de vista subjetivo, pode haver vários fatores que nos levam a não julgar as pessoas, isso de forma alguma muda a avaliação da moralidade objetiva desses atos”, referindo-se ao comportamento homossexual, não à tendência de atração por pessoas do mesmo sexo. Quanto a esta última, o Catecismo lembra que “a sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar”, limitando-se a condenar os atos homossexuais.
Tudo irrepreensível, tanto da parte do papa Francisco quanto do cardeal Parolin. Mas vai mudar alguma coisa? A Conferência Episcopal Alemã e a Comissão Central dos Católicos Alemães (ZdK), um órgão de leigos comprometido com as maluquices do “caminho sinodal”, já deram de ombros. O porta-voz da conferência, por exemplo, respondeu que a carta do papa foi endereçada a quatro mulheres, não aos bispos, e que a conferência não comentaria, afinal não são os destinarários. A ZdK foi ainda mais cínica: “agradecemos ao papa por este sinal claro de mais sinodalidade, com o qual nos sentimos intimamente ligados a ele”, afirmou a entidade, tentando inverter tudo. Se considerarmos que os alemães seguiram em frente apesar de todas as outras advertências já feitas, pelo papa ou por seus auxiliares diretos, a reação atual não surpreende nada.
O problema é que foi o papa quem “elevou o sarrafo” na hora de lidar com esse tipo de coisa, especialmente a partir do momento em que resolveu “demitir” o bispo Joseph Strickland. A tremenda imprudência do norte-americano ao citar ou compartilhar conteúdos que vão muito além da legítima crítica filial ao papa, somada com declarações complicadas de próprio punho no Twitter, não é muito diferente da rebelião aberta contra a fé católica promovida pelo “caminho sinodal” alemão. Um ano atrás, falei aqui de um texto antigo do então padre Jorge Mario Bergoglio chamado “Corrupção e pecado”, e que analistas como Austen Ivereigh apontam como a possível explicação para a diferença de tratamento dada por Francisco aos tradicionalistas e aos “sinodais”. Mas rebati afirmando que os “sinodais”, no fim, adotam o mesmo comportamento atribuído aos tradicionalistas, de se acharem donos da verdade, detentores da verdadeira interpretação do Evangelho em relação a temas morais, e por aí vai.
Há quem fale em cisma. Eu duvido que isso venha dos bispos “sinodais” alemães, porque eles precisam se manter dentro da estrutura institucional da Igreja para continuar tentando (tentando, porque conseguir eles não vão) mudar a doutrina; se saem por conta própria, causando um cisma, a estratégia desmorona. Enquanto nenhum “sinodal” alemão tiver o mesmo destino do bispo Strickland, não vejo a menor possibilidade de um pé no freio, e tudo que o Vaticano disser não vai passar de mais um entre vários outros avisos, que continuarão a ser ignorados como foram os anteriores.
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