A Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.| Foto: Basilica de la Sagrada Familia/Divulgação
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Sei que o país inteiro está ou comemorando ou lamentando (é o meu caso) a vitória de Lula no segundo turno e acompanhando os caminhoneiros brincando de fazer revolução, e percebo como é difícil, até para mim mesmo, lembrar que a política não passa de uma atividade humana como muitas outras, que não é um absoluto, que não é nela que devemos depositar todas as nossas esperanças. E por isso resolvi ignorar quase que completamente o tema na minha coluna de hoje (quase – mais abaixo tem um comentário curto) e oferecer a vocês um refresco, uma distração, o que for.

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Um dos locais mais impressionantes que já visitei na vida – e falo “locais” mesmo, não apenas igrejas – é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona. A construção dessa obra-prima avançou muito desde que estive lá, em 2014: a torre da Virgem Maria está completa, com uma estrela luminosa no alto, por exemplo. E as torres dos evangelistas também avançam. No último dia 17, a torre de São Lucas ganhou uma nova adição. Vejam aí fotos e um vídeo:

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Dizem que não existe nada supérfluo na Bíblia, nem na liturgia (mas não lembro de quem é a frase). Na Sagrada Família é a mesma coisa: tudo lá tem um significado, saído da mente tão genial quanto piedosa de Antoni Gaudí – e que Deus lhe conceda logo a glória dos altares. Os vitrais, as esculturas, os elementos arquitetônicos, os detalhes das torres, tudo tem um sentido. Trabalhar na Sagrada Família já foi até meio de conversão, como aconteceu com o escultor japonês Etsuro Sotoo. E eu trago ao leitor as palavras do papa Bento XVI, quando esteve em Barcelona para consagrar a igreja, em novembro de 2010:

“Neste ambiente, Gaudí quis unir a inspiração que lhe chegava dos três grandes livros que o alimentavam como homem, como crente e como arquiteto: o livro da natureza, o livro da Sagrada Escritura e o livro da Liturgia. Assim, uniu a realidade do mundo e a história da salvação, tal como nos é narrada na Bíblia e atualizada na Liturgia. Introduziu pedras, árvores e vida humana no templo, para que toda a criação se transformasse em louvor divino, mas ao mesmo tempo tirou os retábulos, para pôr diante dos homens o mistério de Deus revelado no nascimento, na paixão, na morte e na ressurreição de Jesus Cristo. Deste modo, colaborou genialmente para a edificação da consciência humana ancorada no mundo, aberta a Deus, iluminada e santificada por Cristo. E realizou algo que é uma das tarefas mais importantes hoje: superar a ruptura entre consciência humana e consciência cristã, entre existência neste mundo temporal e abertura a uma vida eterna, entre beleza das coisas e Deus como Beleza. Foi isto que realizou Antoni Gaudí, não com palavras, mas com pedras, traços, planos e cumes. E a beleza é a grande necessidade do homem; constitui a raiz da qual brota o tronco da nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convida à liberdade e extirpa do egoísmo.”

“Com a sua obra, Gaudí mostra-nos que Deus é a verdadeira medida do homem. Que o segredo da originalidade autêntica está, como ele próprio dizia, em voltar à Origem, que é Deus. Ele mesmo, abrindo assim o seu espírito a Deus, foi capaz de criar nesta cidade um espaço de beleza, de fé e de esperança, que leva o homem ao encontro com Aquele que é a Verdade e a própria Beleza. Assim o arquiteto expressava os seus sentimentos: ‘Um templo [é] a única coisa digna de representar o sentimento de um povo, já que a religião é o que existe de mais elevado no homem’.”

“Arquitetura sacra numa hora dessas, Marcio Antonio?” Então, numa hora dessas, sim. Para lembrarmos de onde devemos colocar nosso olhar e nossa esperança. Lembrarmos que presidente nenhum tem a capacidade de nos impedir de buscar a santidade, nem de criar bem nossos filhos e ensiná-los a buscar o verdadeiro, o bom e o belo, nem de dar testemunho cristão diante da família, dos amigos, dos colegas de trabalho, independentemente do número que cada um aperta na urna. Hoje comemoramos todos os santos, que viveram em circunstâncias as mais diferentes possíveis, épocas profundamente cristãs, épocas de desprezo pela religião, Estados confessionais católicos, Estados ateus perseguidores da fé. Mas todos eles souberam onde deveria estar seu coração. Pensando bem, é até providencial que a festa de hoje ocorra num momento como esse.

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Mensagens de cardeais a Lula não indicam absolutamente nada

Tem católico surtando com as mensagens dos cardeais dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo; de dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro; e de dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, ao presidente eleito Lula. Mas o piti não tem motivo algum. Primeiro, porque as mensagens não têm absolutamente nada de comprometedor ou anticatólico: parabenizam o petista pela vitória e prometem orações para que faça um bom governo. Não é o que a Bíblia nos pede em trechos como 1 Timóteo 2? Além disso, esse tipo de comunicado é habitual, e Jair Bolsonaro também recebeu os parabéns quando venceu em 2018. Aliás, comparem a mensagem enviada por dom Odilo a Lula com a que ele mandou a Bolsonaro quatro anos atrás: o texto é praticamente o mesmo. Então, não é esse tipo de manifestação protocolar que vai fazer dos cardeais “coroinhas de Lula”; vamos aguardar o momento em que Lula começar a aprontar das suas (porque esse momento virá, é certo) para ver como os principais nomes da Igreja no Brasil vão reagir.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]