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Sabem quando dá alguma zebra no processo de fabricação da cerveja e o mestre cervejeiro tem de jogar tudo fora? Pois foi o que a ala aloprada do “caminho sinodal” alemão teve de fazer na última quinta-feira com um documento que sugeria mudanças na moral sexual católica, alegando que ela está desconexa do Zeitgeist e propondo uma espécie de “vale tudo quando se ama”, liberando quase tudo, da masturbação à contracepção artificial, reconhecendo os atos homossexuais e os relacionamentos homoafetivos... acho que só faltou defenderem o direito a ter amantes. A Assembleia Sinodal submeteu o documento ao voto secreto e, apesar de o texto ter recebido o apoio de 83% de todos os membros, ele não conseguiu o voto de mais de dois terços dos bispos, requisito necessário para sua aprovação: foram 33 favoráveis, 21 contrários e duas abstenções.
Anunciado o resultado, vieram duas horas de choro e ranger de dentes. O bispo Georg Bätzing (presidente da conferência episcopal alemã), o cardeal Reinhard Marx e Irme Stetter-Karp (presidente do Comitê Central de Católicos Alemães, entidade de leigos) soltaram os cachorros, acusando os bispos de terem cometido traição, escondendo sua posição até a hora do voto – tudo bem dentro do roteiro daqueles falsos “democratas” para quem democracia só existe quando o resultado sai de acordo com a vontade deles. Tudo como se os bispos fossem obrigados a antecipar seu voto, ficando sujeitos à pressão dos demais membros da assembleia e dos próprios irmãos no episcopado, correndo o risco de acabarem ostracizados, já que a cúpula da conferência episcopal está comprometida com a lacração. Apesar da derrota do documento, Bätzing se portou como um autêntico mau perdedor e afirmou que levará o texto a Roma mesmo assim, quando fizer sua visita ad limina em novembro.
Bispos e leigos protagonizaram duas horas de choro e ranger de dentes após documento que pedia mudanças na moral sexual católica ter falhado em conseguir o apoio de mais de dois terços dos bispos em votação secreta
Mas os maus perdedores não pararam por aí e resolveram jogar mais pesado. Como havia outros documentos problemáticos a votar, eles simplesmente mudaram as regras e o voto passou a ser aberto. Um texto sobre a participação das mulheres na vida da Igreja passou com o apoio de 45 bispos, mas para isso foi preciso que Bätzing concordasse com uma proposta que dava mais ênfase à carta Ordinatio sacerdotalis, de São João Paulo II, que reafirma a proibição da ordenação de mulheres. De fato, o texto sinodal não pede abertamente o acesso das mulheres ao sacramento da Ordem, embora se esforce bastante em lançar dúvidas sobre o grau de infalibilidade do ensinamento reiterado por São João Paulo II.
O efeito da mudança nas regras com a bola rolando, no entanto, foi mais sentido na votação de outro texto, chamado “Uma reavaliação da homossexualidade no Magistério” e segundo o qual os trechos do Catecismo da Igreja Católica sobre o comportamento homossexual deveriam ser reescritos; o termo “atos homossexuais” deveria ser removido da lista de “principais pecados contra a castidade” no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica; e homossexuais não deveriam mais ser impedidos de ser ordenados padres. “A sexualidade homossexual, também praticada nos atos sexuais, não é um pecado que separa uma pessoa de Deus, e não deveria ser julgada como intrinsecamente má”, diz o texto. Se foram 23 os bispos que ajudaram a derrubar o primeiro texto sobre moral sexual, quando foi preciso declarar o voto essa quantidade caiu para 16, com oito contrários e oito abstenções (os favoráveis subiram de 33 para 40).
Vale a pena citar quem foram esses bispos que não cederam (embora eu não julgue os outros, realmente não sei a que tipo de pressão e que tipo de retaliação eles podem sofrer). Os oito contrários foram Gregor Maria Hanke (Eichstätt), Rudolf Voderholzer (Ratisbona), Stefan Oster (Passau), cardeal Rainer Maria Woelki (Colônia), Dominik Schwaderlapp (auxiliar de Colônia), Matthias Heinrich (auxiliar de Berlim), Florian Wörner (auxiliar de Augsburgo) e Rolf Steinhäuser (auxiliar de Colônia). Os oito que se abstiveram foram Bertram Meier (Augsburgo), Wolfgang Ipolt (Görlitz), Stephan Burger (Friburgo), Ansgar Puff (auxiliar de Colônia), Josef Graf (auxiliar de Ratisbona), Nikolaus Schwerdtfeger (auxiliar de Hildesheim), Stefan Zekorn (auxiliar de Münster) e Rupert Stolberg (auxiliar de Munique). Talvez eles passem a comer o pão que o diabo amassou nas mãos dos fiéis, de seu clero e de seus irmãos bispos, mas Deus saberá recompensá-los.