Eu tenho lá uma boa dose de reservas quanto à Campanha da Fraternidade. Não a ideia em si, mas a forma como ela vem sendo conduzida. Primeiro, o fato de ela coincidir com a Quaresma. Não adianta dizerem que dá pra complementar, que isso que aquilo. Nosso tempo e nossa atenção são limitados: ou você vai priorizar uma e ignorar outra, ou vai ter ambas pela metade, sem o aprofundamento necessário em nenhuma delas. Segundo, a enorme politização de alguns temas, com materiais que se distanciam bastante da Doutrina Social da Igreja para abraçar certas concepções políticas de esquerda, que acabam apresentadas como a “resposta católica” em assuntos nos quais o católico tem muita liberdade.
O tema da Campanha da Fraternidade de 2026 será “Fraternidade e Moradia” e já estava definido desde o primeiro semestre do ano passado. Mas, por algum motivo – acho que foi a realização de um seminário preparatório na CNBB na semana passada –, o assunto voltou à tona com uma reação negativa que eu acho exagerada demais. Como se fosse um enorme absurdo a Igreja ter escolhido a questão da moradia para discutir no ano que vem.
Sobre a Campanha da Fraternidade, sempre é bom recordar algumas poucas verdades. Primeiro, que ela sempre terá um tema social; é pra isso que ela existe. Não vamos ter CF sobre confissão, sobre Eucaristia, algum outro tema doutrinário, sei lá eu. Quem pega o texto-base de qualquer CF e fica fazendo aquelas “nuvens de palavras”, para mostrar que certos termos quase não aparecem, está querendo que a CF seja o que ela não nasceu para ser. Segundo, que a Igreja precisa, sim, se envolver na discussão sobre temas sociais, especialmente em um país cheio de problemas como o Brasil. Eu sempre lembro que o idealizador da Campanha da Fraternidade não foi nenhum bispo da Teologia da Libertação, mas dom Eugênio de Araújo Sales, que, se vivo estivesse hoje, seria facilmente descrito na imprensa como “ultraconservador”.
A Campanha da Fraternidade sempre terá um tema social; é pra isso que ela existe. E a Igreja precisa, sim, se envolver na discussão sobre temas sociais
E, terceiro, que a questão da moradia é um drama socioeconômico nacional. Só quem vive em uma bolha muito bem apartada do restante do país ignora as pessoas morando nas ruas, ou nas favelas, sem um mínimo de dignidade. Eu diria até que o tema da moradia é muito mais premente que alguns dos assuntos das últimas CFs. Nos últimos 20 anos já tivemos umas quatro ou cinco CFs sobre temas ambientais, mas a única Campanha da Fraternidade sobre moradia ocorreu em um distante 1993. Então, sim, considero muito feliz a escolha do tema. Estrilar por causa disso é um exagero.
A ideia é boa, mas... e a execução?
Em um aspecto, no entanto, eu preciso dar o braço a torcer: o problema dos críticos não é só com o tema em si (avaliação da qual eu discordo), mas com a maneira como ele será tratado, especialmente levando em conta que é ano eleitoral. E essa preocupação eu compartilho totalmente. Mas, ainda assim, considero que é muito cedo para saírem malhando a CF de 2026, simplesmente porque ainda não existe material nenhum que possamos avaliar. “Ah, mas as anteriores foram assim e assado”... certo, mas, como se diz no mercado financeiro, resultado passado não é garantia de resultado futuro. Vamos ser honestos e admitir que, agora, não temos elementos para fazer uma boa crítica.
Pode vir elogio às políticas habitacionais do governo Lula (seja lá quais forem, porque o Minha Casa, Minha vida está em marcha lenta)? Pode. E defesa de movimentos de invasão como o do Guilherme Boulos? Pode também. E, se o texto-base vier assim, entrarei sem titubear no coro dos críticos. Mas pode vir uma reflexão solidamente embasada na Doutrina Social da Igreja, para que aprendamos sobre a destinação universal dos bens e o legítimo direito de propriedade? É o que eu espero – e quem quiser já pode ir lendo os pontos 171 a 184 do Compêndio de Doutrina Social da Igreja, aprovado pelo papa Bento XVI. Se é o que vai acontecer eu não sei, mas não custa nada rezarmos para que seja assim. Lembrem-se de que foi essa atual gestão da CNBB que parou de publicar as enviesadíssimas Análises de Conjuntura – elas continuam sendo feitas e apresentadas ao Conselho Permanente, mas não aparecem mais no site da conferência episcopal, só no site do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara.
Instituto traz cardeal Gerhard Müller para evento sobre educação católica
O prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller, é o principal palestrante da Newman Conference 2025, evento voltado para famílias, educadores e religiosos católicos. A conferência ainda tem outros palestrantes estrangeiros especializados em educação clássica e homeschooling, como John Paul Thurau, Andrew Seeley e Ryan Messmore. Quem também falará é Carlos Nadalim, que foi secretário nacional de Alfabetização durante o governo Bolsonaro.
O presidente do Instituto Newman, Anthony Tannus Wright, afirma que o evento tem quatro grandes objetivos: democratizar o acesso à educação clássica, construir uma comunidade intelectual e de amizade, oferecer um modelo prático para escolas e famílias, e inspirar e estruturar a educação católica no Brasil. “Muitas iniciativas católicas no país surgem de maneira isolada e sem uma orientação clara sobre como começar e como aplicar a educação clássica na prática. Queremos mudar esse cenário, oferecendo tanto a base teórica quanto os passos práticos para quem deseja atuar na educação católica de forma estruturada, organizada e bem fundamentada”, diz Wright. Um dos meios de fazer isso, afirma o organizador da conferência, “é trazer exemplos práticos de sucesso, mostrando como escolas e faculdades católicas internacionais estruturam seus currículos e metodologias. Isso será útil tanto para educadores e diretores que desejam fundar escolas quanto para pais que fazem homeschooling”.
O convite ao cardeal Müller se deu porque ele estudou a obra de São John Henry Newman, fundador da Universidade Católica de Dublin. “Newman viveu em um período de grande crise na Inglaterra e na Irlanda, em razão do anglicanismo, e foi um defensor incansável da educação católica. Além disso, o cardeal Müller foi um dos principais colaboradores do papa Bento XVI e representa, de forma concreta, a importância da educação clássica na formação do pensamento católico: para compreender bem a teologia, é essencial um sólido conhecimento de filosofia e, antes dela, das artes liberais e da educação clássica”, afirma Wright.
A Newman Conference 2025 ocorre em 2 e 3 de maio, em São Paulo. As palestras em inglês terão tradução simultânea. As inscrições custam R$ 500 e já podem ser feitas no site da conferência.
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