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Uma coisa que deve tirar o sono de todo pai de família católico – este colunista incluído – é a fidelidade das escolas confessionais à doutrina da Igreja. Da escolinha de ensino fundamental do bairro até as PUCs espalhadas Brasil afora, infelizmente nem sempre uma instituição de ensino autodeclarada católica deixa a fé permear seu cotidiano e os conteúdos ali ensinados. Todos conhecemos bons e maus exemplos: há universidades católicas, por exemplo, onde não se faz pesquisa com células-tronco embrionárias – pelo menos da última vez que procurei saber, a PUCPR, aqui em Curitiba, estava entre elas; visitei o Laboratório de Terapia Celular para uma reportagem muitos anos atrás e o trabalho com células-tronco adultas era espetacular. Mas também há escolas que mutilam o ensino religioso para “não ofender os alunos de outras religiões” (sejamos sinceros: se a família não católica matricula a criança em uma escola católica, sabe muito bem o que está contratando, não?), ou que fazem coisa pior.
Nos Estados Unidos, uma escola jesuíta, a Nativity School, na cidade de Worcester, em Massachusetts, passou a hastear bandeiras do Black Lives Matter e do orgulho LGBT desde janeiro de 2021, a pedido dos estudantes. Dois meses atrás, o bispo de Worcester, Robert McManus, iniciou um diálogo com a escola, tentando explicar, com toda a paciência possível, que as bandeiras batiam de frente com a autodeclarada identidade católica da instituição de ensino, fundada em 2003 para atender alunos de baixa renda (muitos deles negros), do quinto ao oitavo ano do ensino fundamental. Como a conversa não deu em nada, no último dia 10 de junho McManus emitiu um decreto, tornado público na quinta-feira, dia 16, em que remove o status de “católica” da Nativity School. O Código de Direito Canônico, afirma McManus, exige autorização da diocese para qualquer escola que deseje se intitular “católica”, e o bispo ainda cita um documento recente do Dicastério para a Educação Católica sobre a identidade das instituições de ensino católicas. Antes mesmo da divulgação do decreto, a escola publicou um comunicado afirmando que apelaria da decisão do bispo e seguiria exibindo as bandeiras.
“Mas qual é o problema? A Igreja não é contra o racismo e a homofobia?”, haverá de perguntar alguém de boa fé (não a militância identitária; essa já está acusando o bispo de “espalhar ódio”). Obviamente que sim, e McManus deixa isso bem claro em seu decreto: “A Igreja Católica ensina que todas as vidas são sagradas e a Igreja certamente apoia a frase ‘vidas negras importam’, afirmando que todas as vidas importam”, diz o bispo. O problema é outro: “Entretanto, o movimento Black Lives Matter sequestrou a frase e promove um ideário que se opõe frontalmente ao ensino social católico sobre a importância e o papel da família nuclear, procurando minar a estrutura familiar em oposição clara aos ensinamentos da Igreja Católica”. De fato, é isso mesmo; se você duvida, pode gastar um tempinho examinando toda a extensa cobertura da Gazeta do Povo sobre o BLM; se não tiver tanto tempo assim, leia ao menos este artigo de Jon Miltimore, que trata justamente daquilo que o bispo McManus fala em seu decreto.
Quando matriculam seus filhos em uma instituição confessional, os pais deveriam ter a segurança de saber que a escola vai ajudar, e não desfazer, o trabalho de catequese que já deve vir (assim espero) de casa
E a bandeira do orgulho LGBT? Novamente, o problema não é o devido respeito às pessoas – todas elas, pois a dignidade humana é algo intrínseco, independentemente de cor da pele, sexo, religião, ideologia política ou orientação sexual –, mas a defesa de um estilo de vida. “A bandeira do ‘orgulho gay’ representa apoio ao casamento homoafetivo e o exercício ativo de um estilo de vida LGBTQ+”, afirma o bispo McManus. O Catecismo da Igreja Católica é bem claro a esse respeito, e reproduzo na íntegra o que ele diz sobre o tema:
“2357. A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atração sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.
2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.”
Em resumo, a discriminação é condenável; Deus ama e a Igreja acolhe a pessoa homossexual, mas pede a ela a mesma castidade que pede a qualquer católico heterossexual solteiro, pois o “estilo de vida” LGBT é contrário à moral católica. Há apostolados como o Courage, que ajudam os homossexuais a viver como a Igreja pede; fico me perguntando se a Nativity School não poderia ter, quem sabe, ajudado esse grupo a se instalar em Worcester; isso, sim, teria o apoio e a bênção do bispo McManus.
As escolas e universidades, bem sabemos, têm sido terreno para doutrinação ideológica e para a promoção de todo tipo de ideias que batem de frente com as convicções morais de muitas famílias. Quando matriculam seus filhos em uma instituição confessional, os pais deveriam ter a segurança de saber que a escola vai ajudar, e não desfazer, o trabalho de catequese que já deve vir (assim espero) de casa. E o bispo diocesano tem um papel importante em ajudar as famílias a ter essa tranquilidade, ao zelar pela identidade católica das escolas. Ninguém, seja pessoa ou instituição, é obrigado a ser católico; se escolhe sê-lo, o mínimo que se espera é coerência com o que a Igreja ensina. McManus fez o seu papel ao, primeiro, buscar o diálogo com a Nativity School e, depois, usar sua autoridade para retirar da escola o status de “católica”. Que muitos outros bispos tenham esse mesmo cuidado.