Foram inúmeras as previsões sobre o enfraquecimento de Jair Bolsonaro (PSL) durante a corrida presidencial. Começaram com a narrativa de que assim que suas ideias fossem expostas, ele iria desidratar. Depois com as entrevistas, quando ele seria finalmente desconstruído por experientes jornalistas. Mais adiante durante os debates, onde seria abatido por hábeis políticos pela sua falta de profundidade. Agora o foco é na falta do tempo de televisão, capaz de derrubá-lo assim que seus opositores voltarem suas baterias contra ele.
Fato é que as previsões sobre um possível derretimento de Bolsonaro expressam mais um desejo do que realmente uma análise do panorama político. Exatamente por isso acabam falhando. É o que chamamos na ciência política de wishful thinking, principal pecado daqueles que analisam cenários movidos pela paixão ou por suas preferências pessoais.
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Tudo leva a crer que Bolsonaro soube incorporar um sentimento de mudança presente na sociedade brasileira. Ao canalizar este anseio, construiu algo que vai além da sua candidatura, transformando-se em movimento. Reside neste ponto a dificuldade dos adversários em desconstruí-lo. Ao personificar a mudança, o capitão blindou sua imagem, tornando-se praticamente imune aos ataques tradicionais.
O momento histórico que vivemos é resultado de uma oscilação cíclica que expressa o tempo médio de fadiga do material político brasileiro. Este movimento, que visa romper com as estruturas tradicionais de poder, ocorre em média a cada três décadas e acaba por impulsionar o surgimento de uma nova correlação de forças. Foi assim com a redemocratização e a eleição de Fernando Collor em 1989, com a entrada dos militares no cenário político depois da eleição e renúncia de Jânio Quadros, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e a Proclamação da República.
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A representação do fim da monarquia (1889), seguida pela falência da República Velha (1930), do esgotamento do modelo trabalhista de Vargas (1960) e da pressão pelo fim do Regime Militar (1985) encontra paralelo com a fadiga da Nova República três décadas depois de iniciada. Isto explica o ímpeto renovador do eleitor, uma onda na qual Bolsonaro surfa com extremo conforto. Nestes casos, atacar aquele que soube se encaixar como porta-voz da mudança, com as armas e estratégias da política tradicional, apenas fortalece a imagem e mensagem daquele que apresentasse como outsider.
Este período, portanto, favorece a candidatura de Bolsonaro ou alguém de corte semelhante que saiba canalizar este sentimento do eleitor. Diante deste exercício, existe inclusive a ideia de que o resultado desta sucessão presidencial pode ir além do esperado, sepultando os alicerces da Nova República e abrindo espaço para uma nova correlação de forças que já está sendo chamada em alguns círculos de Sétima República.
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Se Bolsonaro irá vencer, ainda é uma incógnita, mas os elementos para uma vitória de alguém que se apresente como ruptura com as velhas estruturas de poder que emergiram com a Nova República estão presentes neste quadro eleitoral. Até onde irá a força do establishment para evitar esta ascensão é a grande questão que precisa ainda ser respondida.