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Bolsonaro, o anticandidato que vai chegar ao poder

Boneco de Jair Bolsonaro com fuzil e faixa presidencial: a personificação do anticandidato. Marcelo Andrade/Gazeta do Povo (Foto: )

Jair Bolsonaro surgiu neste ciclo eleitoral encarnando a figura do anticandidato, uma postura que não esteve presente apenas na campanha eleitoral. Pelo menos desde que o petismo chegou ao poder, o deputado tem mostrado o mesmo comportamento. Quando Lula estava no auge, era uma voz isolada que emitia sinais de protesto contra as políticas do governo. Agora que a onda virou a seu favor, tornou-se o principal representante da nova direita brasileira.

A figura do anticandidato veio acompanhada pelo discurso antissistema, algo que mexeu muito com o eleitorado neste ciclo. Resultado da Lava Jato e seus desdobramentos, que escancaram as práticas nada republicanas dos governos petistas, a população pedia mudança. Queria uma nova forma de fazer política e estaria disposta a renovar de forma profunda o sistema apodrecido. Bolsonaro, antipetista, encarnou a indignação contra a onda de corrupção que emanava das hostes lulistas. O eleitor assistia com prazer um representante do homem comum, com erros e acertos, dar voz ao seu sentimento de renovação e indignação.

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O momento é propício. Vivemos o ocaso da Nova República e do modelo social adotado pelo poder constituinte de três décadas atrás. O Brasil, saído do regime militar, absorveu um sistema de proteção e assistência social que estrangulou a capacidade de investimento dos governos e sufocou a iniciativa privada com altos impostos. O resultado não poderia ser outro senão a desorganização social e o aumento da criminalidade. Esgotado este ciclo, a população votou por reformar este modelo.

Costumo dizer que a cada três décadas o país flerta com a renovação do sistema político. Acontece assim desde o advento da República. O modelo atual encarou seu primeiro sismo com as manifestações de 2013 e desde então começou a amadurecer a ideia de reforma do mundo político. O ápice deste processo ficou evidente com a profunda renovação que o eleitor impôs ao Parlamento e com a elástica margem de votos obtidos por Bolsonaro que por muito pouco não levou a vitória no primeiro turno.

Bolsonaro não foi o único a escutar o brado das ruas, mas foi aquele que melhor forneceu corpo ao movimento, dando forma e voz a uma parcela indignada de uma população que clama por mudanças profundas no sistema político. Dificilmente o eleitorado mudará o curso natural de suas intenções. A tendência das pesquisas mostra que o voto segue firme em seu propósito de sacudir as estruturas da política nacional.

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Diante da vitória iminente de Bolsonaro, estamos também prestes a encarar a mudança do modelo político atual. O novo Parlamento aliado a um governo de corte conservador tende a realizar mudanças na estrutura política nacional iniciando um novo ciclo que deve durar mais três décadas. O mandato robusto fornecido pelas urnas fornecerá legitimidade para mudanças sensíveis que podem colocar em xeque especialmente o modelo de presidencialismo de coalizão.

Possivelmente veremos uma governabilidade calcada em novas estruturas e liderada por uma bancada de direita, que somando liberais e conservadores atinge 60 deputados, mas que pode facilmente alcançar os 80 parlamentes com as adesões esperadas em função da cláusula de barreira que começará a varrer da política as legendas de aluguel.

Bolsonaro conduziu uma anticampanha ao adotar as redes sociais como instrumento de comunicação com o eleitor e cruzar o país mais perto do povo do que da política. Temos, portanto, um anticandidato, a bordo de uma anticampanha com uma pauta antissistema. Isto era música para os ouvidos do eleitor desencantado, irritado e indignado com a corrupção, o petismo e os políticos tradicionais.

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Ninguém soube escutar melhor o som das ruas e dar voz a uma parcela da população que se tornou maioria. Por tudo isso, Bolsonaro está diante de uma vitória maiúscula, mas que, além do júbilo, traz uma carga enorme de responsabilidade.

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