Em Brasília, eleitores do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) concentram a comemoração pela vitória na Esplanada dos Ministérios. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil| Foto:

Estamos diante de uma mudança profunda, geracional, na política brasileira. A eleição de Jair Bolsonaro é apenas o ápice de um processo que começou em 2013 e ainda terá capítulos adiante. Este marco temporal representa o final da Nova República e do arranjo institucional pós-regime militar. Estamos diante da Sétima República, um modelo de organização política que deve se consolidar por três décadas.

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O processo que levou até a Nova República iniciou com o desgaste e distensão do período militar. Teve como marco inicial a anistia em 1979, passou pela eleição dos governadores em 1982, a escolha de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral em 1985, a Constituição de 1988 e teve a eleição Collor em 1989 como ápice de um processo que ainda viu o impeachment em 1992 e a estabilização econômica em 1994. A partir daí surge a dualidade entre a social democracia tucana e o sindicalismo petista, duas vertentes de esquerda que se revezaram no poder ao longo dos anos.

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A fadiga do modelo institucional começa a aparecer em 2013. As manifestações populares pelo Brasil tinham caráter difuso, o que representava o desgaste do sistema político e social vigente calcado na Constituição de 1988. A população, decepcionada com os resultados do modelo de bem estar social preconizado pela Carta, pedia mudanças.

Ao estrangular a mobilidade orçamentária dos governos federais, tornou-se quase impossível a implementação de mudanças reais. Hoje, com praticamente 94% das despesas obrigatórias, o governo vive engessado dentro de obrigações constitucionais. Se considerarmos que dentro dos gastos discricionários ainda existe a obrigação de incluir os restos a pagar, estamos diante de 98% de despesas obrigatórias. Há um estrangulamento real da capacidade de mobilidade do governo diante deste rigidez constitucional.

Por isso estamos diante da possibilidade de revisão de nosso arranjo institucional desenhado pela Nova República, remodelando o modelo de Estado, que significa reformar e recolocar o país dentro de um novo rumo. Este parece ser o caminho da chamada Sétima República, que passa por construir um Estado enxuto com menos obrigações. O modelo constitucional atual construiu um modelo de bem estar social inviável, que entrou em colapso sem conseguir entregar resultados reais para a população.

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A eleição de Bolsonaro é o ápice de um processo que aos poucos irá encontrar acomodação. Diante do sucesso, é possível que desenhe um novo modelo de Estado, assim como fez Getúlio Vargas, mas diante do fracasso, pode acelerar um processo de autoreorganização do sistema, como ocorreram nos ciclos iniciados em 1960 e 1989. Por enquanto, o presidente eleito ainda é a soma dos anseios e desilusões de diversos grupos, que se juntaram em torno de seu nome como forma de frear o avanço de um modelo anacrônico que não conseguiu entregar ganhos reais para o brasileiro.

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Tudo indica que este novo caminho passa pela direita política. O conservadorismo mostrou força nas eleições deste ano impulsionado pela onda Bolsonaro. Para se manter, tornar-se um movimento forte e de massas, precisa se organizar, criar um sistema orgânico e mobilizado, capaz de se conectar diretamente com a população e suas pautas. O conservadorismo, que sempre esteve presente como um traço essencial do brasileiro, precisa agora penetrar nos tecidos sociais como movimento para tornar-se sólido como força política.

A eleição de Bolsonaro, algo previsível diante dos ciclos políticos históricos, começa um processo de encerramento do período da Nova República. Destes anos, carrega-se avanços fundamentais, mas também aprendizado com os erros. A construção deste novo arranjo republicano, tudo indica, passa pela direita, assim como o último ciclo anterior permeou a esquerda.

Este movimento pendular é algo sadio para a democracia. A renovação sacode as estruturas de poder e sua forma desgastada de lidar com a política. Certamente passaremos por um período de reformas profundo, tanto nos valores morais, como na estrutura do Estado e seu arranjo social. Estamos diante de uma mudança muito mais profunda do que se supõe.