Nelson Almeida/AFP| Foto:

Diante da ascensão em 2002, o petismo viu sua imagem se confundir com aquele que era finalmente eleito para o Planalto. A chegada de Lula ao poder lançou as bases do que se convencionou chamar de Lulismo. Um fenômeno político que atravessou a década, fez uma sucessora, influenciou líderes latino-americanos e neste momento enxerga seu ocaso diante do surgimento de um movimento conservador.

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Em um primeiro momento, os pilares deste modelo foram importados do governo tucano: o equilíbrio das contas públicas, baseado no tripé macroeconômico do Plano Real e a remodelagem dos instrumentos de redistribuição de renda idealizados por Ruth Cardoso, envelopados agora sob o nome de Bolsa Família. Este binômio foi responsável por impulsionar a agenda lulista, consolidando seu nome como representante oficial de algo que rompia as fronteiras petistas.

De outro lado, a face oculta se articulava no Parlamento usando métodos nada convencionais. A remuneração mensal de congressistas aliados em troca de apoio se constituiu como um pilar sólido na construção da base de apoio, especialmente na Câmara dos Deputados. O esquema, financiado pelo superfaturamento de contratos do governo, tornou-se conhecido como mensalão.

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Mesmo estando no epicentro do terremoto político, o Lulismo conseguiu fornecer envergadura eleitoral para que seu líder alcançasse a reeleição. A estabilidade econômica e o boom das commodities na frente externa abasteceram o governo de dólares e otimismo.

Neste momento, começa a ruir um dos pilares que mantinham o modelo em funcionamento. As bases para o desgaste são lançadas ainda no segundo governo Lula, com os primeiros ensaios populistas que levariam até a nova matriz, que colocaria a economia brasileira em colapso.

Os altos índices de popularidade alcançados mediante um crescimento artificial da economia promovido pelo governo acabam por ajudar o petismo, rebatizado de Lulismo, a fazer seu sucessor. A chegada de Dilma Rousseff ao poder acelera os desajustes do modelo ao invés de consertá-los. O desenvolvimentismo entra na agenda, mas as contas públicas não conseguem suportar o ufanismo nacionalista por muito tempo.

Ao invés de corrigir o erro, voltando ao poder em 2014 para ajustar a economia e refundar seu movimento, Lula recua diante da insistência de Dilma em alcançar um segundo mandato. Neste momento, um binômio ameaçava o Lulismo. Em um dos pilares estava a fadiga do modelo social imposto pela Constituição de 1988, expresso nas manifestações de 2013, e do outro o desequilíbrio das contas públicas. Uma soma que faria o potencial eleitoral dos programas de redistribuição de renda ser pulverizado em pouco tempo. O tripé lulista entrava em esgotamento.

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O processo que começa em 2013 se acelera com o impeachment em 2016 e a derrocada do petismo nas urnas municipais no mesmo ano torna-se um duro golpe. O avanço da Operação Lava Jato escancara as práticas do partido, que não havia mudado desde o mensalão. Ao contrário, a organização criminosa que assaltava os cofres públicos cresceu em tamanho e sofisticação, promovendo desvios milionários na Petrobras, o que convencionou-se chamar de petrolão.

Em 2018, já distante do poder, o Lulismo encara seu mais importante episódio: a prisão de seu líder por corrupção. Já com o modelo agonizando, o partido resolve reagir lançando a candidatura de Fernando Haddad. De nada adianta. Apesar de chegar ao segundo turno, as forças de reação do Lulismo, que formam a nova direita brasileira, já estão organizadas, impulsionadas por movimentos de rua, como o MBL, e um líder consolidado, Jair Bolsonaro.

O anoitecer do Lulismo começa quando o líder petista opta por abandonar os pilares do Plano Real, mas se intensifica pelo esgotamento do modelo social-constitucional de 1988 e a tentativa de Dilma reinventar as estruturas de poder parlamentar. O ápice ocorre com as ações da Lava Jato, que escancaram as práticas do partido, encarcerando seus líderes.

A renovação pela direita é uma clara resposta da sociedade ao esgotamento do modelo imposto pelo PT desde que chegou ao Planalto. Esta reação, sepultando o Lulismo, pode lançar as bases de um novo modelo de Estado, tudo indica, calcado no conservadorismo social e no liberalismo econômico. Uma mudança profunda, que se realmente se consolidar, sepultará em definitivo a aventura petista, transformando o Lulismo em um simples verbete do dicionário político nacional.

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