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Os grupos políticos tradicionais tendem a apoiar candidatos de qualquer espectro ideológico, desde que não mexam com os nichos de poder já ocupados por seus representantes. Esta é a lógica do presidencialismo de coalizão, em vigor desde o advento da Nova República. Aqueles que tentam subverter esta lógica são substituídos como forma de resgatar seu funcionamento e operação. Foram os casos de Collor e Dilma.

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A missão de Temer, longe de ser um governo reformista, foi de resgatar o funcionamento da máquina, que se encontrava completamente desequilibrada depois das recentes administrações petistas. Somente um governo ajustado consegue fazer com que as estruturas de poder se movam em seu favor e de seus aliados.

Temer conseguiu ser efetivo em suas investidas, uma vez que a gradual recuperação da economia devolveu fluxo aos investimentos estatais que alimentam as estruturas partidárias. Sua tarefa estava cumprida, devolvendo viabilidade ao sistema, que voltou a operar sob condições normais. Além disso, o núcleo palaciano conseguiu frear as investigações em curso, trocando atores e atuando em consenso com parceiros em outros poderes. O fluxo foi normalizado aos poucos por todos os lados.

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O terceiro ato, contudo, ainda não foi completado, pois passa pelas eleições deste ano. Entre os postulantes falta um nome, com condições reais de vitória, que acomode as forças políticas em seus locais tradicionais sem mudanças bruscas. A escolha de Geraldo Alckmin parecia viável, pois juntaria uma sensação de ruptura para a população, com certeza de continuidade para os políticos, mas até o momento não gerou resultados.

Diante disso, o poder tradicional começa a pensar em alternativas e apostar suas fichas. Fernando Haddad entra no páreo como o nome que pode acomodar estes atores em um eventual governo petista, onde todas as forças já conhecem seu lugar e funcionamento. Na ausência de Lula, que sabia manobrar este equilíbrio de forma habilidosa, o ex-prefeito de São Paulo pode se tornar o nome capaz de fazer um governo de coalizão, que realize esta manutenção dos aliados habituais.

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Fato é que existe neste momento uma sensação de incerteza muito grande entre os políticos, pois é a primeira vez desde a redemocratização que os grupos tradicionais chegam às vésperas do pleito sem um nome competitivo. As tentativas de barrar seus opositores foram tão infrutíferas quanto as manobras em gestar novos candidatos alinhados com o establishment.

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Se a tendência se confirmar, provavelmente enxergaremos um segundo turno disputado entre uma proposta de ruptura e a opção pela continuidade, representada por uma ampla aliança dos partidos mais conhecidos. Um capítulo que deve finalmente sepultar o suposto duelo entre as forças que disputam o poder há mais de duas décadas.