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Marina Helena

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Milei e Wonka dão verdadeira aula básica de economia às elites

O presidente da Argentina, Javier Milei, durante seu discurso em Davos nesta quarta-feira (17) (Foto: EFE/EPA/GIAN EHRENZELLER)

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A participação de Milei no Fórum Econômico Mundial tem tido uma repercussão global impressionante. Somadas, as publicações de Elon Musk da íntegra do discurso de Milei em espanhol e traduzidas por inteligência artificial para o inglês já atingem quase 70 milhões de visualizações. Na página do Fórum Econômico Mundial, a fala de Milei é, de longe, o discurso mais visto.

Quando assisti pela primeira vez, me impressionei com sua clareza e simplicidade. Em um dos grupos de discussão, um professor que admiro disse que aquele discurso em um fórum repleto de líderes globais parecia um pouco fora de contexto, por ser semelhante a uma aula introdutória para alunos de graduação em economia. Ele não deixa de ter razão e talvez seja isso mesmo que o mundo esteja precisando, e nossos líderes ainda mais: noções básicas de economia.

A humanidade viveu milhares de anos na extrema pobreza, até que, a partir da revolução industrial, há 200 anos, tudo mudou. As trocas voluntárias, o livre mercado, o direito de propriedade, pilares essenciais do capitalismo, geraram riqueza e reduziram a pobreza de forma sem precedentes na história.

Na página do Fórum Econômico Mundial, a fala de Milei é, de longe, o discurso mais visto

Nathan Rothschild, barão britânico e banqueiro, morreu em 1836 por um furúnculo inflamado. Ele não só foi o homem mais rico da sua geração: a revista Forbes o considera o segundo homem mais rico que já viveu. Todo o seu patrimônio não foi capaz de salvar da morte um homem tão próspero por um motivo tão absurdo visto de hoje, que poderia ser resolvido com um antibiótico acessível ao indivíduo mais pobre na atualidade.

Milei se esbalda nos dados: “Após a revolução industrial, o PIB per capita mundial se multiplicou por mais de 15 vezes, gerando uma explosão de riqueza que tirou da pobreza 90% da população mundial. Em 1800, cerca de 95% da população mundial vivia na pobreza extrema, enquanto esse número caiu para 5% em 2020, antes da pandemia”.

O presidente argentino também compara países com mais liberdade econômica com aqueles com maior intervenção do estado. A renda per capita dos países entre os 25% mais livres do mundo é de cerca de 48,6 mil dólares, quase oito vezes maior que a renda dos países entre os 25% menos livres, de 6,3 mil dólares. Além disso, a expectativa de vida é de 16 anos a mais nos países mais livres.

Milei então deixa claro que todas essas conquistas estão em risco: “Sei que para muitos pode parecer ridículo afirmar que o Ocidente se voltou para o socialismo, mas isso só é ridículo na medida em que se restringe à definição tradicional de socialismo, onde o estado é o dono dos meios de produção. Hoje, os estados não precisam controlar diretamente os meios de produção para controlar cada aspecto da vida dos indivíduos. Com ferramentas como a emissão monetária, o endividamento, os subsídios, o controle das taxas de juros, os controles de preço e as regulações para corrigir falhas de mercado, podem controlar os destinos de milhões de seres humanos.”

Milei também explica que “se medidas que dificultam o livre funcionamento dos mercados, a livre concorrência, os sistemas de preços livres, se o comércio é dificultado, se a propriedade privada é atacada, o único destino possível é a pobreza.” O novo presidente da Argentina termina com um apelo aos empresários: “Não se entreguem a uma classe política que só quer se perpetuar no poder e manter seus privilégios. Vocês são heróis. Se vocês ganham dinheiro é porque oferecem um produto melhor, um preço melhor, contribuindo para o bem-estar geral. O estado não é a solução. O estado é o próprio problema”.

Assisti seu discurso algumas vezes, e em determinado momento senti uma certa ingenuidade. Não tenho dúvida de que os empreendedores que se arriscam, quebram, persistem, inovam, são os heróis da humanidade. Mas sabemos que, infelizmente, o Brasil e o mundo padecem em um capitalismo torto, de compadrio, em que elites e o estado se retroalimentam buscando proteção e sua perpetuação no poder. No ano que passei em Brasília, vi de perto que quanto maior o tamanho do estado, mais sujeito ele está a ser capturado por grupos de interesse. O trabalhador comum não tem acesso aos políticos. O microempreendedor não tem acesso aos gabinetes. As elites têm.

Assisti ao filme Wonka com a minha filha e ele ilustra bem isso. Os grandes empresários do chocolate subornam o chefe de polícia para evitar que o rapaz entre no mercado e venda seus chocolates, mais gostosos, por um menor preço. Eles usam o poder coercitivo do estado para evitar a concorrência. O filme tem um final feliz: Wonka e o livre mercado prevalecem. O Ocidente está em risco devido à omissão, mas também à atuação propositada das nossas elites.

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