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Quando comecei a escrever esta coluna, a última do ano, surgiu a notícia de que a eficácia da CoronaVac é de 91,25%. Pelo menos na Turquia. Por aqui, o Instituto Butantan adiou o anúncio dos números precisos sob o argumento de que a Sinovac, desenvolvedora do imunizante, havia preferido unificar a divulgação dos dados em todos os países.
Embora o funcionamento da vacina em si não esteja em pauta, a frustração foi inevitável. Pior, só a oportunidade oferecida aos negacionistas para destilarem seu fel.
AstraZeneca e a própria CoronaVac devem mesmo ser as responsáveis por imunizar a maioria dos brasileiros. O motivo da angústia generalizada — estranha aos olhos do ministro Eduardo Pazuello — é a constatação de que todos os esforços para sairmos deste momento se dão apesar do governo. Não por sua causa.
Ao contrário do que acontece em relação ao desempenho da CoronaVac, não há dúvida sobre a eficácia de Jair Bolsonaro para governar o Brasil. Ela equivale à sua capacidade de se comover com o luto de quase duzentas mil famílias.
Dizer que o presidente errou em tudo desde o início do flagelo seria um eufemismo. Enquanto dezenas de milhares de brasileiros morriam, sua postura variou entre a irracionalidade e o deboche. Entre a insensatez e o crime.
Desfiar o escárnio é fundamental. E não só por uma questão de registro, mas porque Bolsonaro já engendra narrativas para empanar a maior tragédia imposta por um governo na história da República. Incluindo a ditadura militar.
Jair Messias Bolsonaro, presidente do Brasil, içou a bandeira da anticiência, zombou do sofrimento do povo, prescreveu remédios inúteis, sabotou os esforços por medidas que diminuíssem o contágio, promoveu aglomerações e desdenhou da doença. Tudo intercalado com passeios de jet-ski e uma exposição de roupas usadas na sua posse.
Dia desses, em conversa aparentemente franca com um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro, Jair chamou o aumento da proliferação do Sars-Cov-2 de “repique”. Para além de mais uma mentira — de pequena essa nova onda não tem nada —, o termo se encaixa perfeitamente na ameaça que a sua reeleição em 22 representa.
Assim como a pandemia, o governo de Jair Bolsonaro não será eterno. Todavia seu fracasso no enfrentamento da Covid-19, às expensas de tantas vidas perdidas, jamais será esquecido.