No futuro, dificilmente não nos lembraremos de 2020 como o pior ano de nossas vidas. Morrer está no roteiro, mas morticínio provocado por um algoz invisível é outra conversa. Insuflados pelo Estado, negacionismo e alarido anticientífico tornaram massacrante um momento que já seria trágico.
Enquanto escrevo estas linhas, a pandemia ensaia uma segunda onda, e as eleições municipais ainda não foram concluídas. As últimas semanas, entretanto, apontam para um futuro melhor do que se poderia imaginar.
Donald Trump perdeu nos Estados Unidos, Jair Bolsonaro foi fragorosamente derrotado em São Paulo e tudo indica que também o será no Rio, vacinas estão por detalhes. Melhor, só se o presidente renunciasse.
O futuro é alvissareiro, mas antes ainda vai piorar. E piorar bem.
O auxílio emergencial concedido pelo governo para socorrer os mais necessitados durante a pandemia foi além do que o país poderia arcar. Não bastasse isso, é evidente o desinteresse de Bolsonaro em promover reformas fundamentais para controlar o desequilíbrio fiscal e o agravamento da inflação.
Tão débil quanto divorciada da realidade, a narrativa oficial já está pronta: o grande responsável pela debacle econômica foi o isolamento social, e o capitão se posicionou contra ele desde o início. Quanto ao auxílio, a culpa é toda do Congresso.
Afora parolagens que não geram emprego e muito menos enchem a geladeira, a verdade é que a conta não fecha. Por isso, deixar de imaginar um ambiente de polarização ainda maior durante os próximos dois anos, impulsionado pelo desemprego de milhões de brasileiros, não é tarefa fácil.
Para completar o cenário, resta ver se a oposição será capaz de se unir para enfrentar a ambos em 2022: Jair Bolsonaro e a dicotomia que alimenta o extremismo no país.
Concordar que o atual governo é o pior em toda a história da República não bastará. Assim como os Democratas fizeram nos Estados Unidos, a formação de uma chamada frente ampla passará por definir um nome que de fato encarne o espírito da terceira via.
Isso se o PT e a parte da esquerda ainda refém de sua influência tiverem a sensibilidade para entender o momento.
Os desafios são enormes; o tempo urge. Ao final de um ano tão duro, porém, os sinais são alentadores.
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