Eis que Carlos Bolsonaro, sempre ele, resolve impor ao governo mais um momento de instabilidade política. Ao governo e também ao país, dada a proximidade do debate a respeito da reforma da Previdência, o fato de o ministro Gustavo Bebianno ser um aliado de primeiríssima hora da gestão e também peça fundamental no trabalho de interlocução junto à Câmara — haja vista a sinalização do deputado Rodrigo Maia logo após ter sido eleito presidente da Casa.
Digo sempre ele pois de fato não é a primeira vez, e tem toda a pinta de não ter sido a última, que o vereador carioca adotou uma postura descompensada nas redes sociais, com potencial para respingar no governo comandado pelo próprio pai. Contudo, seria injusto ignorar a capacidade de seus dois irmãos para fazer estragos. Eduardo, o pretenso chanceler oculto, e Flávio, o senador envolvido até as tampas no imbroglio Fabrício Queiroz, quem sabe até mesmo com milícias.
Isso posto, tal frequência de manifestações ininteligíveis acaba por construir uma percepção seguida de um veredicto: Carlos não bate bem. Não que seja um louco contumaz, alguém que devesse estar amarrado em uma camisa de força ou coisa do tipo, mas o certo é que não regula como a maioria das pessoas. Ou pelo menos não como se espera de um representante da sociedade. Assim, o veredicto é de que por este motivo não merece ser levado a sério. De que basta ignorá-lo, pois no fim das contas se trata de apenas mais um doido em meio a tantos amalucados rondando o primeiro escalão do governo.
Tenho dúvidas sobre a tese, mas já não vejo sentido em alimentar o desdém.
Bem ao contrário, o momento impõe um exercício: até onde vão o amadorismo e a inabilidade política da nova gestão e começa o esforço direcionado para a autossabotagem?
Sim, porque, insisto, não faz sentido crer que às vésperas da Previdência ser debatida o sujeito considere razoável expor a administração, nutrindo desconfiança na classe política. Não à toa Rodrigo Maia telefonou para Paulo Guedes alertando para o risco que a reforma correria caso o ministro da Secretaria-Geral da Presidência fosse derrubado.
E aí, se não faz sentido crer que o sujeito ache razoável tal movimentação, e já deixamos de lado a teoria do filho-doidivanas-café-com-leite, cabe perfeitamente suspeitar: estaria o presidente sindicalista, que passou toda a vida política próximo da esquerda, defensor da ideia de um Estado-mãe e avesso a reformas liberais, criando ruídos com o propósito de dificultar essas mudanças?
Algum desavisado pode até achar que estou sendo duro em demasia com o governo, mas na verdade essa suposição é da maior benevolência possível, em se tratando de uma gestão que já impressiona tão negativamente: parto do princípio que Jair Bolsonaro e sua prole não são burros e nem tampouco malucos.
Pois que sejam tomados como espertalhões, ainda que desastrados. Apenas se forem encarados assim, sem idolatria e muito menos paternalismos, poderão ser cobrados como merecem, pelo status que o pai ocupa e do qual os filhos abusam.
De todo modo, ainda que não se dê de maneira intencional, essa autossabotagem precisa parar, sob pena de arrastar consigo o país.
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